Israel inova com construção de cemitérios verticais

Israel inova com construção de cemitérios verticais

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Israel inova com construção de cemitérios verticais


À primeira vista, essa selva de concreto de múltiplos pavimentos à beira de uma grande rodovia no centro de Israel não parece incomum, em uma cidade de edifícios altos e insossos. Mas as torres que estão sendo erguidas podem ser consideradas inovadoras se você levar em conta seus futuros inquilinos: elas servirão de lar aos mortos, e não aos vivos.

Com os preços dos imóveis em disparada, Israel está na vanguarda de um movimento mundial de construção de cemitérios verticais, em países densamente povoados. Do Brasil ao Japão, cemitérios elevados, às vezes de altura considerável, servirão de repouso final a milhares de pessoas. E agora se tornaram a opção padrão para as pessoas mortas recentemente, na Terra Santa.

Depois de alguma hesitação inicial e de decisões rabínicas que consideraram a prática como kosher, as sociedades funerárias ultraortodoxas de Israel adotaram o conceito como a prática judaica mais efetiva, em uma era na qual a maioria dos cemitérios em grandes centros populacionais está superlotada.

"A fonte disso tudo é que simplesmente não há espaço", disse Tuvia Sagiv, arquiteto especializado em projetos para complexos de sepultamento denso. "É irracional que vivamos uns sobre os outros em edifícios altos de apartamentos mas queiramos morrer em casas de campo. Se já aceitamos viver uns sobre os outros, então também podemos morrer uns sobre os outros".

O cemitério Yarkon, nas cercanias de Tel Aviv, é seu mais conhecido projeto. Como cemitério primário para a região da Grande Tel Aviv, seu espaço tradicional de sepultamento está praticamente esgotado, com 110 mil sepulturas em um terreno de 60 hectares. Mas graças a um conjunto de 30 estruturas verticais planejadas, Sagiv diz que o cemitério poderá oferecer mais 250 mil túmulos sem ampliar o terreno que ocupa, o que proverá mais 25 anos de capacidade de sepultamento para a região.

"Demora um pouco para que as pessoas se acostumem à ideia", disse Sagiv, do topo do primeiro edifício de 22 metros de altura concluído no cemitério. "Mas é a ideia que faz mais sentido".

Por enquanto, o interior dos edifícios cinzentos ainda está com cara de canteiro de obras. Eles oferecem rampas circulares e uma fachada em terraço, com vegetação. Cada um dos pisos tem aberturas laterais para que o ar fresco possa circular.

A superlotação dos cemitérios representa um desafio em todo o planeta, especialmente nas cidades superpovoadas e para as religiões que proíbem ou desencorajam a cremação. A realidade dos recursos finitos em termos de disponibilidade de terrenos, para atender à demanda interminável de novos sepultamentos, resultou em soluções criativas.

O mais alto cemitério do planeta é o Memorial Necrópole Ecumênica, de 32 pavimentos, em Santos, Brasil. Em Tóquio, há o Kouanji, um templo budista de seis andares no qual os visitantes podem usar um cartão magnético para trazer os restos mortais de seus entes queridos até eles, dos sepulcros em que estão depositados, por um sistema de esteiras rolantes.

Cemitérios verticais existem em diferentes versões e formas em lugares como Nova Orleans e diversos países da Europa, na Montanha dos Mortos do Egito, na China e no Cemitério de Pok Fu Lam Road, em Hong Kong, que tem forma de anfiteatro.

Mas o futuro provavelmente se parecerá mais com o ambicioso plano do projetista norueguês Martin McSherry para um arejado arranha-céu que servirá de cemitério, em forma de colmeia e dotado de cavernas triangulares.

Outros planos para cemitérios verticais foram apresentados em Paris e Mumbai. Na Cidade do México, outro grande projeto foi proposto: a Torre dos Mortos, que combinará uma necrópole vertical e um complexo subterrâneo de 250 metros de profundidade. Na China, os moradores de Pequim recebem subsídios caso decidam adquirir sepulturas em cemitérios verticais.

Mas só em Israel o fenômeno parece ser parte de um plano mestre que conta com o apoio do governo. Excetuadas as pessoas que já adquiriram seus futuros túmulos, não existem mais espaços de sepultamento em lugares abertos para os mais de 35 mil israelenses que morrem a cada ano.

A primeira opção de economia de espaço é colocar túmulos uns sobre os outros –separados por uma camada de concreto– e atribuir uma lápide compartilhada ao conjunto. Isso é comum para casais e até mesmo famílias inteiras, e cada nova sepultura escavada em Israel tem espaço para pelo menos dois caixões um por sobre o outro. A segunda opção é sepultar os mortos acima do solo, em nichos construídos nas paredes de edifícios –mais ou menos como em um necrotério, mas com lápides frontais em cada espaço. A terceira e mais revolucionária opção é o sepultamente em um edifício no qual cada pavimento se assemelha a um cemitério tradicional, mas sem o céu azul.

Para que essa grande mudança pudesse surgir em Israel, porém, foi necessário obter a aprovação dos rabinos. As autoridades rabínicas israelenses supervisionam todos os sepultamentos de israelenses judeus.

O ritual de sepultamento israelense se baseia no livro do Gênese, no qual Deus expulsa Adão e Eva do Jardim do Éden - "Pois sois pó, e ao pó retornareis". A lei judaica estipula que todos os corpos sejam sepultados separadamente, em uma camada de pó e terra.

Yaakoz Ruza, o rabino da sociedade funerária de Tel Aviv, organização semioficial que supervisiona os sepultamentos judaicos, disse que as novas formas de sepultamento foram aprovadas por líderes do judaísmo ultraortodoxo em Jerusalém.

As torres, por exemplo, têm dutos cheios de terra, dentro de suas colunas, de modo que cada camada de terra ainda esteja conectada ao solo. De muitas maneiras, disse Ruza, as novas formas de sepultamento representam um retorno às antigas origens das práticas funerárias da Terra Santa, que envolviam sepultamento em cavernas e catacumbas.

"Isso é uma caverna artificial", ele disse. "No passado, as pessoas escavavam uma caverna em uma montanha. Agora, construímos essas cavernas e fazemos delas uma montanha".

A sociedade funerária de Jerusalém tem até planos para escavar uma caverna subterrânea, a fim de encontrar mais espaço para os mortos.

Os proponentes afirmam que o novo sistema é mais sustentável, menos prejudicial ao meio ambiente e mais fácil de usar –oferecendo uma experiência mais confortável aos visitantes.

Mas surgiu resistência da parte do público, cauteloso quanto a mudanças. Em um caso famoso, a família de uma pessoa morta há pouco tempo ameaçou o dirigente de um cemitério, dizendo que se seu parente fosse sepultado em uma parede, fariam o mesmo com ele.

Shmuel Slavin, antigo diretor geral do Ministério das Finanças israelense que preparou um relatório sobre a crise de sepultamento no país, disse que não existe motivo para uma reforma tão emocionalmente traumática de uma prática antiga. Ele acredita que exista espaço de sobra em regiões periféricas israelenses como o vasto deserto do Negev, no sul, que permitiria a construção de novos cemitérios em Israel.

Slavin afirmou que os avanços tecnológicos podem vir a permitir mais sepultamentos em cemitérios existentes, e que será caro construir e manter as novas "cidades dos mortos".

Em resumo, disse ele, as pessoas simplesmente não querem ser sepultadas desse jeito. "As pessoas não querem ouvir a respeito", disse. "Há uma questão de tradição, quanto a isso. As pessoas querem ser sepultadas como seus pais foram".

As autoridades dizem que aqueles que insistem em sepultamento tradicional ainda terão essa opção; só terão de dirigir um pouco mais, e se dispor a pagar por isso. Os cemitérios, dizem as autoridades, não são projetados tendo em vista os mortos, mas os vivos que os visitam. A esperança é que, ao assistir a funerais nos novos cemitérios, as pessoas sejam expostas ao novo sistema, e aprendam a apreciar suas vantagens.

De qualquer forma, as autoridades funerárias dizem que número crescente de pessoas compreende que mudanças são inevitáveis.

"Somos todos favoráveis a sepultamentos em campo aberto, desde que isso não atrapalhe nossas vidas. Assim, se estiver faltando espaço para a construção de moradias novas em Jerusalém, prefiro o sepultamento em camadas", diz Chananya Shahor, diretor da sociedade funerária de Jerusalém. "Deus nos deu terras para viver, e não para morrer".
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