Israel vê atropelamento como ato terrorista
Palestino avançou com carro sobre sete pessoas e matou bebê em Jerusalém.
TEL AVIV — Um atropelamento numa estação do trem leve de Jerusalém elevou ainda mais a tensão na cidade que vem, há meses, registrando enfrentamentos diários entre a minoria árabe (32%) e as forças de segurança de Israel. O carro de um palestino de 21 anos, residente no bairro de Silwan, em Jerusalém Oriental, atropelou sete israelenses, matando um bebê de três meses.
As imagens das câmeras de segurança não deixaram claro se Abdel Rahman al-Shaloudi perdeu o controle do veículo ou se cometeu um atentado deliberado. A imprensa e as autoridades israelenses trataram o incidente como terrorismo, mas a família do motorista e a mídia palestina garantiram que se tratou de um acidente.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, culpou o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que, segundo Netanyahu, incitou palestinos a atacar israelenses num discurso na sexta-feira passada, no qual apelou para o uso "de todos os meios" para afastar "colonos" da Esplanada das Mesquitas, no coração de Jerusalém, local sagrado também para judeus. Netanyahu criticou Abbas por manter o governo de união nacional com o grupo islamista Hamas, que também acusou pelo suposto atentado.
O incidente aconteceu na estação do trem leve de Jerusalém — espécie de metrô de superfície —, quando o carro de al-Shaloudi avançou pela calçada, atravessou os trilhos e atropelou os pedestres. O veículo só parou depois que bateu em um poste. Al-Shaloudi, que cumpriu pena de duas vezes desde 2012 por questões de segurança, tentou fugir mas foi alvejado por um guarda e transferido, em estado grave, para um hospital local.
O trem leve tem sido alvo de ataques, apedrejamentos e pichações desde a escalada nos ânimos na cidade, que começou com o assassinato de três adolescentes judeus na Cisjordânia por dois palestinos alinhados ao Hamas e a violenta vingança, dias depois, de três judeus ultranacionalistas, que queimaram vivo um jovem palestino.
A tensão aumentou com o conflito de 50 dias entre Israel e o Hamas, em Gaza, em julho e agosto. O temor, agora, é de mais violência. À noite, houve distúrbios entre manifestantes e palestinos e policiais em Jerusalém Oriental, o que, para alguns, pode marcar o começo da terceira "intifada" (levante popular) contra Israel.
— Estamos nos preparando para eventos tanto na parte oriental como na parte ocidental da cidade. Tememos atos de vingança — disse o chefe de polícia de Jerusalém, Chico Edry.
Segundo Edry, al-Shaloudi agiu sozinho, como numa série de atentados cometidos em Jerusalém, nos últimos anos. O mais recente aconteceu em agosto, quando um palestino que dirigia uma retroescavadeira da empresa de construção em que trabalhava conseguiu derrubar um ônibus, matando um israelense de 29 anos. Em 2008, dois incidentes semelhantes mataram mais três pessoas.
— Precisamos restaurar a paz e a segurança em Jerusalém — disse o prefeito da cidade, Nir Barkat. — Tenho dito há meses, a situação em Jerusalém é intolerável.