O papa Francisco teve um encontro nesta quinta-feira (04) com o ex-presidente de Israel Shimon Peres, 91 anos. O israelense deu uma entrevista à revista católica Família Cristã e pediu a criação de uma "ONU das religiões", liderada por Francisco.
"Vendo que a ONU fez o seu tempo, acredito que deveríamos ter uma Organização das Religiões Unidas, uma ONU das religiões.
Seria um modo melhor de contrastar estes terroristas que matam em nome da fé porque a maioria das pessoas não é como eles. Elas praticam sua religião sem matar ninguém, nem sequer pensam nisso", disse Peres à revista antes do encontro com o líder da Igreja Católica. Peres pediu ainda que "deveria ser escrita também uma Carta das Religiões Unidas, exatamente como a Carta da ONU. A nova carta deve estabelecer que não tem nada a ver com as religiões o fato de decapitar pessoas ou fazer assassinatos em massa, como temos visto nas últimas semanas". O ex-presidente se referia ao grupo terrorista Estado Islâmico, que usa o islamismo como desculpa para atrocidades contra pessoas de outros credos.
O israelense, que ganhou um prêmio Nobel da Paz em 1994, continuou suas críticas aos grupos extremistas. "É uma guerra completamente nova a respeito daquelas do passado, seja nas técnicas e sobretudo nas motivações. Hoje em dia há centenas, se não milhares, de grupos terroristas que matam em nome de Deus", ressaltou o israelense. Ele ainda acrescentou que "no passado, a maior parte das guerras era motivada pelo espaço das nações.
Hoje, ao invés disso, as guerras ocorrem com a desculpa da religião".
Ele ainda aproveitou para explicar o porquê da criação dessa entidade religiosa. "Para opor-se a isso, é preciso ter a nossa Organização das Nações Unidas - que não tem os Exércitos das nações nem as convicções que criam as religiões. E que fique claro, quando a ONU manda seus negociadores para o Oriente Médio - que sejam das Ilhas Fiji ou das Filipinas - e eles são sequestrados pelos terroristas, o que faz o secretário-geral da ONU? Uma bela declaração que não tem a força nem a eficácia que qualquer homilia do Papa - que só na Praça de São Pedro reúne meio milhão de pessoas", destacou Peres. Nessa parte da declaração, o ex-líder se referiu ao grupo de 40 homens sequestrados por grupos extremistas na região de Golan, entre a Síria e Israel.
O político ainda destacou que Francisco seria o líder ideal para o encontro "pelas razões que falei acima e também porque ele já provou essa liderança convidando o palestino Mahmoud Abbas, eu e o Patriarca de Constatinopla para rezar aqui no Vaticano". O encontro ocorreu no dia 2 de setembro, após a viagem de Francisco pela Terra Santa. Peres também disse que apresentou a ideia ao Pontífice porque "talvez pela primeira vez na história, o Santo Padre é um líder respeitado por tantas pessoas e também pelas diversas religiões e seus expoentes. Talvez seja o único líder realmente respeitado por todos".