Consta no Pirkê Avot (cap. 2 Mishná 1) que Rabi Yehudá Hanassi dizia: “Hevê zahir bemitsvá calá kevachamurá, sheen atá yodêa matan secharan shel mitsvot” – Seja cuidadoso nas mitsvot menos rígidas da mesma forma que é nas mais rígidas, pois não conheces qual a recompensa de cada mitsvá.
O Midrash Rabá ressalta a importância das mitsvot chamadas pela Torá de “calot” (menos rígidas) e traz o exemplo de um rei que contratou vários empregados para que plantassem e cultivassem suas fazendas. Ele não comunicou o que pagaria por cada plantação para que não se dedicassem somente àquelas mais rendosas e deixassem as menos lucrativas sem serem cultivadas.
No final do expediente, o rei chamou seus empregados para remunerá-los por seus serviços, e conforme o que foi plantado por cada empregado, pagava diferentes honorários. Os empregados perguntaram então ao rei por que não tinham sido comunicados de antemão o valor que receberiam por seus serviços, e assim sendo poderiam escolher o serviço que lhes fosse mais lucrativo. O rei respondeu-lhes dizendo que caso tivesse comunicado previamente os honorários, os empregados escolheriam apenas as plantações que fossem mais rendosas e o que seria então das demais plantações?
Assim também, o Todo-Poderoso não desvendou a recompensa das mitsvot de uma forma geral. Entre as mitsvot cuja recompensa nos foi revelada, há duas que têm a mesma retribuição: a mitsvá de honrar os pais e a mitsvá de “Shiluach Haken” (enxotamento do ninho) – não pegar os filhotes ou ovos das aves, enquanto a mãe estiver em cima deles, mas sim enxotar primeiramente a mãe e depois pegar os filhotes.
Embora a mitsvá de “Kibud Av Vaem” (honrar os pais) seja denominada de “chamurá shebachamurot” (entre as mais difíceis) e a mitsvá de “Shiluach Haken” de “calá shebacalot” (entre as mais fáceis), elas têm a mesma recompensa: vida longa.
Com isso, a Torá quer demonstrar o quanto está ocultada de nós a recompensa das mitsvot, para nos ensinar a necessidade de cumprirmos todas as mitsvot sem distinções.
O Midrash Tanchumá dessa parashá, diz em nome de Rav Ada, que a Torá contém 248 mitsvot assê (ativas), referentes aos 248 órgãos do corpo humano. Todos os dias, essas mitsvot advertem o ser humano como que lhes dizendo: “Cumpra-nos para que você possa viver e por nosso mérito ter uma vida mais longa.”
O Midrash menciona também, que as mitsvot lô taasê (passivas) são em mesmo número que os dias do ano solar (365). Todos os dias, desde o momento em que o Sol nasce, até o momento em que se põe, o Sol adverte o ser humano para se cuidar em não transgredir as mitsvot da Torá, para que o indivíduo e o mundo não tendam para o lado negativo.
Completando este pensamento, que nos mostra a importância de cada mitsvá, trazemos mais uma passagem do Midrash Rabá sobre o versículo em Mishlê (1:9): “Ki livyat chen hem leroshechá” – As mitsvot acompanham o ser humano a toda a parte. Não podemos pensar, que devemos cumprir as mitsvot somente de vez em quando, em momentos especiais, apenas quando vamos ao bêt hakenêsset ou só no Shabat. As mitsvot da Torá devem ser cumpridas em todos os momentos e durante todos nossos atos e pensamentos.
Assim, ao construirmos uma casa nova, devemos fazer um parapeito no telhado. Quando colocarmos a porta deveremos fixar a mezuzá. Ao vestirmos uma roupa nova devemos verificar que não exista mistura de linho e lã (shaatnez). Quando fazemos a barba, não podemos usar lâminas (gilete) ou navalha. Devemos também deixar a costeleta (“Lô takífu peat roshechem velô tashchit et peat zecanecha” (Vayicrá 19:27), e assim por diante.
“Ki hem chayênu veôrech yamênu” – Porque eles (os mandamentos) são nossa vida e prolongam nossa existência.
Da Revista Nascente