Hot Widget

Type Here to Get Search Results !

Israel Unidade 8200

Israel Unidade 8200


Historia
 
Unidade 8200 (leia-se oito duzentos ou יחידה 8200 (shmone matayim), em hebraico) é uma das mais secretas e letais unidades da Forças de Defesa de Israel (FDI). Diferença de outras unidades classificadas como secretas como a Sayeret Matkal do Exército e a Shayetet 13 (S13) da Marinha, nesta unidade não encontraremos soldados altamente treinados das forças especiais prontos para entrarem em combate em qualquer lugar do mundo e aptos a usarem os mais variadas armas de fogo. Os militares da 8200 não usam armas em suas ações: eles usam computadores.

Essa unidade secreta surgiu em 1952 e foi aparelhada com primitivo equipamento militar americano de escuta. Originalmente, chamava-se a 2ª Unidade de Serviço de Inteligência e, em seguida, Unidade de Serviço de Inteligência 515. Uma piada interna entre os soldados da unidade dizia que a razão da mudança do nome foi que ali haviam 500 iraquianos e apenas 15 asquenazes (nome dado aos judeus provenientes da Europa Central e Europa Oriental). Na época devido as grandes ameaças em suas fronteiras e as condições topográficas do país, Israel começou a instalar postos experimentais de escuta em muitas colinas. Em 1954, a unidade foi transferida de Jaffa para a sua base atual na junção de Glilot. Esse local era muito mais tranqüilo, ao contrário de Jaffa, que era muito barulhenta e onde não havia espaço para se expandir. Lá os pioneiros lentamente estabeleceram a unidade e a base do que ela é hoje. O desenvolvimento da unidade começou realmente após a Guerra dos Seis Dias. Foi então que muitos equipamentos avançados foram obtidos e a unidade expandiu enormemente graças ao chefe do Corpo de Inteligência, que era então o general Aharon Yariv.

Uma fato pitoresco aconteceu com a unidade pouco depois da Guerra dos Seis Dias, quando a unidade construiu um posto em Jerusalém, perto do Monte Scopus. A fim de disfarçar a função daquela unidade, os soldados penduraram no portão da frente uma placa que indicava que ali funcionava a Rádio do Exército. Certa manhã, durante o programa de rádio do Exército 'Saudações do Campo', uma mulher tocou a campainha na entrada e pediu para enviar saudações para seu filho. Os homens da 8200 ficaram em estado de choque. Imediatamente, eles fizeram alguns telefonemas e conseguiram se conectar com a verdadeira estação de rádio do Exército, e ai pediram para enviar a jovem soldado as saudações de sua mãe. Felizmente a identidade secreta foi mantida com sucesso.

Entre os feitos do 8200 no passado estão a interceptação do telefonema entre o presidente egípcio Jamal Abdul Naser e o Rei Hussein da Jordânia, no primeiro dia da Guerra dos Seis Dias, e da interceptação do telefonema entre o chefe da OLP, Yasser Arafat e militantes de um pequeno grupo terrorista iraquiano pró-palestino liderado por Abu Abbas, que tinham seqüestrado o navio de passageiros italiano Aquili Lauro enquanto este estava viajando no Mediterrâneo.

Hoje a 8200 é uma das maiores unidades das FDI e possui milhares de soldados. Em suas funções e muito similar a Agência de Segunça Nacional dos EUA, a National Security Agency (NSA). Essa unidade é um Corpo dentro do Ministério da Defesa de Israel e é comanda por um General de Brigada, que tem a sua identidade mantida em segredo.
Israel Unidade 8200
O General de Brigada que comanda a Unidade 8200 tem a sua identidade mantida em segredo.

Subunidades e bases
A Unidade Hatzav, é a responsável pela coleta de inteligência OSINT. A unidade monitora e coleta inteligência militar oriundas da televisão, rádio, jornais, e internet. A tradução de vários itens representa parte do que se denomina de "inteligência básica", que é coletada pelas unidades. De acordo com relatos da mídia, a unidade coleta mais de metade da informação geral de inteligência da Comunidade de Inteligência israelense.

A base Urim é a mais importante instalação de inteligência de sinais (SIGINT) da 8200. Essa base se encontra no deserto de Negev a uns 30 km de Beerseba. A base fica situada a cerca de 2 km ao norte do kibutz de Urim. Suas estruturas descrevem linhas de antenas de satélites de tamanhos variados de um e outro lado da estrada 2333, que leva à base. Grades altas, barreiras e cães protegem o espaço. Como qualquer um pode verificar na internet, as imagens de satélite desse local são nítidas. Um olhar mais atento distingue ali, sem dificuldade, todos os elementos característicos de um posto de vigilância eletrônica. Um grande círculo no campo indica a localização de uma antena de pesquisa de direção (HF/DF), destinada à observação marítima.

A base de Urim foi montada há várias décadas com a finalidade de vigiar a comunicação internacional que transitava pela rede de satélites Intelsat, usada entre diversos países. Sua atividade se estendia, em princípio, às ligações marítimas (Inmarsat), mas rapidamente cresceu, mirando satélites regionais, cada vez mais numerosos. Como confirma o especialista em informação, Duncan Campbell, essa base é “similar às estações terrestres de interceptação por satélite do pacto Echelon”. Echelon é a rede mundial de estações de observação e vigilância que integram Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, em funcionamento desde 1996. Essa base é capaz de inteceptar telefones por satélite usados nos navios.

Israel Unidade 8200
Emblema da Base Urim da Unidade 8200.
Os computadores da 8200 em Urim são programados para distinguir palavras e números de telefone considerados "interessantes” dentre chamadas, correio eletrônico e dados captados. As mensagens interceptadas são transferidas para a sede da Unidade 8200 – a central de informações israelense –, que fica na cidade de Herzliya, ao norte de Tel Aviv. Ali, elas são traduzidas e transmitidas às demais agências, entre as quais o Exército de Israel e o Mossad.

Quer se trate de vigiar governos, organizações internacionais e políticas, empresas estrangeiras ou indivíduos, a maior parte dessa ação acontece nessa instalação. A base de Urim mira inúmeras nações, tanto amigas quanto inimigas. Uma ex-analista, que na época de seu serviço militar foi designada para atuar na central da Unidade 8200, confirma que a base trabalhava em regime integral de funcionamento, traduzindo para o hebraico as ligações e e-mails em inglês e francês. Uma tarefa “interessante” que, segundo ela, consistia em decifrar as inúmeras correspondências de rotina para nelas encontrar detalhes importantes. Sua seção escutava, sobretudo, “as comunicações diplomáticas e outros sinais offshore”. Ela também passava muito tempo explorando sites públicos na internet.

Para completar esse quadro, a base de Urim trata as escutas colocadas em cabos submarinos (em especial os cabos mediterrâneos que ligam Israel à Europa, passando pela Sicília) e dispõe de estações clandestinas nos prédios das representações de Israel no exterior, como é o caso de suas embaixadas. A Unidade 8200, que depende oficialmente do Exército, detém redes secretas nos territórios palestinos e mantém sempre no ar aviões Gulfstream carregados de equipamentos eletrônicos.

Uma das mais fantásticas bases da 8200 fica localizada no Monte Hermon. Esta base é uma das mais importante estação de coleta de sinais de inteligência eletrônica de Israel, proporcionando vigilância e alerta antecipado sobre a Síria, um dos mais tradicionais inimigos de Israel. Localizado na região das Colinas de Golã, o Monte Hermon é parte da Cordilheira Hermon, possuindo alguns picos em território sírio e outros em território israelense. Em Israel, a montanha possui dois picos – “Israeli” e “Mit'zpe Shlagim“ (em hebraico, “observatório de neve”), que estão cerca de 2.200 metros acima do nível do mar. Os montes distam somente 35 km da capital síria – Damasco – o que proporciona a Israel a capacidade de alerta quanto à uma possível investida síria contra seu território. Também serve para dissuadir os sírios, lembrando que sua capital está bem ao alcance da artilharia israelense. Conhecidos como “os olhos de Israel”, ambos os picos abrigam postos militares fortificados, contendo antenas de comunicações, torres, postos de observação e equipamento de vigilância eletrônica. As instalações de inteligência são guarnecidas pela Unidade 8200. A pequena distância entre os dois picos israelenses e a fronteira com a Síria – menos de 500 metros – torna os postos de inteligência vulneráveis a ataques de comandos sírios, fator que justifica a existência de uma unidade destinada exclusivamente à proteção do Monte Hermon.

 Israel Unidade 8200Israel Unidade 8200
Existe uma unidade especialmente muito bem treinada para proteger e guardar a estação de coleta de sinais de inteligência eletrônica de Israel no Monte Hermon

Essa força de defesa é a Unidade de Alpinismo e seus homens em sua maioria, são ex-integrantes da Sayeret Golani, a Unidade da Brigada Golã destinada a realizar patrulhas de reconhecimento de longo alcance (LRRP). Os demais membros da unidade são imigrantes com experiência militar em área de montanha em seus países de origem. Estes homens contribuem transmitindo seus conhecimentos aos soldados nativos de Israel, os quais a poucos anos atrás tinham pouca vivência com neve ou clima de frio extremo. A razão pela qual são aproveitados os homens que já prestaram serviço na Brigada Golã reside no fato de que essa grande unidade é responsável pela defesa do setor norte de Israel, onde se localiza o Monte Hermon, e que sua instrução para combate no clima frio é mais intensa do que em outras unidades das IDF. Além disso, a Sayeret Golani é considerada uma das mais importantes unidades de elite das IDF e já foi empregada em diversas oportunidades em combate para defender a região do Monte Hermon, particularmente durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Além da unidade alpina, unidade da brigada de pára-quedistas também provem a defesa direta do local, e num circulo maior existem unidades blindadas e de artilharia, sem falar no apoio da Força Aérea de Israel. Existe uma unidade especialmente muito bem treinada para proteger e guardar a estação de coleta de sinais de inteligência eletrônica de Israel no Monte Hermon

Enquanto lá fora unidades de infantaria das IDF montam guarda, dentro da montanha existe toda uma infraestrutura que dá suporte a estação de coleta de sinais de inteligência eletrônica ali instalada. Essa estação fica literalmente dentro da montanha, em túneis escavados na década de 1980 como parte do rescaldo da Guerra do Yom Kippur. Abaixo do posto encontra-se uma aldeia síria, e se pode ver todas as Colinas de Golã a partir daí. Não muito longe do posto avançado, sangrentas batalhas estão sendo travadas entre o exército do presidente sírio, Bashar al-Assad e os rebeldes, e Israel está monitorando de perto a evolução, com bastante atenção.

Um túnel conduz para a parte inferior do posto, no interior da montanha. É aí que os dispositivos de escuta estão alojados, bem como quartos dos soldados, uma sala de jantar, sala de estar, um ginásio e uma sala de treinamento. As grosas portas de metal exigem códigos para serem abertas, e tudo está sob sigilo. O nível superior do posto avançado, que fica no alto, ao ar livre, é o lugar onde as antenas são mantidas dentro de cúpulas gigantes.  Existe uma diferença indescritível entre os dois níveis. Um velho e enferrujado elevador leva você em um minuto do nível superior para baixo e lá você encontra o centro de escuta, que é uma verdadeira colméia, cheio de atividade,  onde equipes se revezam 24 horas por dia, sete dias por semana, para captar sinais vindos de vários lugares do Oriente Médio. Os operadores de inteligência de sinais ficam sentados em frente a telas de computador com seus fones de ouvido, auxiliados por vários acessórios tecnológicos e de inteligência. Há muitos soldados femininos e masculinos, uma pequena percentagem deles são jovens na casa dos 20 anos, que começaram um processo de triagem e seleção antes de seu recrutamento e depois completaram um curto treinamento básico antes de se mudarem para um curso de treinamento exaustivo. Eles chegam aqui, depois de seis meses no Exército israelense. Durante turnos de oito horas os operadores permanecem constantemente atentos, acreditando que todas as conversas que interceptam podem salvar vidas, e que eles têm um papel crucial na formulação de ações de  dissuasão contra inimigos de Israel. Normalmente eles acordam antes da seis da manhã para chegar a tempo da mudança de turno, dependendo do turno é claro. Eles são fluentes em inglês e árabe, e muitos falam mais de três línguas.

Israel Unidade 8200
Soldados israelenses andam por dentro dos túneis do Monte Hermon

Se excluirmos os satélites de televisão – objetivos improváveis de uma estação de observação e vigilância –, a maioria dos emissores situados num raio que vai do Atlântico ao Índico são alvos potenciais da 8200 e suas estações de captação de inteligência: além da Intelsat e da Inmarsat, existem os russos, árabes, europeus e asiáticos. As imagens da base indicam a existência de cerca de 30 antenas de vigilância e observação, transformando Urim numa das maiores estações de espionagem do planeta. A única estação comparável em tamanho é a estrutura americana instalada em Menwith Hill, na região de Yorkshire (Inglaterra). A estação israelense de Urim conseguiu permanecer escondida do público durante várias décadas.


Fontes na imprensa internacional especularam que foi a Unidade 8200 a responsável pela criação do vírus de computador Stuxnet que em 2010 infectou  computadores em todo o mundo, mas que tinha por alvo as as instalações nucleares iranianas. 

Recrutamento
Hoje em dia a 8200 é um grande imã, que atrai para suas fileiras as melhores mentes de Israel ligadas a área de tecnologia. Aos 17 anos, idade em que muitos jovens do mundo apenas se preocupam em escolher o curso universitário, os rapazes e moças israelenses sabem o que lhes espera nos próximos anos. Eles terão que servir nas Forças de Defesa de Israel (FDI) cumprindo o seu período de serviço militar obrigatório (três anos para os homens, dois para as mulheres), e até completarem 40 anos, devem estar a postos um mês a cada ano e, no caso de um conflito, tem de deixar tudo de lado e apresentar-se para o combate.

Israel Unidade 8200
Os militares da Unidade 8200 são altamente treinados para a ciberguerra

É nessa altura, um ano antes de atingirem a idade do recrutamento, que todos se submetem a um dia de testes psicológicos e de aptidão, na seqüência dos quais alguns poderão ter de fazer mais exames para ingressar numa das unidades de elite das IDF. Entrar em uma delas significa, para um israelense, algo semelhante ao que implica, para um europeu ou um norte-americano, ser admitido numa universidade de prestígio como Oxford ou Harvard: uma grande oportunidade para poder colocar no currículo. Quando um jovem de Jerusalém ou de Telavive procura emprego, os caça-talentos e os chefes de recursos humanos reparam mais na sua experiência militar do que na faculdade onde estudou. Nas entrevistas profissionais, pergunta-se sempre em que unidade serviu a pátria.

O Programa Talpiot (expressão bíblica que significa, metaforicamente, o apogeu do êxito) é o corpo mais avançado no campo tecnológico e o que coloca exigências mais duras a eventuais candidatos: 41 meses de instrução e a obrigação de permanecer por mais seis anos. Foi criado após a derrota judaica na guerra de Yom Kippur, em 1973, com o objetivo de compensar a inferioridade do exército israelense em efetivos humanos e transformá-lo num dos mais modernos do mundo. Dois por cento dos alunos do ensino secundário com melhores classificações (cerca de 2.000 estudantes) são considerados aptos, todos os anos, para se apresentarem nas provas de admissão ao Programa Talpiot, que consistem em exames muito exigentes de física e matemática. Apenas um em cada dez candidatos passa, sendo depois submetido a duros testes de aptidão e personalidade. Os eleitos receberão uma preparação acadêmica muito melhor do que a de qualquer universidade, o que lhes permitirá obter, em tempo recorde, uma licenciatura em física ou matemática.
Outra caminho transformado em viveiro de guerreiros/empreendedores tecnológicos é a Unidade 8200. Os responsáveis pela unidade deslocam-se apenas às escolas secundárias onde se verificam os melhores resultados acadêmicos, e convidam os alunos que se destacam a inscreverem-se num árduo processo de seleção, a fim de captar os mais brilhantes em três áreas: idiomas estrangeiros (sobretudo, árabe), tecnologia e informática. Alguns candidatos começam a preparar-se quando têm apenas 12 anos; no entanto, apenas um em cem consegue entrar.

Israel Unidade 8200
Oficiais da inteligência militar das FDI visitam escolas primárias e secundárias em Israel

Na verdade o comandante da Unidade 8200 tem um privilégio especial estendido a ele pelo Exército: o direito de escolher quem ele quer de todos os alistados convocados para as FDI. A única outra força militar que é permitido escolher o seu pessoal de antemão é curso de formação dos pilotos da Força Aérea de Israel (FAI), embora isso também provavelmente vai mudar no futuro próximo. Isso se deve não apenas ao aumento dramático na importância da esfera tecnológica, mas também devido o aumento do uso de veículos aéreos não tripulados e da diminuição de necessidade de pilotos humanos. Entre os soldados da 8200 existe uma piada que diz que em breve eles serão encarregados dos caças da FAI, os operando através de controle remoto.

A principal qualificação necessária para quem deseja servir na unidade está na aptidão para as ciências exatas, como matemática, física e, é claro, informática. Qualquer um que entra na unidade se sente bastante confortável nessas áreas e é capaz de entender a sua linguagem.

Na 8200, aprenderão a infiltrar-se nas redes do inimigo, a decifrar os seus códigos, a ultrapassar as defesas dos seus computadores e programas e a neutralizá-los. O vírus Flame, que afetou sobretudo o Irã, foi criado nas suas “oficinas”. Chama a atenção o fato de os operadores deste exército cibernético serem jovens estudantes-soldados, organizados em unidades muito pequenas, em que todos assumem grandes responsabilidades. Diz-se que um dos segredos do êxito da unidade é que fomenta a mentalidade de que nada é impossível. Os membros da 8200 sabem que um “não” pode transformar-se em “sim” com trabalho e perseverança. 
 
Na Unidade 8200 os jovens militares aprendem habilidades que vão além de desarmar um computador em segundos, abrir caixas fortes abertos ou criar algoritmos. "Quando você está à procura de terroristas, o trabalho tem de ser feito muito rápido, e não apenas ser bem feito. Caso contrário, por melhor que você faça, se você demorar, as informações obtidas não são mais relevante", afirma um dos nerds guerreiros da 8200. Eles não são o protótipo de "rambo ou do exterminador" do passado, mas no século XXI eles são até mais importantes do que alguns dos "músculos" do Exército. A verdade é que a maior parte do seu trabalho em segurança cibernética, armazenamento e captura de dados, comunicações móveis e análise de algoritmos irá ajudar na defesa de Israel.

A Unidade 8200 contribui fortemente para manter os dois pilares que Israel estabeleceu para a sua defesa: o ataque preventivo, e sempre que possível, garantir que o combate seja travado em território inimigo, em vez de no solo israelense. Em março de 2010, o chefe da inteligência militar de Israel, major-general Amos Yadlin, revelou que o Estado judeu se tornou um líder mundial em ciberguerra, e ainda afirmou que o ciberespaço concede a pequenos países e indivíduos um poder que até então era reservado apenas a grandes estados, e por isso lutar na dimensão cibernética é tão importante quanto a introdução do combate na dimensão aérea no início do século XX.

Sobre toda essa questão de gênios da tecnologia, start ups e progresso econômico, um general de brigada, comandante da Unidade 8200, disse certa vez que ele não tinha orgulho dos executivos hi-tech que se formavam após deixarem a unidade e passavam a vender por milhões de dólares as empresas que criavam, não verdade ele disse que não tinha orgulho, mas também não tinha vergonha, porque eles obviamente ajudavam a economia na nação, mas esse não era o objetivo de 8200. Seu objetivo é ser uma unidade de combate.

Esse oficial afirmou que a unidade é uma força de combate e é relevante não apenas para a tomada de decisões dos comandantes da inteligência militar, mas também em uma escala muito mais ampla. Segundo ele a 8200 deve fornecer um serviço para todos os níveis, inclusive para os níveis operacional e tático. Esse general de brigada ainda diz que a 8200 é uma organização de liderança tecnológica, aparentemente um dos melhores do mundo e nesta competição, eles devem sempre ampliar o fosso tecnológico, pois isto é uma tremenda vantagem. Sensatamente ele diz que tudo isso é irrelevante se você não entender quem é o seu inimigo, pois a tecnologia não é o nome do jogo, o que é importante é a forma como você a usa para subjugar o inimigo.

Toda essa concentração é resultado da história da própria unidade. Apesar de hoje a 8200 ser uma unidade famosa, no passado ela falhou. Foi durante o período anterior a Guerra do Yom Kipur em 1973, quando vários setores da inteligência israelense falharam em alertar sobre o iminente ataque dos países árabes contra Israel, entre esses setores estava a Unidade 8200. Também no passado um oficial de inteligência estacionado em um posto avançado no Monte Hermon foi feito prisioneiro dos sírios e revelou os segredos militares mais sensíveis sobre as FDI. Buscando cada vez mais se aperfeiçoar e nunca mais cometer os erros dos passado a 8200 adota  regras draconianas sobre o uso das informações, impondo limitações estritas sobre o uso privado de tecnologia da unidade, e proibi completamente qualquer contato de seus soldados com agentes estrangeiros e jornalistas. Estes princípios representam a base das operações do dia-a-dia da unidade.

Defesa e Ataque
A Unidade 8200 não é apenas uma unidade que captar ou captura inteligência e a disponibiliza para uso das FDI e órgãos de inteligência de Israel como o Mossad ou o Shin Bet. Essa também é uma unidade agressiva de ciberguerra.

Nos últimos anos a 8200 foi submetida a uma transformação dramática. Ela foi transformada de uma unidade que servia principalmente a liderança do país para uma unidade cujo trabalho beneficia tanto a liderança nacional como também as tropas que operam no campo. Este processo foi iniciado pelo Brig. General (res.) Pinchas Buchris, que passou a se tornar diretor-geral do Ministério da Defesa e também executivo da Oil Refineries Ltd.

Como comandante da 8200, durante a década de 1990, Buchris introduziu o conceito de utilização de informações recolhidas pela unidade para as necessidades táticas. Foi nesta época que Israel estava envolvido em combate no Líbano, onde o Hezbollah era um desafio para as FDI. Buchris era sábio o suficiente para entender que a unidade, com a sua mão de obra de altamente qualificada, excelentes talentos e recursos consideráveis, não poderia ficar à margem, enquanto soldados israelenses travavam uma dura luta no Líbano.

Este processo foi muito acelerado durante a Segunda Intifada. Durante esse tempo, a 8200 conseguiu conquistas significativas - cujos detalhes permanecem escondidos do consumo público - em interceptar o terrorismo palestino. Os recursos da unidade destinados a monitorar as atividades dos terroristas palestinos na Judéia e Samaria, ajudou as tropas da FDI e oficiais de campo do Shin Bet a realizarem milhares de prisões e confiscar explosivos, salvando assim muitas vidas em Israel.
Como parte de seus esforços, alguns dos soldados da unidade também começaram a partir para o campo para aprimorar suas habilidades em fazer tarefas básicas que eram críticas no passado, mas tornaram-se quase indispensáveis durante a campanha de terror palestino, como a realização de operações no terreno, em vez de a partir de bases distantes.

Um subproduto destes esforços foi a criação de um batalhão combate da 8200, que poucos sabem da sua existência. O comandante do batalhão, é um tenente-coronel. O vice-comandante de batalhão é um soldado de combate da Brigada Pára-quedista. Há também comandantes de Companhias e de Seções que em anos anteriores foram escolhidos para servirem em unidades de elite, bem como aqueles que ficaram aquém de concluir curso de formação de pilotos, mas pelo seu alto grau de competência podem entrar na 8200. Em 2011 o Exército israelense começou a recrutar comandantes especificamente para esses cargos dentro da 8200.

Os soldados da 8200 que vão servir no batalhão de combate passam por um treinamento de 11 meses, o primeiros quatro meses foram gastos no extenuante treinamento básico. Depois veio mais um mês de treinamento na sede da unidade em Glilot, que foi seguido por seis meses de instrução profissional projetado para os soldados no mundo da SIGINT. Depois, eles são incorporados a outras unidades de combate com os quais eles vão participar de várias missões. Eles têm duas prioridades: utilizar inteligência e tecnologia para frustrar com rapidez e eficiência os planos do inimigo, e realizar a coleta de inteligência tática em campo. Eles são capazes de arrombar cofres e computadores para obter informações-chave que serão analisadas por outras agências de inteligência.

Israel Unidade 8200
Equipes de combate da Unidade 8200 estão cada vez mais integradas com outras unidades de combate da FDI.
Em dias de rotina (se é que existe tal coisa no Oriente Médio), o batalhão de combate está estacionado na base da 8200 em Glilot. Normalmente esse soldados não recebem licença para irem para casa e eles estão constantemente de plantão. Raro são os dias em que não são chamados para missões ao lado de pequenos grupos de soldados. A partir do momento em que eles são chamados a agir, eles devem seguir os procedimentos que se aplicam a todas as tropas de combate. É um processo que envolve contato com os comandantes no campo (geralmente os comandantes de brigada) e o pessoal do Shin Bet. Eventualmente, os soldados estão integrados em outras unidades de combate no campo, geralmente usando uniformes das tropas de elite ou da tropa de infantaria. Algumas dos soldados de combate da 8200 falam árabe, e outros não. Todos eles são treinados na utilização de ferramentas tecnológicas e na capacidade de resolver problemas que são susceptíveis de surgir durante uma operação. Em numerosas ocasiões, eles se encontram sob o fogo inimigo. Em outras palavras, as tropas de combate do batalhão devem incorporar as habilidades adquiridas a partir da "unidade mãe" da 8200 e aplicá-las no campo, onde o terreno é muito mais difícil de cobrir. O contato próximo entre as tropas do batalhão e as unidades de combate regulares permite que a força combinada chegar a soluções pontuais, quanto rapidamente se esgotar toda a inteligência e meios tecnológicos. A maioria dos sucessos anti-terror da unidade ocorreram nos últimos anos da Judéia e Samaria, mas também tem se destacado no ar e no mar, bem como em outras frentes. "Durante a Operação Chumbo Fundido, conseguimos deparar com alguma inteligência concreta no campo que acabou salvando várias vidas dos soldados", disse o tenente-coronel Y., que comando o QG da 8200. "Houve um caso em que descobrimos que havia casas que eram uma armadilha com bombas e minas, e como resultado, os planos operacionais foram alterados e os soldados foram instruídos a não entrar em áreas que eram armadilhas mortais.Este é um exemplo perfeito de informações que não teria sido obtido se não estivéssemos lá no chão, e é por isso que o batalhão é tão singular ".

Vírus e outras armas
A Unidade 8200 é amplamente suspeita de ser a responsável pelo ataque bem sucedido contra os sistemas de computadores do programa nuclear iraniano e há especulações a respeito de se os israelenses foram responsáveis ​​pelo colapso dos sistemas de defesa aérea da Síria, quando em 6 de setembro de 2007, caças israelenses foram os responsáveis ​​pela explosão de um projeto nuclear no deserto do norte da Síria. Nesta guerra as principais armas usadas tem sido os vírus e programas maliciosos.

Stuxnet

De acordo com relatos da imprensa estrangeira, a 8200 se envolveu em um projeto conjunto israelense-americano que foi dado o nome código de Operação "Jogos Olímpicos". Esta colaboração de inteligência deu origem a várias armas da guerra cibernética.

No início de 2010 os engenheiros nucleares iranianos perceberam que alguma coisa não estava certo com suas mais de 8 mil centrífugas de enriquecimento de urânio em Natanz, na região central do Irã: centenas de centrífugas tinham parado de funcionar. O que podia ter acontecido? Qualquer problema que desse em uma única das centrífugas, um alarme soaria a tempo de os engenheiros salvarem a máquina. Mas não. Não teve alarme.

Sabotagem, então? Quase impossível. O governo conhecia o passado de todos os funcionários com acesso à usina. E, mesmo se houvesse um alto traidor ali, ele não conseguiria fazer nada sozinho. E agora? Agora a única certeza era que a bomba iraniana iria atrasar. Talvez alguns anos.
Alguns meses depois, na Bielo-Rússia, outros engenheiros vêem algo paralisante. São os técnicos da VirusBlokAda, uma empresa de programas antivírus. Eles estavam examinando o computador de um cliente iraniano em busca de ameaças à segurança da máquina. Encontraram um vírus ali. Como qualquer outro vírus, esse se espalhava via internet. E como qualquer outro vírus ele tinha um nome de batismo escrito em seu código-fonte. No caso, Stuxnet. Mas não era qualquer vírus. Eles estavam frente a frente com o maior demônio digital da história até aquela época. O vírus mais complexo, inteligente e destrutivo que alguém havia criado até então.
Depois foi descoberto que muitos computadores pelos mundo rodando variados sistemas operacionais domésticos como o Windows e Mac OS X tinham sido infectados, mas nada aconteceu com eles, pois esse vírus não foi feito para danificar computadores, mas para destruir centrífugas de urânio. Mais precisamente, as centrífugas do Irã. O Stuxnet era uma arma de guerra. Ele só atua em um sistema operacional chamado Scada, desenvolvido pela empresa alemã Siemens. Esse sistema controla centrífugas de urânio. Algo ainda mais sofisticado foi descoberto: o Stuxnet não invade qualquer sistema Scada. Cada tipo de usina de enriquecimento de urânio usa esse sistema numa configuração particular. E o vírus foi programado para atacar só a configuração que as usinas do Irã usam. Para completar, ele tem uma especialidade: caça computadores localizados no Irã. Apesar de ter se espalhado pelo planeta em 2010, atingindo pelo menos 100 mil computadores, a distribuição geográfica dele não foi uniforme: 60% das infecções aconteceram em território iraniano. Entrar em micros do Irã (ou de qualquer outro lugar) é fácil. Mas penetrar as instalações nucleares são outros quinhentos. Elas não têm conexão com a internet, justamente para evitar ataques desse tipo. A estratégia do vírus, porém, era clara: contaminar em massa os computadores pessoais do país contando com que algum funcionário tivesse seu pen drive infectado em casa e acabasse levando o vírus para as instalações nucleares. Pelo jeito, foi o que aconteceu. Genial.

Israel Unidade 8200
Sistema WinCC da Siemens atacado pelo Stuxnet

O Stuxnet mostrou que um vírus de computador pode destruir máquinas fisicamente, causando mais danos do que se um grupo de vândalos entrasse nas instalações e quebrasse tudo no porrete. O primeiro passo para entender como ele conseguiu isso é visualizar como funciona o enriquecimento de urânio. Para construir uma bomba atômica, você precisa desse elemento - é a explosão dele que gera as energias atômicas de uma bomba nuclear. Mas o urânio que as mineradoras extraem é inútil, pelo menos logo que sai da Terra. É que existem dois tipos: o Urânio 238 e o 235. A espécie mais energética, que serve para usinas nucleares e bombas, é o 235. O 238 é praticamente lixo. Só que eles existem grudados na natureza. Uma pedra de urânio é sempre formada por essas duas variedades. E a quantidade de urânio ruim é sempre bem maior: em cada tonelada de urânio, existem só 7 quilos do 235. 

Então alguém precisa separar o joio do trigo. Aí é que entram as centrífugas. São cilindros que giram a mais de 1 000 rotações por segundo. O movimento lança os átomos de U238 (mais pesados) contra a parede do equipamento. E lá no meio o que sobra é um urânio cada vez mais rico em U235. 

Se você quiser uma bomba atômica, vai precisar de U235 praticamente puro. Para conseguir isso, milhares de centrífugas processam urânio bruto o tempo todo. É aí que o Stuxnet age. As centrífugas de Natanz rodam a 1.064 giros por segundo. Quando o vírus invade o sistema, ele manda a rotação aumentar em 40%. Mas só por 15 minutos, para não levantar suspeitas. Enquanto faz isso, ele ainda manda o sistema de segurança das instalações dizer que está tudo bem. E os engenheiros não vêem nada de errado. Aí passam mais algumas semanas e tome 40% a mais outra vez. O alumínio dos rotores não agüenta o esforço e racha. E tchau centrífugas. Foi o que aconteceu no Irã. O vírus não chegou a destruir todas: foram cerca de 1.000 das 8.692 centrífugas. Provavelmente ele só conseguiu invadir parte do sistema. Mesmo assim foi algo inédito. Acreditava-se que só uma ação militar que bombardeasse o Irã para frear o enriquecimento de urânio no país poderia causar um estrago tão grande.

Tão grande o estrago, aliás, que o próprio Irã não quis assumir a existência do ataque num primeiro momento. Nenhum engenheiro veio a público dizer o que aconteceu exatamente na usina. Só sabemos o modus operandi do Stuxnet graças aos técnicos que analisaram cópias do vírus encontradas em computadores comuns - estava tudo escrito no código do programa. O Stuxnet foi o primeiro worm descoberto que espiona e reprograma sistemas industriais.

O governo iraniano só se manifestou em junho de 2010, quando o vírus foi descoberto na Bielo-Rússia. Na ocasião, o presidente do Irã, o senhor Ahmadinejad, disse que o Stuxnet só tinha atingido computadores pessoais dentro das usinas. Apenas em novembro o presidente do Irã finalmente admitiu: sim, o vírus tinha danificado "uma quantidade limitada de centrífugas". 

Mas o Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional (uma organização que monitora instalações nucleares mundo afora - usando inclusive funcionários delas como informantes), sabe que o Irã desativou por volta de 1.000 centrífugas entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010, bem na época em que o vírus estava agindo. Aí foi só juntar A com B. Quando Ahmadinejad assumiu o problema, não restaram dúvidas. Um vírus tinha vencido uma batalha contra um país. 

Quando alguém pergunta quem criou este ou aquele vírus, a imagem que vem à mente é a do nerd no quarto invadindo sistemas de segurança em busca de notoriedade entre seus pares. Mas não foi daí que surgiu o Stuxnet. Ele é bem mais do que um vírus comum. Especialistas calculam que seria necessária uma equipe de 6 a 10 pessoas trabalhando por 6 meses para criar um vírus tão esperto. Sem falar no aparato de espionagem: o Stuxnet sabia como as centrífugas iranianas funcionavam. Conseguir informações assim não é para pessoas comuns. É coisa para governos.

Não é exagero dizer que o vírus "salvou o mundo" ao atrapalhar Ahmadinejad. Quanto mais tempo se ganha antes do Irã entrar para o clube atômico, maior a chance de uma saída diplomática para as rusgas entre o Irã e o Ocidente.


O “Flame”

Em 2012 uma praga infestou milhares de máquinas no Oriente Médio. Um assustador vírus de computador batizado de Flame estava à solta no Irã e outras partes do Oriente Médio, infectando PCs e roubando informações. A coisa chegou a tal nível que a ITU - International Telecommunications Union, um órgão ligado às Nações Unidas, alertou que outros países podiam estar correndo risco de sofrer um ataque, que esse programa era a "maior ameaça cibernética dos últimos tempos", quando surgiu em 2012. A principal função do Flame, já constataram os especialistas, é a de coletar e enviar informações, que faz de diversas maneiras, inclusive gravando áudio, tirando screenshots, compilando listas de todos os dispositivos Bluetooth nas proximidades. Segundo o Websense Security Labs, o malware ocupa 20 MB, um tamanho imenso comparado com a maioria dos outros vírus, que normalmente são menos de 1 Mb. O Flame não causa danos ao PC: ele foi projetado para roubar informações das máquinas infectadas. As informações roubadas são transmitidas para uma rede de servidores espalhados através do mundo.

Israel Unidade 8200

A Kaspersky descreve o Flame como um backdoor e Trojan com características de um Worm. Ou seja, ele permite que a máquina seja controlada remotamente, se infiltra “disfarçado” no PC e pode se propagar sozinho através de uma rede. O ponto de entrada do vírus é desconhecido - ataques de “phishing” (quando o usuário é enganado e convencido a baixar o programa) e sites infectados são duas das possibilidades. Após a infecção inicial, ele pode se espalhar entre máquinas através de pen drives ou circulando por redes locais. Segundo  Laurent Heslaul perito em ciber-criminalidade da sociedade americana "a infecção se mostra bastante direcionada e infecta mais computadores profissionais, em bancos por exemplo, que computadores pessoais".

O vírus lembra o worm Stuxnet, mas segundo a Kaspesky o Flame é muito mais complexo, com um conjunto de módulos que pode ocupar mais de 20 MB de espaço em disco. “Considere isto: levamos vários meses para analisar os 500KB de código do Stuxnet, e o Flame é mais de 40 vezes maior. Provavelmente levará um ano para que possamos entender completamente seu código”, disse a empresa.

O Flame está à solta desde 2010, de acordo com a Kaspersky, mas sua data de criação é incerta. Ele foi descoberto há cerca de um mês após o Ministério do Petróleo do Irã descobrir que os servidores de várias empresas haviam sido atacados. Esta descoberta levou à evidência de mais ataques a outros ministérios e indústrias iranianas.

O Irã alega que os ataques também apagaram os HDs de algumas máquinas, mas a Kaspersky diz que o malware responsável por isso, chamado Wiper, não é necessariamente relacionado ao Flame. Os ataques do Wiper foram isolados ao Irã, enquanto o Flame foi encontrado em outros países.

Segundo um alto funcionário da Inteligência americana afirmou ao ao Washington Post o Flame e o Stuxnet eram elementos de uma ação muito maior que continua até hoje. “As investidas cibernéticas contra o programa iraniano estão muito mais adiantadas.”

As dúvidas sobre quem criou essa arma podem ter sido esclarecidas quando Edward Snowden em uma entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel Magazine, disse com todas as letras: "A NSA e Israel criaram o stuxnet". Segundo ainda o ex-técnico da CIA, há a possibilidade de as agências de segurança dos dois países terem criado também o Flame.

É interessante observar que no complexo de Dimona, no deserto de Negev, em Israel, funcionavam centrífugas nucleares virtualmente idênticas às localizadas em Natanz n o Irã, o que permitiria aos israelenses testar o Stuxnet em condições muito próximas das reais, antes de desfechar um ataque real. Também há uma evidência mais pitoresca. Um dos arquivos do Stuxnet se chama Myrtus ("Esther", em hebraico). Seria uma referência ao Livro de Esther, do Antigo Testamento. Ele relata um complô persa para destruir os judeus - e os persas foram o povo que deu origem ao Irã. Com certeza do lado israelense a Unidade 8200 e os cientistas do Mossad são plenamente aptos a construírem essas e outras armas para serm usadas na ciberguerra.

Pelo lado americano é possível que para testar o vírus eles usaram nos laboratórios secretos do Departamento de Energia, velhas centrífugas entregues em 2003 pelo ditador líbio coronel Muammar el-Kadafi, tranformando-as em réplicas das utilizados nas instalações de enriquecimento nuclear do Irã. Assim como o Stuxnet, o Flame também foi desenvolvido durante a operação Olympic Games, que começou na gestão do presidente George W. Bush. Essas ameaças já foram descobertas, mas, embora possam ser combatidas, “não significa que outras ferramentas não estão em perfeito funcionamento”, declarou outro oficial americano ao Washington Post.

A Unidade 8200 e a economia israelense

Muitos soldados que pertencem a uma unidade de elite se sentem "perdidos" depois que dão baixa, e não são poucos que tem dificuldades de adaptação a vida civil. Isto acontece porque muito do que foi aprendido e vivido de forma intensa na vida militar não tem muita aplicação no mercado de trabalho, a não ser em ocupações ligadas a área de segurança e defesa. Sendo assim quase nenhuma unidade de elite, tem influencia direta na economia de seu país. O mesmo porém não pode ser dito sobre a Unidade 8200.

As coisas que os militares desta unidade de elite aprendem não são apenas valiosas no mundo militar, elas são também importantes e úteis no mundo civil, além de muito lucrativas e têm impulsionado significativamente a economia israelense, entre as publicações internacionais que reconhecem isto estão a Business Insider e o The Guardian.

Existe um aspeto singular nas FDI que contribui para forjar uma mentalidade agressiva e empreendedora: no exército israelense, o respeito pela hierarquia é menor do que nas forças armadas dos outros países. Os militares estrangeiros ficam surpreendidos por a continência não ser obrigatória e por existir uma predisposição muito mais acentuada para os militares de graduação inferior agirem segundo o seu próprio critério. “Um tenente israelense tem mais liberdade de decisão do que um seu homólogo em qualquer exército do mundo”, afirma o historiador Michael Oren. É dessa forma que se promove a aprendizagem e a prática da tomada de iniciativas entre os jovens cadetes, lição que irão depois aplicar na guerra e na vida civil nas suas empresas.

Por isso que o estado judaico se converteu no oásis das start-ups, o nome que designa, em inglês, as empresas incipientes e com grandes possibilidades de crescimento (como aconteceu no caso da Apple, fundada por um jovem Steve Jobs na sua garagem, ou no do Facebook, nascido no quarto de Mark Zuckerberg em Harvard). O pequeno país de território desértico e sete milhões de habitantes é um éden para a inovação e possui a maior taxa de criação de novos negócios do mundo: estima-se que existem, em Israel, cerca de 3850 start-ups (uma por cada 1.850 cidadãos). Só no primeiro trimestre de 2012, as suas companhias tecnológicas receberam dos investidores 1.262 milhões de dólares em capital.

Se em muitos países uma passado acadêmico em Harvard, Wharton e Stanford é um bom indicativo de uma carreira profissional promissora em Israel o que conta mais é o passado militar. Um pergunta feita em toda entrevista de trabalho é: Onde você serviu no Exército? Em Israel os laços formados durante o serviço militar são muito fortes e podem durar pela vida toda e alavancar carreiras e abrir portas, e quando o negócio envolve alta tecnologia nada é mais forte do que a frase: "eu servi na 8200". Existe inclusive uma organização, a 8200 Alumin Association, que foi criada com a função de promover o desenvolvimento de start ups para egressos da Unidade 8200.

Os homens que saíram da Unidade 8200 já fundaram negócios como as empresas Check Point, ICQ, Nice, AudioCodes e Gilat, e tantas outras. Muitos do seus oficiais que estão na reserva são ocupam altos cargas nas diretorias de empresas de tecnologia ou são consultores bem pagos.

A correlação entre o serviço de inteligência da 8200 e uma carreira de sucesso em empresas de alta tecnologia não é mera coincidência. Muitas das tecnologias que são utilizadas em todo o mundo foram originalmente tecnologias militares que foram desenvolvidos para a guerra de em seguida, os veteranos da 8200 as aperfeiçoaram para a vida civil. Muitas das práticas e tecnologias que eles usaram no Exército hoje são utilizadas para resolver problemas no mundo dos negócios.

Tudo isto é claro reflexo do que é Israel atualmente, um país que investe o maior percentual de suas riquezas em Pesquisa & Desenvolvimento: 4,5% do Produto Interno Bruto em 2009. Em seguida estão Japão (3,2%), Estados Unidos (2,7%) e Coréia do Sul (2,6%). No Brasil, os dados mais recentes dão conta de irrisórios 1,2%. Em 2009, o número total de start ups chegava a 3,8 mil, o que lhes garantia a façanha de ter uma empresa de tecnologia para cada 1,8 mil israelenses. Na bolsa americana Nasdaq, eles são os primeiros depois dos anfitriões, com 63 companhias listadas, deixando para trás Reino Unido, Alemanha, Japão e França. Sua indústria de venture capital, uma das mais dinâmicas do mundo, movimentou US$ 2 bilhões em 2009. Nesta área, seu brilho também tem ofuscado os emergentes: o investimento per capita de VCs que aportaram por lá é 80 vezes maior que o registrado na China e 350 vezes superior ao valor injetado na Índia. De lá saíram, por exemplo, os microprocessadores Centrino e Pentium 4, da Intel, o comunicador instantâneo ICQ, o pen drive e o firewall. Como a Intel, cerca de 200 multinacionais, entre elas Google, General Electric e Cisco, instalaram centros de pesquisa no país.
“Em um mundo em busca da chave da inovação, Israel é o lugar certo para se procurar”, resume o livro Start up Nation, dos autores Dan Senor e Saul Singer, que narra a saga empreendedora de Israel e revela o que o mundo desenvolvido e os emergentes como o Brasil podem extrair dessa história. Best-seller nos Estados Unidos e em parte da Europa, a obra será publicada no Brasil em março sob o título Nação Empreendedora – O Milagre Econômico de Israel e o Que Ele Nos Ensina. Por trás desse fenômeno, dizem os autores, está uma conjuntura muito particular, que une necessidade, espírito empreendedor e ousadia a uma riquíssima rede de contatos pelo mundo, e uma sinergia invejável entre o ambiente acadêmico e a iniciativa privada. No grande mosaico de histórias e análises escrito por Senor e Singer, enxerga-se que os ingredientes históricos e as características culturais dos judeus já estavam lá há um bom tempo. Bastava o lugar certo, a hora certa e uma série de políticas públicas com o poder de destravar esse potencial.

Com o surgimento de aplicativos de consumo baseados no processamento de grandes quantidades de informação, conhecido como “big data”, Israel está uma década à frente da Europa e dos EUA – e tudo por causa dos militares.

Até uma década atrás, a Unidade 8200 era um segredo. Em seguida, ela foi descrita com destaque no livro Start-Up Nation, que narrou o surgimento de Israel como uma potência de alta tecnologia, com mais investimento de capital de risco por pessoa do que em qualquer lugar do mundo e o maior número de empresas listadas na NASDAQ depois dos EUA e China. Há três anos, os ex-alunos da 8200 decidiram emergir das sombras e oferecer seus conhecimentos para outros jovens empresários israelenses.
O resultado foi o programa de apoio à inovação e empreendedorismo da 8200 (EISP), uma incubadora de alta tecnologia de cinco meses, na qual ex-alunos da unidade trabalham como voluntários para orientar startups em estágio inicial. Até o momento, 22 delas receberam financiamento, totalizando US$ 21 milhões (£13,5 milhões), empregando 200 pessoas, juntando-se os 230 mil funcionários de 5 mil empresas de tecnologia de Israel que faturam US$ 25 bilhões por ano – um quarto do total das exportações de Israel.
Nir Lempert, coronel da reserva, ex-vice-comandante da Unidade 8200 e presidente da associação de ex-alunos, diz que a unidade seleciona os adolescentes mais brilhantes do país, para treiná-los para resolver problemas em equipes multidisciplinares, utilizando métodos geralmente associados com os negócios e não com o campo de batalha. Eles são encorajados a pensar de forma diferente. “A missão central da unidade é salvar vidas, evitar terrorismo e outros ataques”, diz Lempert. “Nós ensinamos aos nossos membros que a missão é tão importante que não existe a possibilidade de fracasso.”
A reputação da 8200 atrai um número crescente de jovens israelenses para as unidades de tecnologia do IDF. Mamram, a principal unidade de suporte de TI do IDF, agora oferece um curso preparatório de seis meses para o exército em seu QG, em um subúrbio nos arredores de Tel Aviv. Os recrutas estudam o dia inteiro, da manhã à noite, habilidades de programação, trabalho em equipe, gestão de projetos e – o mais importante – como ser criativo. É o maior campo de treinamento para startups.

Ousadia e persistência 
Por Dan Senor e Saul Singer

Quatro sujeitos estão parados numa esquina:

um americano, um russo, um chinês e um israelense.

Um repórter aproxima-se do grupo e diz:

“Com licença… Qual a sua opinião sobre a escassez de carne?”

O americano diz: “O que é escassez?”

O russo diz: “O que é carne?”

O chinês diz: “O que é opinião?”

O israelense diz: “O que é ‘Com licença...’?”

— Mike Leigh, ESCRITOR E DRAMATURGO INGLÊS

Scott Thompson olhou para o relógio de pulso. Estava atrasado. Tinha uma extensa lista de coisas a fazer até o fim de semana e já era quinta-feira. Thompson é um sujeito ocupado. Como presidente e ex-diretor de tecnologia da PayPal, o maior sistema mundial de pagamentos pela internet, ele dirige a alternativa na rede para cheques e cartões de crédito. Mas prometera conceder 20 minutos a um garoto que alegava ter uma solução para o problema dos golpes contra os pagamentos online, fraudes com cartões de crédito e furto de identidade eletrônica.

Shvat Shaked não tinha a agressividade de um empreendedor, o que não era problema, uma vez que a maioria das empresas embrionárias, Thompson sabia, não iam a parte alguma. Ele não parecia ter a coragem e a determinação até mesmo de um típico engenheiro iniciante da PayPal. Mas Thompson não se negaria a essa reunião, ainda mais porque essa fora uma solicitação da Benchmark Capital.

A Benchmark fizera um investimento de risco logo no início das atividades do eBay, num momento em que este usava o apartamento dos fundadores como um inesperado local para a troca de embalagens colecionáveis de confeitos. Atualmente, o eBay é uma empresa de capital aberto de US$ 18 bilhões com 16 mil funcionários no mundo todo. É também a empresa controladora da PayPal. A Benchmark estava considerando a possibilidade de investir na empresa de Shaked, a Fraud Sciences, sediada em Israel. Para ajudar no procedimento de análise das informações da empresa, visando a avaliar os riscos efetivos e potenciais do investimento, os sócios da Benchmark pediram a Thompson, que era experiente em matéria de fraudes no comércio eletrônico, para que sondasse Shaked.

— Então, qual é o seu modelo, Shvat? — Thompson perguntou, ansioso para acabar logo com a reunião.

Remexendo-se na cadeira como alguém não muito à vontade com a sua estudada “apresentação de elevador” de um minuto, Shaked começou em voz baixa:

— A nossa ideia é simples. Acreditamos que o mundo se divide entre as pessoas boas e as pessoas más, e o truque para impedir as fraudes é distingui-las na rede.

Thompson reprimiu a frustração. Aquilo era demais, mesmo como um favor à Benchmark. Antes da PayPal, Thompson fora um executivo de alto nível na gigante de cartões de crédito Visa, uma empresa ainda maior, que não era menos obcecada por combater fraudes. Grande parte da equipe da maioria das empresas de cartões de crédito e de vendas online dedica-se a analisar os antecedentes dos novos clientes, combater as fraudes e identificar os furtos, porque é nisso que se baseiam em maior grau as margens de lucros e com que se constrói ou se perde a confiança do cliente.

A Visa e os bancos com que operava contavam com dezenas de milhares de pessoas trabalhando para combater as fraudes. A PayPal tinha 2 mil, incluindo cerca de 50 dos seus melhores engenheiros com Ph.D., tentando manter-se à frente dos vigaristas. E aquele garoto vinha falar sobre “bons e maus sujeitos”, como se fosse o primeiro a descobrir o problema.

— Parece bom — disse Thompson, não sem um certo constrangimento. — Como vocês fazem isso?

— As pessoas boas deixam pistas de si mesmas na internet... pegadas digitais... porque não têm nada a esconder — continuou Shvat, na sua pronúncia de um inglês carregado de sotaque. — As pessoas más não deixam pistas, porque tentam se esconder. Tudo o que fazemos é procurar essas pegadas. Se puder encontrá-las, você será capaz de minimizar o risco a um nível aceitável e endossá-lo. É realmente simples assim.

Thompson estava começando a pensar que aquele sujeito de nome estranho não vinha de outro país, mas de um outro planeta. Será que ele não sabia que combater fraudes é um processo laborioso de verificação de antecedentes, de progresso difícil por entre históricos creditícios, de elaboração de sofisticados algoritmos para determinar a confiabilidade? Você não entra na Nasa e diz: “Para que construir todas essas espaçonaves sofisticadas quando tudo o que precisam é de um estilingue?”.

Ainda assim, por respeito à Benchmark, Thompson pensou que poderia conceder mais alguns minutos a Shaked.

— E onde vocês aprenderam a fazer isso? — indagou.

— Caçando terroristas — respondeu Shaked, indiferente. — A nossa unidade no exército tinha como objetivo ajudar a capturar terroristas rastreando as suas atividades online. Os terroristas movimentam dinheiro na rede com identidades fictícias. O nosso trabalho era encontrá-los online.

Thompson já ouvira o bastante desse “caçador de terroristas”, ouvira até demais, mas tinha uma saída simples.

— Vocês experimentaram isso alguma vez?

— Sim — disse Shvat, com uma segurança imperturbável. — Experimentamos o método em milhares de transações, e acertamos todas as vezes, a não ser por quatro.

“Ah, sei”, pensou Thompson. Mas não pôde evitar mais um pouquinho de curiosidade. “E quanto tempo isso demorou?”, perguntou.

Shaked disse que a sua empresa tinha analisado 40 mil transações ao longo de cinco anos, desde que fora fundada.

— Muito bem, então vamos fazer o seguinte — disse Thompson, e propôs que daria à Fraud Sciences 100 mil transações da PayPal para analisar. Essas eram transações de clientes que a PayPal já processara. A PayPal precisaria omitir alguns dados pessoais por razões de privacidade legal, o que dificultaria mais o trabalho de Shvat.

— Vejam o que podem fazer — propôs Thompson — e nos devolvam. Iremos comparar os seus resultados com os nossos.

Uma vez que a empresa iniciante de Shvat levara cinco anos para analisar as suas primeiras 40 mil transações, Thompson calculou que não tornaria a ver o garoto tão cedo. Mas não estava pedindo nada injusto. Aquele era o tipo de escala necessário para determinar se o sistema aparentemente estranho dele valeria alguma coisa no mundo real.

As 40 mil transações que a Fraud Sciences processara anteriormente haviam sido feitas manualmente. Shaked sabia que, para vencer o desafio da PayPal, precisaria automatizar o seu sistema para ser capaz de manipular todo aquele volume, fazê-lo sem comprometer a confiabilidade e destrinchar as transações em tempo recorde. Isso significava pegar o seu sistema testado por cinco anos e virá-lo de cabeça para baixo, rapidamente.

Thompson entregou os dados das transações a Shvat em uma quinta-feira. “Pensei que tivesse escapado da Benchmark”, recordou-se ele. “Nunca mais ouviríamos falar de Shvat de novo. Ou pelo menos por alguns meses.” Então, ele ficou surpreso quando recebeu um e-mail de Israel, no domingo: “Terminamos”.

Thompson não acreditou. Na segunda-feira de manhã, a primeira coisa que fez foi entregar os resultados da Fraud Sciences para a sua equipe de Ph.Ds. analisar; custou-lhes uma semana comparar os resultados com os da PayPal. Mas, na quarta-feira, os técnicos de Thompson estavam impressionados com o que tinham visto até ali. Shaked e a sua equipe pequena tinham produzido resultados mais precisos do que a PayPal, num período de tempo menor e com dados incompletos. A diferença era particularmente pronunciada nas transações que tinham dado mais problemas à PayPal – nessas, a Fraud Sciences tivera um desempenho 17% melhor. Essa era a categoria de candidatos a clientes, contou-nos Thompson, que a PayPal inicialmente rejeitara. Mas sabendo o que a PayPal sabe agora a partir do monitoramento dos relatórios de crédito mais recentes dos clientes rejeitados, disse Thompson, aquilo fora um erro. “Eles são bons clientes. Nunca devíamos tê-los rejeitado. O nosso sistema os deixara escapar. Mas como não escaparam do sistema de Shaked?”

Thompson percebeu que estava diante de uma ferramenta verdadeiramente original contra as fraudes. Com menos dados ainda do que a PayPal, a Fraud Sciences era capaz de prever com maior exatidão quem se revelaria um bom cliente e quem não. “Fiquei ali sentado, sem saber o que dizer”, recordou-se Thompson. “Não conseguia entender. Éramos os melhores no negócio do gerenciamento de riscos. Como é que aquela empresa com 55 pessoas em Israel, com uma teoria maluca sobre ‘bons sujeitos’ e ‘maus sujeitos’, conseguia ser melhor do que nós?” Thompson calculou que a Fraud Sciences achava-se cinco anos à frente da PayPal em eficácia do sistema. A empresa em que estivera anteriormente, a Visa, nunca seria capaz de chegar a um pensamento desse tipo, mesmo que tivesse de dez a 15 anos para trabalhar no assunto.

Thompson sabia o que precisava dizer à Benchmark: a PayPal não poderia correr o risco de permitir que a concorrência tivesse acesso à tecnologia mais avançada da Fraud Sciences. Não se tratava de uma empresa em que a Benchmark devesse investir: a PayPal precisava adquirir aquela empresa. Imediatamente.

Thompson procurou a CEO do eBay, Meg Whitman, para deixá-la a par do que estava acontecendo. “Eu disse ao Scott que era impossível”, contou-nos Meg. “Éramos a empresa líder do mercado. De onde é que surgira aquela empresinha minúscula?” Thompson e a sua equipe de Ph.Ds. mostraram-lhe os resultados. Ela ficou assombrada.

Agora, Thompson e Meg tinham nas mãos um problema verdadeiramente inesperado. O que diriam a Shvat? Se Thompson dissesse àquele CEO de uma empresa iniciante que conseguira superar a líder do setor, a equipe da empresa iniciante perceberia que estava montada em cima de alguma coisa de valor inestimável. Thompson sabia que a PayPal precisava comprar a Fraud Sciences, mas como comunicaria os resultados do teste a Shvat sem fazer disparar o preço da empresa e prejudicar sua posição na negociação?

Então ele procurou ganhar tempo. Respondeu aos e-mails ansiosos de Shvat dizendo que a PayPal precisava de mais tempo para análise. Finalmente, disse que participaria os resultados pessoalmente da próxima vez que a equipe da Fraud Sciences fosse a San Jose, esperando conseguir mais tempo. Dentro de um dia ou dois, Shvat batia à porta de Thompson.

O que Thompson não sabia, porém, era que os fundadores da Fraud Sciences – Shaked e Saar Wilf, que serviram juntos no exército de Israel, numa unidade de informações de elite chamada 8200 – não estavam interessados em vender a sua empresa para a PayPal. Eles só queriam a aprovação de Thompson, enquanto analisavam uma lista de requisitos de análise de informações comerciais, para avaliar os riscos efetivos e potenciais ao investimento para a Benchmark Capital.

Thompson voltou a Meg:

— Precisamos tomar uma decisão. Eles estão aqui.

Ela lhe deu sinal verde:

— Vamos comprá-la.

Depois de uma rápida avaliação, eles ofereceram US$ 79 milhões. Shaked declinou. A diretoria da Fraud Sciences, que incluía a empresa de investimento de risco israelense BRM Capital, acreditava que a empresa valesse, no mínimo, US$ 200 milhões.

Eli Barkat, um dos sócios fundadores da BRM, explicou-nos a sua teoria por trás do valor futuro da empresa: “A primeira geração de tecnologia de segurança oferecia proteção contra a invasão do PC do cliente por um vírus. A segunda geração desenvolveu uma barreira batizada como firewall, contra hackers”. Barkat sabia alguma coisa sobre essas duas ameaças, tendo fundado e desenvolvido empresas para oferecer proteção contra elas. Uma delas, a Checkpoint – uma empresa israelense também iniciada por jovens egressos da Unidade 8200 –, vale hoje US$ 5 bilhões, é negociada publicamente na Nasdaq e inclui entre os seus clientes a maior parte das 100 empresas da Fortune e a maioria dos governos de todo o mundo. A terceira geração da segurança oferecia proteção contra a atividade dos hackers no comércio eletrônico. “E esse seria o maior mercado já existente”, contou-nos Barkat, “porque, até então, os hackers estavam só se divertindo – era um hobby. Mas com a decolagem do comércio eletrônico, eles podiam ganhar dinheiro de verdade.”

Barkat também acreditava que a Fraud Sciences tinha a melhor equipe e a melhor tecnologia para a defesa contra fraudes na internet e nos cartões de crédito. “Você precisa entender a mentalidade israelense”, disse ele. “Quando se desenvolvem tecnologias para encontrar terroristas – onde inúmeras vidas inocentes pesam na balança –, então encontrar ladrões é bem mais simples.”

Depois de negociações que duraram apenas alguns dias, eles chegaram a um acordo no valor de US$ 169 milhões. Thompson contou-nos que a equipe da PayPal pensava que poderia se safar com um preço baixo. Quando o processo de negociação começou, e Shaked ficou firme no número mais alto, Thompson presumiu que fosse apenas um blefe. “Nunca tinha visto uma expressão tão convincente nem mesmo em um jogador de pôquer. Ele estava totalmente sério. Os sujeitos da Fraud Sciences tinham uma ideia perfeita de quanto valia a sua empresa. Não eram profissionais de vendas. Não estavam exagerando. Shaked simplesmente não se desviou da proposta. Em suma, ele nos disse: ‘Esta é a nossa solução. Sabemos que é a melhor. É isso que achamos que a empresa vale’. E acabou. Ele transmitia uma veracidade e uma autenticidade que raramente se veem.”

Pouco tempo depois, Thompson estava em um avião para visitar a empresa que acabara de comprar. Durante a última etapa do voo de 24 horas que partira de São Francisco, cerca de 45 minutos antes de pousar, enquanto bebericava um cafezinho para acordar, ocorreu-lhe olhar para a tela onde era exibida a trajetória do avião sobre um mapa. Ali, acompanhou a figura do aviãozinho no fim da trajetória do voo, prestes a pousar em Tel-Aviv. Estava tudo bem, até ele perceber o que mais havia no mapa, o qual, àquela altura, mostrava apenas os lugares que estavam bem próximos. Estavam visíveis os nomes dos países da região e das suas capitais, distribuídos em um círculo ao redor de Israel: Beirute, Líbano; Damasco, Síria; Amã, Jordânia; e Cairo, Egito. Por um instante, ele entrou em pânico: “Comprei uma empresa ali? Estou voando para uma zona de guerra!”. É claro que ele sabia de antemão quem eram os vizinhos de Israel, mas não se dera conta de como Israel era pequeno e como aqueles vizinhos eram próximos. “Foi como se eu estivesse voando para Nova York e de repente visse o Irã onde deveria ser Nova Jersey”, recordou ele.

Não demorou muito tempo, porém, depois que desembarcou do avião, para sentir-se mais à vontade em um lugar que não só era chocantemente pouco familiar, como também o recebeu com algumas surpresas agradáveis. A sua primeira impressão mais forte foi no estacionamento da Fraud Sciences. Todos os automóveis exibiam um adesivo da PayPal no para-choque. “Jamais se vê esse tipo de orgulho ou entusiasmo em uma empresa americana”, disse-nos ele.

Outra coisa que sensibilizou Thompson foi o comportamento dos funcionários da Fraud Sciences durante a reunião geral, na qual ele se pronunciou. Todos os rostos estavam fixos nele. Não se via ninguém ao celular, distraído ou sonolento. A intensidade aumentou ainda mais quando ele deu início à sessão de debate: “Todas as perguntas eram inteligentes. Eu realmente comecei a ficar nervoso naquele momento. Nunca ouvira tantas observações não convencionais – uma atrás da outra. E não se tratava de pessoas do meu nível ou de supervisores, mas de funcionários da base da hierarquia. Eles não mostravam nenhuma inibição em questionar a lógica por trás da maneira como vínhamos fazendo as coisas na PayPal havia anos. Nunca tinha visto aquele tipo de atitude totalmente desprendida, desembaraçada e concentrada. Surpreendi-me pensando: ‘Quem trabalha para quem?’”.

O que Scott Thompson estava vivenciando era a sua primeira dose do chutzpah israelense. De acordo com a explicação do erudito judeu Leo Rosten para o termo em iídiche – a língua eslavo-germânica ainda bem viva da qual o hebraico tomou emprestada a palavra –, chutzpah significa “desplante, atrevimento, ousadia, uma incrível firmeza de caráter, mais um misto de presunção e arrogância a que nenhuma outra palavra e nenhuma outra língua podem fazer justiça”. Alguém de fora identificaria o chutzpah por toda parte em Israel – a maneira como os estudantes universitários falam com os professores, os funcionários desafiando os chefes, os sargentos questionando os generais e os secretários advertindo ministros do governo. Para os israelenses, porém, isso não é chutzpah, é a maneira normal de ser. Em algum momento da vida – em casa, na escola ou no exército –, os israelenses aprendem que a assertividade é a norma, enquanto a indecisão é algo com que você se arrisca a ser deixado para trás.

Divulgação Nação Empreendedora – O Milagre Econômico de Israel e o Que Ele Nos Ensina 
Autores_Dan Senor e Saul Singer; 
Páginas_320; Editora_Évora
 
Fontes:

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Top Post Ad

Below Post Ad

Ads Section