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Como Israel ajudou a criar o grupo islâmico que viria a ser seu maior inimigo

Simpatizantes do Hamas mascarados participam de um protesto contra a ofensiva israelense em Gaza - ABED OMAR QUSINI / REUTERS


Governo israelense possibilitou a ascensão do Hamas, e entidade palestina agradece ao Estado judaico pela sua existência

POR ISHAAN THAROOR / THE WASHINGTON POST

WASHINGTON — Todos os sinais indicam que o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está preparado para travar uma batalha prolongada na Faixa de Gaza e se destina a acabar com o poder do grupo militante islâmico Hamas. O conflito em curso já custou um alto preço, com a contagem de mortes de palestinos passando de 1.300 ao longo de três semanas.

Netanyahu quer desmilitarizar totalmente o grupo palestino, começando com a rede de túneis que permite aos combatentes do Hamas se infiltrarem em território israelense. Mas os extremistas bateram o pé, e um porta-voz disse que “ameaças não assustam o Hamas ou o povo palestino.” A luta atual — um confronto entre forças armadas superiores de Israel e os insurgentes do Hamas — ofusca o maior desafio dos israelenses e palestinos, incluindo a espinhosa questão de como conceder direitos iguais a milhões de palestinos que vivem sob a ocupação.

O conflito também obscurece a curiosa história do Hamas. Até certo ponto, a organização islâmica, cuja ala militante disparou milhares de foguetes sobre Israel nas últimas semanas, agradece ao Estado israelense pela sua existência. O Hamas lançou em 1988, em Gaza, na primeira intifada ou levante, uma carta de repúdio aos judeus e se recusou a aceitar a existência do Estado de Israel. Mas, por mais de uma década, autoridades israelenses permitiram ativamente a sua ascensão.

Na época, o principal inimigo de Israel era o partido Fatah, do falecido Yasser Arafat, que funcionava como o coração da Organização de Libertação da Palestina (OLP). O Fatah era secular e inspirou outros movimentos guerrilheiros esquerdistas revolucionários que travaram insurreições em outras partes do mundo durante a Guerra Fria. A OLP realizou assassinatos, sequestros e, embora reconhecida por países vizinhos árabes, foi considerada uma entidade terrorista por Israel, e agentes nos territórios ocupados enfrentaram repressão brutal nas mãos do Estado a da segurança israelense.

Enquanto isso, as atividades de islamistas afiliados à Irmandade Muçulmana do Egito foram autorizadas a céu aberto na Faixa de Gaza — uma mudança radical comparada à época de quando o território palestino foi administrado pelo governo egípcio de Gamal Abdel Nasser. O Egito perdeu o controle da Faixa de Gaza para Israel depois da Guerra dos Seis Dias, e viu o vizinho se apoderar da Cisjordânia. Os israelenses enxergaram nos partidários da Irmandade Muçulmana um contrapeso útil para a OLP de Arafat.

— Quando olho para trás, para a cadeia de eventos, acho que nós cometemos um erro — disse um funcionário do governo israelense que havia trabalhado em Gaza em 1980, em uma entrevista de 2009 para o jornal americano “Wall Street Journal”. — Mas na época ninguém pensou sobre os possíveis resultados.

Israel começou a apoiar o clérigo Sheikh Yassin, que montou uma ampla rede de escolas, clínicas e biblioteca. Yassin formou o grupo islâmico al-Islamiya Mujama, oficialmente reconhecido pelo governo israelense como uma instituição de caridade e, em seguida, em 1979, como uma associação. O país também aprovou a criação da Universidade Islâmica de Gaza, que agora considera como um viveiro da militância. A universidade foi um dos primeiros alvos atingidos pelos aviões israelenses na Operação Chumbo Fundido, em 2008.
O grupo Mujama se tornaria o Hamas. Israel prendeu Yassin em 1984, condenando-o a uma sentença de 12 anos após a descoberta de esconderijos de armas escondidas, mas ele foi libertado um ano depois. Na época, os israelenses deveriam estar mais preocupados com outros inimigos.

Mais tarde, as mesas foram viradas. Após os Acordos de Olso em 1993, com o reconhecimento formal de Israel da OLP e o início do que hoje conhecemos como o processo de paz, o Hamas virou inimigo dos israelenses. O grupo islâmico se recusou a aceitar Israel ou renunciar à violência e se tornou talvez a principal instituição da resistência palestina à ocupação israelense. Muito além de ideologia religiosa, essa é a principal razão para sua popularidade em Gaza.

Yassin foi morto em um ataque aéreo israelense em 2004. Em 2007, depois de uma vitória eleitoral do Hamas, que irritou tanto o Ocidente quanto o Fatah, o grupo islâmico assumiu o poder na Faixa de Gaza. O fato levou aos rigorosos bloqueios israelenses e à piora do conflito, que mais uma vez se repete.
Para o especialista em Oriente Médio do Centro Woodrow Wilson, Aaron David Miller, o Hamas depende de “uma ideologia e estratégia rica em confronto e de resistência.”
— (São) dois partidos que não conseguem viver um com o outro. Ou aparentemente um sem o outro — afirmou Miller.

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