
Kulam lishkvav! Todos no chão.
Somos do exército Israelense”. Com estas palavras, o soldado Amos Goren
anunciava às 103 pessoas mantidas como reféns por um grupo de
terroristas, no Aeroporto Internacional de Entebe, que a história de seu
trágico sequestro, iniciado no dia 27 de junho de 1976, poderia ter um
final feliz.
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Airbus A 300 da Air France |
Inicialmente
denominada “Operação Thunderball”, tornou-se internacionalmente
conhecida como “Operação Yonathan” e foi tema de inúmeros filmes e
livros. O nome da missão foi modificado em homenagem ao comandante da
força-tarefa, o tenente coronel Yonathan Netanyahu (irmão do ex-Primeiro
Ministro Benjamin Netanyahu), único militar israelense morto durante a
ação. Essa foi a missão mais famosa da unidade Sayeret Mat'kal.
O drama dos reféns
começou com o seqüestro do Airbus A 300 da Air France durante o vôo AF
139, Tel Aviv-Paris, com escala em Atenas, na Grécia, com 258 pessoas a
bordo. Oito minutos após a decolagem, a aeronave foi dominada por quatro
terroristas, dois dos quais possuíam passaportes de países Árabes, um
do Peru com o nome de A. Garcia e uma mulher do Equador de nome Ortega.
Posteriormente, descobriu-se que os dois últimos eram membros da
organização terrorista Alemã Baader-Meinhof (Wilfried Bõse "Garcia" e
Gabriele Krõcher-Tiedemann "Ortega" ). O avião foi desviado para Entebe
após aterrissar em Bengazi, na Líbia, para reabastecimento e chegou a
Uganda na madrugada do dia 28.
Os quatro terroristas
haviam vindo do Kuwait pelo vôo 763 da Singapore Airlines e iam com
destino a Bahrein. Entretanto, ao desembarcar em trânsito, os quatro
dirigiram-se ao check-in do vôo AF 139 da Air France.
Pilotado pelo comandante Michel Bacos, o avião francês decolou do aeroporto Ben-Gurion às 8h59, chegando em Atenas às 11h30.
Desembarcaram 38
passageiros e embarcaram 58, entre os quais, os quatro sequestradores. O
total a bordo era então de 246 pessoas, mais a tripulação.
12h20, a aeronave
já cruza os céus novamente rumo ao seu destino final: Paris. Oito
minutos após a decolagem, enquanto as aeromoças preparam-se para servir o
almoço, os terroristas assumem o controle do avião.
As autoridades
aeroportuárias em Israel e a estação de controle da Air France percebem
que perderam contato com o vôo AF 139, alguns minutos após a decolagem
em Atenas. Os ministros de Transporte e da Defesa, que participam da
reunião semanal do gabinete com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, são
imediatamente informados. Apesar de não saber ainda o que acontecia a
bordo, o setor de Operações das Forças de Defesa de Israel (FDI)
prepara-se para um eventual pouso da aeronave em Lod.
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Símbolos da FPLP e do RAF |
14h00, o Airbus
comunica-se com a torre de controle do aeroporto de Bengazi, Líbia,
solicitando combustível suficiente para mais quatro horas de vôo, além
de pedir que o representante local da Frente Popular para a Libertação
da Palestina (FPLP) seja encaminhado ao local. Descobriu-se então que a
FPLP estava a frente do sequestro.
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Gabriele Tiedemann e Wilfred Bose
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14h59,
o aparelho desce em Bengazi e apenas uma mulher é libertada. Ela
consegue convencer os terroristas e um médico líbio que está grávida e
sob risco de aborto. Na verdade, está indo para o enterro de sua mãe em
Manchester, Inglaterra. Após algumas horas, parte para seu destino.
Em Israel, terminada a
reunião, Rabin convoca ao seu gabinete alguns ministros – Peres, da
Defesa; Yigal Allon, das Relações Exteriores; Gad Yaakobi, dos
Transportes; e Zamir Zadok, da Justiça. Fosse qual fosse o desfecho da
história, esses homens teriam que tomar decisões e estavam-se preparando
para isso, pois já sabiam que dentre os passageiros havia 77 com
passaporte Israelense. Rígida censura é imposta aos meios de comunicação
para que não divulguem listas de passageiros e para impedir a
veiculação de informações que possam, de alguma maneira, ajudar os
sequestradores. Iniciam-se, também, contatos com os familiares dos
viajantes.
Em Bengazi o avião
permanece seis horas e meia, durante as quais é reabastecido - "por
preocupação humanitária do governo líbio para com os passageiros",
segundo o coronel Kadafi.
03h15, horário
local em Uganda, 28 de junho, o avião aterrissa no aeroporto de Entebe.
Em Israel, as unidades da FDI, em alerta no aeroporto, recebem ordens
para retornar às suas bases. O que aconteceria dali em diante não
exigiria medidas especiais em território israelense.
Ao amanhecer, paira em
Israel e no mundo um clima cheio de dúvidas. Uganda seria o destino
final dos seqüestradores ou apenas uma escala para abastecimento? Como
estaria reagindo o governo de Idi Amin Dada diante dos acontecimentos –
seriam anfitriões hostis ou parceiros no seqüestro? Afinal, desde 1972,
as relações entre Israel e Uganda não eram amigáveis, pois o governo
israelense havia-se recusado a fornecer jatos Phantom ao país, sabendo
que Uganda pretendia usá-los para bombardear o Quênia e a Tanzânia. Idi
Amin havia, então, expulsado todos os israelenses do país.
Oficialmente, o ditador
de Uganda adotou uma atitude neutra em relação aos seqüestradores, mas
na realidade eles eram bem-vindos. Líderes palestinos encontravam-se no
aeroporto para receber o avião, bem como unidades do Exército de Uganda.
Os reféns foram conduzidos para o prédio do antigo terminal do
aeroporto.
Na terça-feira, dia 29,
uma mensagem vinda de Paris, que primeiramente foi divulgada pela rádio
de Uganda, revela os objetivos dos seqüestradores: a libertação até às
14h do dia 1 de julho de 53 terroristas – 13 detidos em prisões da
França, Alemanha Ocidental, Suíça e Quênia, e 40 em Israel. Caso suas
reivindicações não fossem atendidas explodiriam o avião com todos os
passageiros.
Israel, a nação mais
afetada, havia sempre deixado claro que nunca negociaria com o
terrorismo e que estava preparado para derramar o sangue de seus
cidadãos a fim de se ater a seus princípios. Em maio de 1974, por
exemplo, terroristas tinham seqüestrado os alunos de uma escola de
Maalot, na Galiléia; as Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram o
edifício e fuzilaram os pistoleiros, mas à custa de 22 crianças mortas.
Em Entebbe, entretanto, parecia impossível que Israel reagisse, pois
apenas 105 reféns eram judeus - e o governo israelense seria criticado
pela opinião pública mundial se pusesse em risco a vida dos outros.
Na quarta-feira, 30,
França e Alemanha afirmam que não soltariam os terroristas, posição que
se supunha seria a mesma de Israel. A França, no entanto, revela uma
certa flexibilidade ao anunciar que seguiria a posição do governo
israelense que, até então, mantinha-se em compasso de espera, aguardando
o desenrolar dos acontecimentos.
Curiosamente, na mesma
quarta-feira,foram os próprios terroristas que desperdiçaram sua maior
vantagem. Sem atinar para as implicações de seu ato, separaram os reféns
não-judeus e, aparentemente num gesto de consideração para com os
outros países, permitiram que 47 reféns, – exceto israelenses ou judeus –
retomassem sua viagem para a França. O capitão Bacos e sua tripulação
recusam-se a acompanhar o grupo, afirmando que não abandonariam os
demais passageiros. Uma freira francesa também insiste em ficar, mas é
impedida pelos terroristas e pelos soldados ugandenses.
A libertação de alguns
reféns e a evidência cada vez maior de que o principal alvo dos
terroristas era pressionar Israel, aumentam a tensão em Israel e a
pressão dos familiares para que o país atenda às exigências dos
sequestradores. Nos círculos militares e altos escalões do governo,
reuniões e mais reuniões são realizadas, além do levantamento de
informações feito pela Inteligência em busca de dados que possam ser
úteis a uma eventual ação de resgate. Novos nomes integram-se às
reuniões entre as FDI e os ministros, entre os quais, o general
brigadeiro Dan-Shomron, 48 anos, chefe dos pára-quedistas e oficial de
infantaria; o general Benni Peled; e Ehud Barak, vice-diretor do Serviço
de Inteligência das FDI.
Agentes secretos
Israelenses do Mossad, interrogaram os reféns liberados a respeito dos
sequestradores; número, nacionalidades, armamento, idioma, vestuário,
rotina, e sobre as forças ugandenses no local e tudo que tivessem algum
valor para uma possível missão de resgate em Entebbe. Uma fonte muito
importante foi um passageiro Francês de origem judaica que havia sido
erroneamente libertado com os reféns não judeus. O homem tinha
treinamento militar e "uma memória fenomenal" segundo Muki Betzer,
permitindo a coleta da inteligencia sobre o número de armas e dos
sequestradores, entre outras informações úteis.
A confirmação dada pelos
reféns soltos, meticulosamente entrevistados pelos serviços secretos da
França e de Israel, de que o governo de Idi Amin estava apoiando os
terroristas foi fundamental para as medidas que seriam tomadas por
Israel a partir de 1 de julho, quinta-feira, quando, 90 minutos antes de
expirar o prazo dado pelos sequestradores, o gabinete se reúne e aprova
o início de negociações com os terroristas. Estes, por sua vez, afirmam
não estar interessados em negociações e sim no atendimento de suas
reivindicações, estendendo o prazo até às 14h do dia 4 de julho. Esta
prorrogação de prazo iria se revelar crucial para permitir que as forças
Israelenses tivessem tempo suficiente para chegar a Entebbe.
É nesse 1 de julho que o
Serviço de Inteligência descobre que o aeroporto de Entebe fora
construído por uma empresa israelense – Solel Boneh, o que possibilita o
acesso às plantas originais do local. Cada vez mais, após intensos
encontros com oficiais do exército, Peres convence-se de que a opção
militar é possível e que é apenas uma questão de tempo para que todas as
peças do quebra-cabeça se encaixem. Tempo, no entanto, é algo que
Israel não tem.
A opção militar desponta como caminho viável. A principio os israelenses trabalham com três opções:
a) Um lançamentos de pára-quedistas no Lago Victoria e um silencioso desembarque em Entebbe usando barcos de borracha;
B)
Um cruzamento em grande escala do Lago Victoria, partindo da margem
queniana - usando barcos que poderiam ser alugados, emprestados ou
simplesmente roubados;
c) Um pouso
direto em Entebbe, seguido de um assalto rápido e uma remoção imediata
dos reféns por ar por forças especiais da unidade Sayeret Mat'kal.
Nos dois primeiros
planos, após libertar os reféns, os israelenses iriam depender da ajudar
de Idi Amin ou da intervenção da ONU para sair de Uganda. Porém nas
próximas horas, as duas primeiras opções seriam descartadas por razões
militares e porque os dados colhidos em Paris confirmavam que Idi Amin
estavam apoiando os terroristas. Sendo assim o assalto direto a Entebbe
seria a opção adotada.
O General-Brigadeiro Dan
Shomron é nomeado comandante da missão em terra e Yoni Netanyahu,
comandante da unidade Sayeret Mat'kal, comandante da força-tarefa que a
executará. Uma réplica do antigo terminal de Entebe é construída para
simulação da operação, com base nas plantas obtidas junto à Solel Boneh e
em fotografias aéreas, e os comandos começam a treinar. Enquanto isso,
um grupo de 101 reféns – excluindo-se israelenses e judeus de outras
nacionalidades – chega a Paris. Trazem duas informações essenciais para
Israel: a primeira, de que haveria menos pessoas para resgatar; a
segunda, de que apenas judeus estavam sendo mantidos como reféns, além
da tripulação, o que, para o governo, significava que os seqüestradores
possivelmente acabariam matando a todos, mesmo que suas exigências
fossem atendidas.
12h do dia 2 de julho,
sexta-feira, os chefes dos comandos da missão, então denominada
“Thunderball”, apresentam os planos detalhadamente para Shomron. Duas
horas depois, Yoni reúne-se com os oficiais para as ordens finais, antes
de mais uma simulação na réplica do aeroporto, incluindo o pouso dos
aviões nas pistas sem iluminação de Entebe. O ensaio levou 55 minutos,
do momento em que o avião aterrissou até a sua decolagem. A preocupação
maior entre todos os envolvidos é obter o máximo do “elemento-supresa”.

Pára-quedista israelense da unidade de reconhecimento de elite Sayeret
Tzanhanim. Ele está usando um uniforme padrão das FDI, com o novo
modelo de capacete, que teve sua estréia em Entebbe. Ele está armado com
o novo fuzil-automático Galil de 5,56mm introduzido recentemente nas
FDI. Ele carrega granadas de rifle HE do Galil nas costas e luzes de
emergencia para serem usadas na pista de pouso.
As tropas que realizariam a ação em terra estavam divididas em cinco grupos de assalto:
Grupo de Assalto 1: se encarregaria da segurança da pista e dos aviões (era formado por 33 médicos que também eram soldados);
Grupo de Assalto 2: tomar o edifício do antigo terminal e libertar os reféns;
Grupo de Assalto 3: tomar o edifício do novo terminal;
Grupo de Assalto 4:
impedir a ação das unidades blindadas de Idi Amin (estacionadas em
Kampala, a 30 km de distância) e destruir os aviões de combate
ugandenses Mig 17 e Mig 21 estacionados no aeroporto, para impedir uma
possível perseguição. Este grupo também iria cobrir a estrada de acesso
ao aeroporto, pois sabia-se que o Exército ugandense tinha tanques T-54
soviéticos e carros blindados OT-64 tchecos para transporte de tropas a
aproximadamente 32 km da Capital Kampala;
Grupo de Assalto 5:
evacuar os reféns, conduzindo-os para o Hércules que estaria à espera e
seria reabastecido no local ou em Nairóbi, no vizinho Quênia - um dos
poucos países africanos amigos de Israel.
Levando em conta que
haveria inúmeras baixas, um Boeing 707, transformado em avião-hospital,
voaria diretamente para Nairóbi durante o ataque. Ao mesmo tempo, outro
707 sobrevoaria Entebbe transmitindo informações ao quartel-general em
Israel.
Na
medida do possível, tudo foi feito para eliminar os riscos. Sabia-se,
por exemplo, que Amin uma vez chegara a Entebbe num Mercedes preto
escoltado por um Land Rover, e veículos como esses foram embarcados no
Hércules que iria à frente, com o objetivo de confundir os ugandenses
nos vitais primeiros minutos.
1h da madrugada do dia 3 de julho, sábado, Motta Gur telefona para Peres e o informa que os homens estão preparados e que a operação pode ser executada.
13h20 do dia 3 de julho de 1976,
sábado, o tenente coronel Joshua Shani inicia a decolagem do primeiro
dos quatro aviões Hércules C-130, do Aeroporto Internacional Ben-Gurion,
em Lod, com destino a Entebe. Poucos segundos depois, cada um dos
outros aparelhos também parte, porém em direções diferentes. Afinal, a
passagem de quatro Hippos (“hipopótamos”), como são descontraidamente
chamados por suas tripulações, em horários semelhantes, não passaria
desapercebida sobre os ensolarados céus de Tel Aviv, durante um verão
que prometia ser tão quente quanto os anteriores. E o que menos se
pretendia, naquele dia, era chamar a atenção e provocar especulações.
A bordo dos Hippos, a
força-tarefa especial comandada por Shomron e Yoni tinha um objetivo bem
definido: libertar os reféns em Entebe. Apesar de a missão de resgate
não haver sido, ainda, aprovada pelo gabinete israelense, a partida dos
aviões fora autorizada pessoalmente por Rabin, senão não haveria tempo
hábil para sua execução. A permissão fora dada a Motta Gur.
O ponto fundamental no
plano de Shomron consistia em fazer aterrissar o primeiro Hércules
imediatamente atrás do avião de carga inglês que estava sendo esperado
em terra, pois este não apenas absorveria a atenção dos operadores de
radar ugandenses como também encobriria o ruído feito pêlos aviões
israelenses. A precisão tinha de ser absoluta - e foi. Sete horas depois
da decolagem, a força israelense aproximava-se de Entebbe, num céu
carregado de chuva, sempre na escuta do comandante inglês, que recebia
as instruções da torre de controle. O C-130 de Shomron colocou-se
exatamente atrás do cargueiro.
Eram 23h e o tenente
coronel Shani desce silenciosamente o seu Hippo em Entebe depois de sete
horas e meia de vôo e a distância de quatro mil quilômetros desde a
decolagem em Israel. A lendária capacidade de precisão de aterrissagem
do Hércules foi bem explorada. O pessoal que deveria cuidar da segurança
da pista desceu rapidamente. Os operadores de radar não perceberam o
intruso e nenhum alarme foi dado. Por esse erro, seriam logo depois
mortos pelo enraivecido e humilhado Idi Amin.
O Hércules seguiu para
uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, o
Mercedes e dois Land Rover desceram a rampa, transportando o grupo que
iria assaltar o velho terminal. O Hércules seguiu para uma área mais
escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, dez membros da
brigada de infantaria Golani saltam do avião e espalham sinais para
orientar a aterrissagem das outras três aeronaves, que se aproximam
rapidamente. A rampa de carga é aberta e por esta desliza um Mercedes
preto, artifício considerado fundamental para a missão, dois Land Rover e
35 membros da força-tarefa, entre eles Netanyahu. Os militares que iam
no Mercedes estavam vestidos com uniformes ugandenses.
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Momento dramático, troca de tiros com os Ugandenses |
Mas
os ugandenses logo perceberam a farsa e a 100 m do terminal duas
sentinelas, com metralhadoras apontadas, ordenaram ao carro que parasse.
Netanyahu e outro oficial abriram fogo com pistolas dotadas de
silenciador, atingindo um dos homens, e o grupo seguiu em frente até uns
50 m do edifício, A partir daí, os israelenses foram a pé. Os reféns
estavam todos deitados no salão principal e muitos dormiam. Quatro
terroristas haviam sido deixados montando guarda, um à direita, dois à
esquerda e um no fundo do salão. Todos estavam de pé e puderam ser
identificados .por causa das armas que portavam. Apanhados de surpresa,
foram mortos imediatamente, e o grupo de assalto subiu pelas escadas. Os
reféns advertiram que havia mais terroristas e soldados ugandenses no
andar de cima. As ordens eram para tratar os ugandenses como inimigo
armado, se abrissem fogo; caso contrário, seriam poupados. Mas para os
terroristas não haveria misericórdia. Diversos deles foram eliminados à
queima-roupa enquanto dormiam. Ao todo, morreram 35 ugandenses e treze
terroristas - entre os quais Bõse e Krôcher-Tiedemann. Cerca de sessenta
soldados ugandenses fugiram do edifício. A ação no terminal antigo
durou três minutos.
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Yoni Netanyahu |
Sete minutos depois que o
primeiro Hércules aterrissou, o segundo pousava, seguido pelo terceiro e
pelo quarto. Logo que as rampas eram baixadas, jipes e veículos de
transporte saíam em disparada, atravessando a pista. O grupo comandado
pelo coronel Matan Vilnai assaltou o edifício do novo terminal, que
havia sido apressadamente abandonado pêlos ugandenses. As tropas de Amin
pareciam totalmente confusas e incapazes de esboçar uma reação
coerente. A única resistência determinada vinha da torre de controle, de
onde partiu a rajada que feriu mortalmente Netanyahu, postado do lado
de fora do velho terminal. Mas a unidade de Vilnai eliminou esse núcleo
de oposição graças ao fogo concentrado de metralhadoras e
lança-granadas.
Operador
da Sayeret Mat'kal em Entebbe, julho de 1976. Ele está armado com fuzil
automático AK-47 de fabricação soviética e para confundir o inimigo,
está usando um uniforme camuflado sírio. O ditador Idi Amin usava
seguranças palestinos que vestiam uniformes camuflados com esta estampa.
O grupo do coronel Uri
Orr encarregou-se do embarque dos reféns no avião que os aguardava. A
equipe que tinha ordens de eliminar os Migs 21 e 17 ugandenses levou
poucos minutos para transformar onze deles em bolas de fogo com rajadas
de metralhadoras. O último dos quatro Hippos, com Shomron a bordo, parte
de Entebe às 00h30 do dia 4 de julho – 90 minutos depois de o primeiro
ter aterrissado.
Após uma breve escala em
Nairobi, para reabastecimento e a transferência dos feridos para um
Boeing com um hospital a bordo. Apesar de todos os esforços dos médicos –
então chefiados pelo coronel Ephraim Sneh, Yoni não resiste aos
ferimentos e falece. O saldo total de mortos da Operação Yonatan: 4
–Yoni e três reféns – dois mortos no fogo cruzado com os terroristas e
uma senhora de idade, Dora Bloch, que havia sido transferida para um
hospital de Uganda e que posteriormente foi assassinada por ordem de Idi
Amin. Depois de reabastecer, os israelenses tomaram o caminho de volta,
às 4h08.
Nas primeiras horas da
manhã do dia 4 de julho, o Hippo pilotado por Shani sobrevoa Eilat e
desce em uma base da Força Aérea de Israel (FAI) na região central do
país. Enquanto os reféns são atendidos pelas equipes de terra, as
unidades de combate descarregam seus equipamentos. Em seguida, retornam
às suas bases e retomam suas funções de rotina, afastados da euforia que
tomava conta de Israel e da admiração e respeito que haviam conquistado
em todo o mundo pelo que haviam feito naquela noite. Para eles, mais
uma missão fora cumprida... Era o seu dever, para o qual são treinados.
Ainda no dia 4,
aproximadamente ao meio-dia, um Hércules da FAI aterrissa no Aeroporto
Internacional Ben-Gurion. De suas portas traseiras, 102 pessoas -
homens, mulheres e crianças - correm em segurança para se reunir a seus
familiares e amigos. A Operação Entebbe permanecerá para sempre como um
feito extraordinário na história da aviação, embora a sorte tenha sido
um fator essencial. Mas esse resgate nem mesmo seria cogitado se, para
executá-lo, não existissem homens motivados e treinados em um nível
verdadeiramente fantástico.
Nota: Segundo algumas
informações, o Coronel Ulrich Wegener comandante da unidade
antiterrorista alemã GSG 9, estava entre os comandos israelenses durante
a operação, possivelmente devido à presença dos dois terroristas
alemães. Em 1977, esta unidade realizaria uma grande operação de resgate
também na África em Mogadíscio na Somália, quando Boeing 737 da
Lufthansa foi sequestrado.
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Mota Gur (esq) e Dan Shomron |
Em 2001, Dan-Shomron,
relembrou os fatos do resgate em Entebbe com naturalidade e não gostou
muito de mencionar a palavra heroísmo quando falava da missão. Em uma
entrevista publicada pela revista do The Jerusalem Post, no mês de junho
de 2001, Shomron – que foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de
1987 a 1991 – afirma que vários fatores contribuíram para o êxito da
missão.
O resgate foi planejado
nos seus mínimos detalhes, considerando-se o tempo necessário para todas
as etapas, incluindo as baixas que poderiam ocorrer. Segundo o ex-chefe
das Forças Armadas, Entebe não foi uma missão suicida. Além dos dados
precisos, o grupo era formado por cerca de 200 soldados escolhidos entre
os melhores do país, dos mais altos escalões em cada unidade das FDI.
Shomron relembra que os
estrategistas já sabiam que o aeroporto de Entebe fora construído por
uma empresa israelense – o que permitiu o acesso às plantas do local;
informações importantes também foram obtidas junto a diplomatas e
empresários israelenses que, até 1972, viajavam freqüentemente a Uganda,
além da própria FAI, que, em função das boas relações diplomáticas
entre Israel e Uganda no passado, conhecia bem as instalações. Reféns
soltos pelos terroristas antes do dia 3 de julho também forneceram
detalhes essenciais sobre o número de seqüestradores e sobre o local no
qual haviam sido mantidos presos, Um dos reféns libertados
posteriormente foi o rabino Raphael Shamah, na época estudante de uma
Yeshivá em Israel.
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Reféns chegam a Israel |
“Nós sabíamos que havia
grandes probabilidades de o aeroporto ter passado por algumas
modificações desde a sua construção. Mas estes dados também poderiam ser
obtidos de alguma maneira. O elemento mais importante com o qual
contávamos, no entanto, era a surpresa. Ninguém poderia imaginar que
Israel tentaria realizar uma missão de resgate a quatro mil quilômetros
de distância de suas fronteiras, sobrevoando o espaço aéreo de países
hostis. Este elemento não poderia ser desperdiçado. Nós sabíamos que, se
conseguíssemos chegar ao local sem ser descobertos, qualquer ação após o
pouso em Entebe teria que ser muito rápida e deveria ser efetuada antes
que os terroristas ou os soldados ugandenses que os apoiavam pudessem
perceber o que estava acontecendo”, relembra Shomron. E acrescenta:
“O fato de não ser
plausível era um ponto essencial para o sucesso”. Mais um fator
contribuiu para o êxito da missão. Dos 13 terroristas envolvidos no
sequestro, apenas oito estavam no local. Segundo Shomron, aparentemente
os demais estavam fora do aeroporto. Os soldados Ugandenses também foram
rapidamente dominados pelos comandos Israelenses.
Quando perguntado como
via a missão 25 anos depois, respondeu: “Combater o terrorismo exige,
antes de mais nada, vontade política. Não há dúvidas de que o resgate
provocou um impacto muito grande em Israel e no mundo, pois mostrou que é
possível enfrentar o terror onde quer que este se manifeste. Desde
então, vários países criaram unidades de combate ao terrorismo e
aumentou o intercâmbio entre os vários Serviços de Inteligência”. Mas
ele faz uma ressalva:

Fonte: itonsheli.blogspot.pt