Hamas ameaça atacar aeroporto de Tel Aviv; Domo de Ferro intercepta três mísseis
FAIXA DE GAZA/TEL AVIV — Apesar dos apelos da comunidade internacional por um cessar-fogo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou nesta sexta-feira que nenhuma pressão internacional impedirá seu país de “atacar os terroristas”.
A aviação israelense realizou 210 ataques na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas, contra 194 foguetes disparados a partir do território controlado pelo Hamas, elevando o número de palestinos mortos para mais de 100. O grupo militante islâmico, por outro lado, lançou mais uma ameaça contra Israel, dizendo que o aeroporto internacional de Ben-Gurion, em Tel Aviv, era um de seus alvos nesta sexta-feira. Sirenes de alerta aéreo soaram na região, com a intercepção de três projéteis lançados a partir de Gaza, e as atividades no aeroporto tiveram de ser interrompidas por alguns minutos.
O Hamas reivindicou o lançamento de quatro foguetes contra o aeroporto, que abriga uma base aérea militar, advertindo as companhias aéreas a não viajarem para a principal porta de entrada de Israel para o mundo. Segundo um porta-voz da Autoridade Aeroportuária de Israel, uma sirene tocou em Ben-Gurion e toda a atividade foi interrompida por cerca de 10 minutos. A paralisação, no entanto, era parte de um alerta geral na área de Tel Aviv e não uma ameaça direta ao aeroporto, de acordo com o porta-voz.
Em uma entrevista coletiva, Netanyahu afirmou que mais de mil alvos que pertencem ao Hamas e à Jihad Islâmica já foram atingidos em Gaza, e que os ataques continuarão até que a paz seja restabelecida aos cidadãos de Israel. Questionado se o governo considerava uma invasão terrestre, ele respondeu que estava “preparando todas as opções”.
— Os líderes do Hamas estão se escondendo atrás dos cidadãos de Gaza, e eles são responsáveis por todas as baixas — afirmou o premier.
O número de mortos no quarto dia da operação israelense batizada de “Limite Protetor” contra alvos do Hamas subiu para 100 em Gaza. Já do lado de Israel, foi registrado o primeiro óbito, com a morte de um soldado. Outros dois ficaram feridos após um veículo militar tombar em Shavei Shomron, no Norte da Cisjordânia. Não ficou claro se há relação com os ataques.
Muitos dos feridos palestinos, que chegam a 675, atravessam a fronteira com o Egito, parcialmente aberta para receber os que não conseguiram vaga em centros médicos. A imprensa palestina informou mais tarde que o país havia fechado a passagem de Rafah, um dia após a reabertura.
O elevado número de civis mortos pelas operações militares de Israel levanta preocupações de que o país possa estar cometendo violações dos direitos humanos, afirmou a comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, nesta sexta-feira. Somente na noite de quinta para hoje, 50 ataques foram realizados pelas forças israelenses. Entre os alvos havia 81 plataformas para lançar foguetes, túneis, postos de controle do Hamas, assim como escritórios de instituições governamentais, disse um porta-voz militar por telefone.
Um fotógrafo da agência AFP viu vários barcos em chamas no porto de Gaza, entre eles o “Gaza Ark”, um grande navio de pesca que pertence a uma organização internacional pró-palestina que pretendia romper o bloqueio marítimo israelense. Segundo informações do Crescente Vermelho palestino, 15 membros de equipes de emergência ficaram feridos e quatro ambulâncias foram destruídas por ataques israelenses.
Dos 194 foguetes lançados em direção ao Sul de Israel, 43 foram interceptados pelo sistema Domo de Ferro. O ministro da Defesa, Moshe Ya'alon, informou que serão instaladas mais baterias antimísseis nos próximos dias. Projéteis disparados por militantes palestinos são em grande parte imprecisos, mas desde o início da operação o Hamas surpreendeu com um poder de fogo até então não visto, alcançando cidades israelenses a mais de 160 quilômetros de Gaza.
Haifa, Hadera, Jerusalém, Beersheba, Dimona e outras localidades israelenses estiveram na mira do Hamas e de outros grupos militantes palestinos nos últimos dias.
A ofensiva acontece após o sequestro e assassinato de três jovens israelenses — atribuídos por Israel ao Hamas —, e o rapto e a morte de um adolescente palestino, num suposto ato de vingança de extremistas judeus. Desde a descoberta dos corpos na semana passada, as tensões elevaram-se na região para o nível mais alto desde 2012, quando 170 palestinos e seis israelenses morreram numa operação militar de oito dias.
FOGUETE LANÇADO A PARTIR DO LÍBANO ATINGE ISRAEL
Outro foguete foi disparado nesta sexta-feira a partir do Sul do Líbano e atingiu um campo na cidade de Kyriat Shmona, no Norte de Israel, sem causar vítimas ou danos, um porta-voz militar. De acordo com a imprensa local, autoridades libanesas detiveram duas pessoas suspeitas de conexão com o ataque.
A artilharia israelense respondeu com granadas lançadas no Sul do Líbano, segundo testemunhas. De acordo com fontes militares, os disparos não parecem ser obra da milícia xiita libanesa Hezbollah, que controla o Sul do Líbano.
— Trata-se, sem dúvida, de uma pequena organização palestina que deseja expressar solidariedade ao Hamas — afirmou um porta-voz militar.
Um foguete explodiu em um posto de gasolina em Ashdod, ferindo ao menos sete pessoas. O projétil causou graves danos ao posto de gasolina, provocando um incêndio.
A pressão da comunidade internacional pelo fim dos ataques aumentou nesta sexta-feira, com o presidente da França, François Hollande, expressando preocupação. Depois de o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelar por um cessar-fogo no dia anterior, Hollande pediu hoje o fim da escalada da violência e que ambos os lados garantam a segurança dos civis.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, por sua vez, exortou os chefes de Estados muçulmanos a ajudarem o povo palestino, de acordo com a agência de notícias Fars.
Ele alertou que o bloqueio a Gaza e a falta de assistência médica podem levar a uma catástrofe humana, acrescentando que ajudar “o povo oprimido da Palestina e impedir o regime sionista de cometer atrocidades são da responsabilidade comum de todas as organizações internacionais e dos países que amam a liberdade”.
Na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse a Netanyahu que os EUA poderiam mediar um acordo de cessar-fogo com o Hamas.