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Omer - Coisas Judaicas |
Rabino Shraga Simmons
O método normal é contar em ordem decrescente até o grande dia, enquanto que no caso do Omer, contamos de um até 50. Por que esta diferença?
O povo judeu saiu do Egito em Pessach, e 50 dias mais tarde (no feriado de Shavuot) receberam a Torá em Monte Sinai. Hoje, ao visitar novamente a experiência do Sinai, fazemos uma mitzvá especial chamada de "Contagem do Omer," onde contamos em voz alta cada um destes dias, começando na segunda noite de Pessach. (O Omer era uma oferenda especial trazida ao Templo Santo durante esta estação.)
Contar em antecipação para um evento excitante é bastante compreensível. Uma vez ou outra, falamos algo parecido como: "Vovó está vindo nos visitar em uma semana meia," ou "Faltam só mais 17 dias para o meu aniversário!" Mas existe uma sutil diferença: O método habitual é contar em ordem decrescente até o grande dia, porém, no caso do Omer, contamos de um a 50. Por que esta diferença?
Impacto em longo prazo
Para entender, primeiro precisamos responder a uma pergunta básica: por que D'us esperou 50 dias após a saída do Egito para entregar a Torá? Por que não entregou no Egito ou durante a partida?
A resposta é que os judeus não estavam preparados espiritualmente para receber a Torá. Por mais de 200 anos, os judeus viveram numa sociedade egípcia conhecida como o centro mundial da imoralidade e do vício. Mesmo sem a participação direta dos judeus, essas influências penetravam no ar e infiltravam em sua consciência. O primeiro livro de Cabalá, "O Zohar," reporta que no Egito os judeus deslizaram ao 49° nível de impureza espiritual. (o 50º é o pior, o mais baixo.) D'us não poderia dar a Torá naquele momento. Os judeus precisavam crescer primeiro, ou então desperdiçariam a oportunidade.
A aventura de grande impacto do Êxodo, as 10 milagrosas pragas e a abertura do Mar Vermelho lançou os judeus numa liberdade física. Porém, os milagres do Egito foram somente um salto inicial para as possibilidades espirituais que viriam adiante. Uma experiência como esta, mesmo sendo tão poderosa quanto é, não muda permanentemente a postura emocional de ninguém. Isto só é possível através da prática e a adequação com o passar do tempo.
Isto me lembra de uma cena do filme "Trading Places". Eddie Murphy foi da pobreza para a riqueza em algumas horas, e a primeira coisa que fez, foi entrar em seu próprio apartamento de luxo para roubar as coisas! Seu corpo físico foi transportado para a opulência, mas emocionalmente foi deixado para trás. Você pode tirar os judeus do Egito, mas não pode tirar o Egito dos judeus.
Eu testemunhei um fenômeno semelhante no Seminário, uma dramática apresentação da base racional da crença judaica. Muitas pessoas deixam o seminário com a assustadora convicção de que D'us existe e que deu a Torá ao povo judeu em Monte Sinai. Mas, sem o acompanhamento, este impacto resiste somente mais alguns dias. A mudança real só acontece com o crescimento constante dia-a-dia através de um comprometimento com um programa de contemplação e estudo.
Agora entendemos por que os 50 dias do Omer são contados em ordem crescente. Começamos o processo no 49° nível de impureza espiritual, e todo dia tiramos mais uma camada de impureza, revelamos o original, a alma pura que cada um de nós possui. É por isso que cada passo reduz o número negativo e aumenta o número positivo, o ato tirar uma camada automaticamente revela o correspondente lado positivo.
Tempo de crescimento
Os comentaristas talmúdicos comentam que os dias de contagem do Omer são os mais adequados para adquirir estes níveis espirituais.
Esta necessidade de crescimento próprio é enfatizada na descrição de Abraão na Torá: "E Abraão era velho, entrado em seus dias; e o Eterno o abençoará em tudo." (Gênesis 24:1). "entrado em seus dias", nos ensina que Abraão usou todos os dias de sua vida de maneira mais proveitosa possível. No fim de sua vida, estava na velhice "com todos os seus dias" na mão. Não houve nenhum dia sem seu crescimento.
Quando se trata de crianças, supomos que o crescimento e o desenvolvimento são partes da infância. Não se espera que uma criança de 10 anos de idade aja da mesma forma com que agiu aos cinco. Mas de alguma maneira, nós, adultos, perdemos o impulso para continuar crescendo. No entanto uma pessoa de 30 anos deve agir da mesma forma que agiu aos 25 anos? Como adultos, podemos usar estes cinco anos de um modo muito eficiente.
A fórmula para estar sempre jovem é continuar crescendo. Perder esta habilidade em qualquer idade é trágico. Quando não estamos crescendo e mudando, não estamos vivendo, estamos somente existindo.
Um passo de cada vez
Um forte impedimento para o crescimento é o sentimento de estar dominado pela grandeza da tarefa. Mas o Judaísmo não é tudo ou nada. Se eu não posso ter 1000 moedas de ouro não significa que não deva me esforçar para ter uma?! A razão pela qual as pessoas falham é o fato de fixarem uma meta muito alta e inacessível. Portanto, inevitavelmente falhamos e ficamos desencorajados.
No famoso sonho de Jacó, D'us lhe mostra uma vista de uma escada que alcança o céu. O crescimento espiritual é como subir uma escada. Devemos dar um passo de cada vez. Fixando pequenas metas, estaremos encorajados pelo periódico sucesso. Para com que o plano seja perfeitamente seguro, tenha como meta inicial algo que sabe que pode alcançar. Experimentar a conquista trará mais confiança e determinação, e desta forma esta energia será usada para se esforçar em metas mais altas. Lembre-se, a jornada mais longa começa somente com um passo. E o que se consegue tranqüilamente, permanece.
Esta história é contada pelo Rabino Yisrael Salanter (Europa do século 19) que tomou para si a função de guiar uma cidade inteira de volta à observância da Torá. Ele marcou uma aula por semana e começou dizendo: "Se você tem que trabalhar no Shabat, tente, pelo menos, minimizar a violação." Hoje em dia, isso significaria caminhar ao invés de vez dirigir ou deixar sua TV programada. Com esta abordagem, o Rabino Salanter conseguiu, depois de alguns anos, trazer a comunidade à observância total do Shabat, um passo de cada vez.
Ter prazer ao conquistar sua meta e usá-la como motivação para melhorar mais. Não se castigue por não ter sucesso sempre. Nenhum ser humano é perfeito. Os Cabalistas dizem que o crescimento espiritual são "dois passos para frente e um para trás". Inevitavelmente teremos retrocessos. Mas, o importante é que estejamos indo na direção certa.
O rei Solomão nos fala em Provérbios (24:16): "Porque sete vezes cairá o Tzaddik e se levantará". A definição de um Tzadik não é alguém que nunca cometeu erros, e sim alguém que, embora possa falhar, não desiste. Tenta novamente e não se desespera!
Contabilidade espiritual
Um princípio importante para se lembrar é que você não está competindo com ninguém e sim com você mesmo. A sociedade secular nos acostumou a competir contra outros em negócios ou na quadra de tênis. Com certeza, a competição saudável é boa. Mas a vida não é uma corrida para bater no outro; e sim uma corrida para conquistar você mesmo. Conforme subimos as escadas o mais importante é a direção que estamos e não o degrau.
Em nenhuma parte da Torá é mencionada a data de Shavout. Isto acontece no fim de 50 dias, porque o mais importante é chegar lá com seu próprio passo, subindo os degraus. Para manter o crescimento, uma boa regra é estar sempre um pouco desconfortável. Não queremos subir uma escada e ficar preso entre os degraus!
Escrever também ajuda a reforçar suas metas. A escrita ajuda a se concentrar e clarificar seus pensamentos. Um homem de negócios com certeza escreveria por extenso suas metas e manteria um registro apurado de seu progresso. No Judaísmo, isto é chamado Cheshbon, uma contabilidade espiritual.
Mantenha um caderno para anotar diariamente suas metas, e faça um esquema para localizar seu progresso. Coloque-o num lugar visível, perto do seu despertador ou na geladeira, e então revisa suas metas em voz alta. A Torá, ao descrever o Omer, diz, "contareis para vós" (Levítico 23:15), pois cada pessoa deve fazer isto sozinha, falando em voz alta.
Como para qualquer coisa, a chave é a estabilidade. Escolha um tempo conveniente e comprometa-se a trabalhar nesta meta pelo menos 15 minutos todo dia. Não deixe o aprendizado para depois, senão pode ficar muita tarde e você estará cansado. Diga a si mesmo que vai dedicar 15 minutos e nada vai lhe parar. Feche a porta, desligue o telefone. Se precisar de um lembrete fale com seu amigo.
Idealmente, no fim do processo do Omer, teremos experimentado um bom progresso e estaremos prontos para receber a Torá. O feriado para o qual estamos trabalhando é chamado de "Shavuot," que significa "semanas." O próprio nome nos diz que sem as semanas de preparação, não há Shavuot. Portanto não conte somente o Omer, faça com que ele valha a pena.
Do site: www.aishbrasil.com.br