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Espetáculo "Rózà" retrata as múltiplas Rosas de Luxemburgo

Espetáculo "Rózà" retrata as múltiplas Rosas de Luxemburgo
Rosas em ação: universalidade das questões levantadas pela revolucionária em suas cartas é traduzida por meio de som e vídeo
Três Rosas, Rosa plena: utilizando cartas, peça em SP revela força feminina da revolucionáriaEspetáculo "Rózà" retrata as múltiplas Rosas de Luxemburgo e humaniza personagem-chave da história das lutas do século XX.
Rosa vibrante. Rosa doce. Rosa densa. Nos corpos de três atrizes. "Que Rosa está em você?", pergunta Lowri Evans, que encarna Rosa Luxemburgo (1871 - 1919) na versão mais sútil da revolucionária no espetáculo multimídia Rózà, em cartaz  em São Paulo desde 18 de abril. Na atriz Martha Kiss Perrone, ganha vida a Rosa intensa, enquanto Lucia Bronstein carrega a profundidade de uma das mulheres mais conhecidas da história política mundial. Olhos nos olhos dos espectadores, elas interpretam cartas escritas por Rosa na Alemanha do início do século XX. De sua casa e da prisão. Sobre a revolução e o partido. Com borboletas, folhas e seus sentimentos.
Rosa Luxemburgo foi uma militante de esquerda, crítica não só ao capitalismo, mas à guerra e ao militarismo. Judia nascida na Polônia, defendeu doutorado na Alemanha, onde pode permanecer graças a um casamento. Foi para a prisão por conta de seus discursos contra a Primeira Guerra Mundial. De lá, comemorou a Revolução Russa e alertou para os riscos de uma ditadura “sem eleições gerais, sem liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre enfrentamento de opiniões”. Ao sair da cadeia, se dedicou totalmente aos movimentos de rua e participou da fundação do Partido Comunista Alemão. Dois meses depois, foi assassinada.

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A universalidade das questões levantadas por Rosa fica evidente nos vídeos e projeções que compõem o espetáculo. Quando Rosa fala sobre as massas, são projetadas ao redor imagens da multidão nas ruas de São Paulo em junho de 2013. Quando o texto trata da liberdade, o som ao vivo da guitarra, da bateria e do grito ao microfone dividem a atenção com imagens do grupo feminista russo Pussy Riot. Música eletrônica, estampas projetadas e os poucos objetos sob a instalação de madeira e plástico levam da cela de Rosa às ruas de Berlim e São Paulo. A política descrita nas cartas é atual. Rosa denuncia camaradas mortos e presos. Quantas mortes e prisões políticas contamos no último ano?

Prédios e prisões

"Prédios que não são como casas, são como prisões". Mais uma vez, a frase que poderia fazer referência à especulação imobiliária nas grandes cidades brasileiras, na verdade foi escrita sobre a Berlim de Rosa. E a preocupação com o espaço, muitas vezes implícita nas cartas, se materializa na ocupação da Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro, centro de São Paulo, onde acontece o espetáculo.

Inaugurada em 1953 por judeus de esquerda, o local foi um importante centro de resistência nos anos 60 e 70. Nas décadas seguintes, perdeu importância no cenário cultural e político da cidade e parecia abandonado. Há cerca de um ano, há um movimento de reocupação. As portas e pisos desgastados do edifício modernista criam a atmosfera do espetáculo desde a rua, em cada detalhe. "O espectrum de tantas pessoas e acontecimentos importantes que povoa este prédio também está em cena", afirma a O.M Martha, que além de interpretar Rosa é a idealizadora e uma das diretoras da peça, junto com Joana Levi.
Espetáculo "Rózà" retrata as múltiplas Rosas de Luxemburgo

A ideia nasceu enquanto Martha lia cartas de Rosa organizadas em uma coletânea francesa. “Eu tinha lido uma biografia e gostado bastante. Mas o espetáculo mesmo veio das cartas”, conta, chamando a atenção para o fato de que, há três anos, "a maior parte delas não havia sido traduzida para o português”.

[Rosa, em retrato tirado entre 1895 e 1905]
A Editora Unesp publicou as cartas mais íntimas da pensadora em 2011, no livro Rosa Luxemburgo - vol. III. Cartas, organizado por Isabel Maria Loureiro com traduções do polonês e do alemão.

Revolução e sentimentos

A Rosa dos textos políticos aparece pelo avesso no espetáculo. Também pelo avesso. Sem negligenciar as construções públicas, a peça resgata as revoluções internas da polonesa, como nos conflitos sobre o companheiro, no "amor radical" e na busca por felicidade.

"Suas cartas não têm nada a não ser o movimento, as manifestações, o partido (...) Instruções sobre o que devo fazer, como devo me vestir, o comprimento da minha saia, como devo me comportar. Não preciso de palavras açucaradas, não se trata disso. Mas, será que você não pode falar sobre sua alma? Sobre seus sentimentos?", pergunta ela. 

Rosa lembra, com alegria, das mais de mil mulheres que a esperavam na porta da prisão com presentes, como caixas de flores, chás e bolos. "Tudo preparado por elas mesmas!", vibra. Ela comemora a autorização para cultivar um jardim na prisão.

Depois, se encanta com as joaninhas e borboletas que habitam suas plantas. Em cartas nas quais pergunta sobre o partido e as assembleias, diz que precisa de uma saia longa e uma malha vermelha -- mas sem clichês. "Retrato de mulher usando vestido é idiota", se justifica. "Vocês parecem máquinas", desabafa em um determinado momento aos companheiros

Rosa dava importância ao que para alguns poderia parecer menor, mas que era parte essencial de sua identidade. Ao fim, Rózà vai além de um tributo, trazendo à luz múltiplas Rosas, unidas por uma força feminina que fez e alimentou revoluções. Uma e muitas que precisam ser conhecidas e reconhecidas e, acima de tudo, descobertas e vivenciadas por cada um de nós.

Serviço:
De 18 de abril a 11 de maio.
Sextas, sábados e domingos às 20 horas.
Casa do Povo
Endereço: Rua Três Rios, 252, Bom Retiro.
Telefone: (011) 3311-6577.
Capacidade: 50 lugares.
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia).
Duração: 80 minutos.
Classificação: 12 anos.

Fonte: Opera Mundi
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