![]() |
Elena Piatok - Coisas Judaicas |
Elena Piatok tinha 24 anos em 1974 e queria "conhecer a Revolução dos Cravos. Ao vivo. Sentir o cheiro e as pulsões". Naquela época era uma jovem contestatária, vestia-se à balda. Entre conversas avulsas, ouve falar do 25 de Abril e, disponível para novas aventuras, apanha um avião para Lisboa sem prazo de regresso.
Ainda estava em Nova Iorque (no aeroporto John F. Kennedy) quando repara num homem, ainda jovem, "muito formal e convencido, mas muito bonito também". Esse homem embarca no mesmo avião que ela e - algures por cima do Atlântico - Elena decide "meter conversa". Fica a saber que o seu interlocutor se chama Marcos e é um engenheiro português. Desembarcam no aeroporto da Portela e as malas de Elena não aparecem. Marcos oferece-se para a ajudar, levou-a ao Mosteiro dos Jerónimos. Mais tarde casaram.
No final da década de 1980 assumiu o cargo de adida cultural da Embaixada do México em Portugal. Em 1997, confrontada com a exigência imposta pelo cargo de mudar de país, Elena decidiu pôr o bem-estar dos filhos e do marido à frente dos interesses da diplomacia e abandonou a carreira.
Quarenta anos depois faz traduções e trabalha como intérprete, beneficiando de ser quase bilingue em espanhol e inglês porque estudou nos EUA e viveu no Canadá.
A ex-diplomata mexicana é a criadora e organizadora da 'Judaica', que teve a sua primeira edição em 2013: "Tinha de organizar esta mostra, porque senti que era a pessoa certa. Sinto-me judia apesar de não ser praticante, não ter casado com um judeu nem comer comida kosher".
Doze filmes e documentários, música, comida e debates
Doze "filmes e documentários, na sua maioria em estreia absoluta, música de um DJ Klezmer, provas gastronômicas e debates onde participam a diretora do Programa das Nações Unidas para o Ensino do Holocausto, Kimberly Mann, consitutem os quatro dias do programa da 'Judaica - 2ª Mostra de Cinema e Cultura ', organizada por Elena Piatok.
A Judaica abre esta quinta-feira às 19h, no cinema São Jorge [Lisboa], com o documentário "A lua é judia" que, viajando pela temática da violência de alguns adeptos de futebol, conta a história de Pawel, skinhead que se transformou num judeu ortodoxo. Os bilhetes são vendidos à unidade no São Jorge e existe um passe para cinco filmes por dez euros.
Hoje, depois da sessão cinematográfica da tarde, segue-se o primeiro debate, moderado pelo jornalista António Marujo, com o historiador João Medina e o escritor Francisco José Viegas. Richard Zimler, os historiadores José Viegas e Jorge Martins, e a diplomata Manuela Franco, estarão presentes noutros debates.
Sábado é exibido "Os judeus e o dinheiro: investigação de um mito", um documentário que investiga as raízes do mito, a partir da história de um jovem vendedor judeu, raptado nos arredores de Paris. O resgate pedido era de meio milhão de euros e o homem acabou por ser morto por não haver dinheiro para o pagar.