Soluções para o conflito Israel-Palestina
Autor: Benny Morris
Um Estado, Dois Estados é um trabalho histórico-político. Descreve a evolução, ou a não evolução, da ideologia básica e das plataformas políticas de dois movimentos nacionais, o judaico (sionismo) e o árabe-palestino, de suas origens até os dias atuais. Está focado nas várias atitudes relativas a questões nacionais e à partilha, ou não, da Palestina, e nas trajetórias históricas dos dois movimentos, entre 1882 e 2009, data da primeira edição deste livro.
Os dados históricos e a análise fornecida neste trabalho levaram-me à conclusão política, quase inevitável, de que o movimento sionista e Israel estiveram e continuam abertos, em princípio, à ideia de um acordo de paz que contemple dois Estados. Não é o caso, por outro lado, do movimento nacional palestino, tanto de sua ala islamista quanto de sua ala secular.
A meu ver, nada mais mudou desde então. Ou, talvez, muito tenha mudado no Oriente Médio – mas nada que contribuísse positivamente para a solução do conflito israelo-palestino.
É verdade que as negociações de paz entre Israel e os palestinos foram retomadas em 2013, após uma interrupção de cinco anos, e que esse diálogo é por si louvável. Mas nada mudou em relação à disposição palestina de ceder. Os líderes palestinos continuam aferrando-se a posições que, explícita ou implicitamente descartam a ideia de dois Estados para dois povos: o Hamas, que venceu as eleições gerais palestinas em 2006 e controla a Faixa de Gaza, clama abertamente pela destruição de Israel e a criação de um Estado governado pela sharia em toda a Palestina histórica (ou Terra de Israel, conforme a nomenclatura israelense); e a Autoridade Palestina, liderada pelo presidente Mahmud Abbas, continua a exigir de Israel o “direito de retorno” para os refugiados de 1948 (que com seus descendentes, como reconhecidos pela ONU, somam aproximadamente 5 milhões). Considerando a população israelense de 6 milhões de judeus e 1,4 milhão de árabes, a implementação de tal retorno transformaria Israel em um Estado de maioria árabe, ou seja, eliminaria o Estado de Israel. Abbas também continua a se opor à ideia de reconhecer Israel como “Estado judeu” (e a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia majoritariamente habitada pelos palestinos certamente não contribui, levando muitos palestinos a sentirem que Israel não é séria em relação à paz).
Mais amplamente, as enormes transformações que sacudiram o Oriente Médio árabe e o norte da África desde o início de 2011 resultaram, até agora, menos na emergência de democracias e mais na chegada ao poder de partidos e movimentos extremistas islâmicos. Enquanto estas linhas são escritas, os islamistas controlam a Tunísia, a Líbia e o Iêmen, e têm uma poderosa presença no Egito (onde governaram brevemente e de maneira absolutamente incompetente, tendo sido retirados do poder à força pelos militares).
Na Síria, islamistas dominam diversos grupos que lutam contra o governo de Bashar al-Assad em uma sangrenta guerra civil. Em outras partes da região, no Bahrein e na Jordânia, os islamistas são menos proeminentes, mas apesar disso se mantêm como uma ameaça latente aos governos pró-ocidentais e à governança racional.
Todos os islamistas repudiam a legitimidade israelense e apoiam a destruição de Israel (como o faz o Irã, que concretamente apoia vários desses movimentos), fornecendo suporte material e político a aqueles palestinos que se recusam a negociar e assinar a paz com o Estado judeu. Com o fortalecimento do Islã militante nos corações e mentes ao redor do mundo árabe, há pouca esperança de que os palestinos farão importantes concessões para obter a paz. Ao contrário, com a sensação de que têm a história e a demografia a seu favor, podem sentir que tudo que precisam fazer é manter-se firmes e esperar, que Israel declinará e desaparecerá; e a Palestina – na sua totalidade – cairá em suas mãos como uma fruta madura.
Nas próximas décadas as coisas poderiam mudar: o Irã poderia se tornar uma democracia reformista; os seculares poderiam derrotar os islamistas no mundo árabe afora, instituir democracias verdadeiras e, eventualmente, mesmo de forma relutante, aceitar a existência de um Estado judeu em seu meio, no centro do Oriente Médio. Mas duvido que isso aconteça. Enquanto isso, os israelenses e palestinos golpearão uns aos outros e talvez continuem a negociar. Mas não sou capaz de visualizar o fim deste conflito.
Prefácio do livro Um Estado, dois Estados