
O dono de um fomoso restaurante perto de Jerusalém afirma que ele está numa missão para salvar a cultura culinária fazendo aos clientes uma oferta simples: desligue o seu celular durante a refeição e ganhe um desconto de 50% na sua conta.
Jawdat Ibrahim diz que os smartphones têm destruído a experiência de jantar moderna. Ele espera que o generoso desconto traga de volta uma época mais inocente, quando ir a um restaurante era um programa de companheirismo, para conversar e apreciar a comida, em vez de navegar na internet, ficar enviando mensagens de texto ou falar com o pessoal do escritório.
"Eu estou mudando alguma coisa. Pode ser algo pequeno, mas talvez, de alguma maneira, eu mude a cultura de comer", disse Ibrahim, de 49 anos.
Ibrahim é o proprietário do Abu Ghosh, um conhecido restaurante que leva o nome de seu cidade natal, localizada cerca de 10 quilômetros de Jerusalém. A cidade é conhecida como um símbolo de coexistência e seus restaurantes, especializados pratos de hummus cremoso e carne grelhada, são populares entre os clientes árabes e judeus da mesma forma.
Ibrahim, que abriu o restaurante em 1993 com parte do dinheiro que ganhou num prêmio de loteria em Illinois (EUA), disse que as conversas das refeições mais parecem um "grampo", no país obcecado pelo celular. Mas a situação agravou-se nos últimos anos com a sofisticação e popularização dos smartphones. Ele disse que ficava espantado quando via grupos de amigos ou casais sentados em silêncio, olhando para suas telas e, finalmente, pedindo-lhe para reaquecer a comida.
Ibrahim está em uma posição melhor do que a maioria dos concorrentes para oferecer grandes descontos. Enquanto vivia nos EUA, na década de 1980, ele ganhou cerca de US$23 milhões na loteria do estado de Illinois. Ele também não é estranho à publicidade. Desde que voltou à sua terra natal, ele tem usado seu status para promover a convivência entre árabes e judeus. Em 2010, seu restaurante bateu o Recorde Mundial do Guinness pelo o maior prato de hummus - uma enorme mistura de quatro toneladas servido em uma antena parabólica adaptada. A entrada de seu restaurante está coberto com artigos sobre ele. Uma carta emoldurada de ex-prefeito de Chicago, Richard M. Daley, que também está pendurada, agradece a Ibrahim pela refeição durante uma visita a Israel.
"A tecnologia é muito boa, mas quando você come, especialmente quando você está com sua família e seus amigos, você pode parar por meia hora e desfrutar da comida e da companhia", disse ele. "Muitas pessoas, chegam aqui, sentam-se e não fazem isso."
A consultora Carleton English, da Belus Capital Advisors, uma empresa de pesquisa financeira de Nova York que monitora a indústria dos restaurantes, diz que a proliferação de telefones celulares em restaurantes não é de todo ruim. Os clientes podem compartilhar fotos de suas refeições e fornecer recomendações aos amigos, enquanto os restaurantes podem se conectar com seus clientes. "Em um jantar casual de um grupos de amigos, o telefone celular pode ser um acessório, mas para quem está na expectativa de olhar nos olhos de seu amado à luz de velas, em vez de ver a testa inclinada de seu companheiro sobre o brilho de um iPhone, é definitivamente um obstáculo", disse ela. Mesmo assim, uma pesquisa no ano passado constatou que a maioria dos entrevistados desaprovaram enviar de mensagens de texto, twittar e responder e-mails quando estão em restaurantes, embora sejam condenscendentes com as fotos. De acordo com o Estudo da Etiqueta ao Celular da Intel Corp. (2012), cerca de um em cada cinco adultos nos Estados Unidos, dizem que se mantém on-line durante a refeição com amigos, e mais de um terço dos adolescentes fazem o mesmo.
"Queremos que as pessoas se socializem"
Ibrahim não é o primeiro dono de restaurante para apontar esta tendência. Restaurantes ao redor do mundo começaram a oferecer descontos - geralmente muito mais baixos do que o de Ibrahim - para os clientes que desligarem seus telefones. Alguns até já proibiram o uso de celulares por completo.
Samer Korban, co-proprietário do Bedivere Eatery & Tavern, em Beirute, disse que desde a abertura, há um ano atrás, ele deu um desconto de 10% para as pessoas que desligavam seus celulares. "Queremos que as pessoas se socializem, em vez de sentar com seus telefones", disse ele acrescentando que pelo menos 40% de seus clientes aproveitam a oferta.
Ao oferecer a conta pela metade, Ibrahim parece ter elevado a arte do desconto a um novo nível. Ele admitiu que ele está tomando um prejuízo financeiro a curto prazo, mas ele acredita que, a longo prazo, o movimento vai pagar pela captação de novos clientes.
Hagit Netzer, uma turista de 63 anos de idade, do norte de Israel, parou no restaurante após passar o dia em Jerusalém e nas proximidades. "Qual é o grande problema em não usar o telefone por meia hora?" disse ela. "Eu queria ver se isso era realmente verdade".Sua filha foi mais cautelosa, ligando para o marido e dizendo a ele que ela estava desligando o telefone e ficaria fora de contato por alguns minutos. Ao receberam a conta, o preço original de NIS$158(New Shkalim), ou cerca de US$45, foi rabiscado e ao lado dele era a soma de NIS$79. "Eu me pergunto o que acontece com eles? Não posso acreditar que eles realmente estão cobrando 50% da conta", exclamou Netzer.
Ibrahim disse que praticamente todos os clientes que entraram no restaurante esta semana, desde que começou a promoção, aproveitou a oferta. A única exceção, segundo ele, foi um membro de uma tripulação aérea, de passagem por Israel, que precisava de seu telefone para fins de trabalho. Ele não disse quanto tempo a oferta irá durar.
"Eu tenho um monte de novos clientes", disse ele. "As pessoas vêm de Jerusalém, vêm de Tel Aviv e todos eles agora pensam uma coisa em comum: Este telefone não é bom para mim enquanto eu estiver comendo".
Fonte: http://www.ynetnews.com