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Prostitutas judias - As polacas

A chegada das Polacas consta do ano de 1867, porém o fluxo de judias prostituídas aumentou com a fundação da Zwig Migdal, organização responsável pelo tráfico internacional de mulheres, que possuía ramificações em vários continentes, monopolizando o tráfico na Europa Centro-Oriental, em Varsóvia, Paris, Berlim e no Porto de Odessa. 

Nomes como Associação Varsóvia eram usados pela organização como fachada, para recrutar moças pobres da Europa Oriental. É justamente do nome Associação Varsóvia que origina o termo polaca, devido à conexão com a capital polonesa, onde se encontrava uma de suas sedes. Ser oriunda do Leste Europeu e prostituta era o bastante para receber o rótulo de polaca. O embarque dos cáftens e das prostitutas para o Rio era feito no porto de Marselha, na França, onde havia um mercado de compra e venda dessas mulheres. 

Quando da chegada das primeiras prostitutas judias, ocorria a sua distribuição por áreas centrais da cidade (Catete, Glória, Lapa e Avenida Central). Na década de 1920, com as progressivas repressões policiais, elas acabavam se concentrando na Praça Onze, passando a conviver com o restante da comunidade judaica. 

Neste período, a região era conhecida como o bairro dos judeus, sendo também denominada Zona do Mangue, por causa do canal que atravessava o local. Durante a presidência de Rodrigues Alves (1918-1922), a velha cidade imperial transformou-se numa metrópole moderna, revolucionando-se os costumes, o que fez surgir uma nova mentalidade de progresso. 

Esta idéia de civilização e modernidade passava necessariamente pela normatização dos espaços dos habitantes da cidade, incluindo a população de baixa renda e, por conseguinte, as prostitutas. Tanto nos bordéis, quanto nas ruas, estabeleceu-se uma hierarquia: de um lado, as cocottes francesas que representavam a elite do meretrício, mulheres de boa aparência que circulavam nas altas rodas da sociedade. Ser francesa era um símbolo da modernidade; freqüentá-las era sinal de refinamento; de outro, as polacas, que levavam consigo a imagem de “proletárias do sexo”. 

As primeiras ocupavam pensões do Flamengo, Glória e Catete, e foram absorvidas pela sociedade burguesa da época, enquanto as últimas foram relegadas ao esquecimento e anonimato do baixo meretrício nos prostíbulos das ruas que compõem a Zona do Mangue. A atividade de prostituição no Brasil não era considerada ilegal, não infligindo a legislação penal, nem aos clientes, nem às pessoas que se prostituem. No entanto, o fomento à prostituição e a contratação de mulheres para atuarem como prostitutas são considerados crimes, passíveis de reclusão. 

Nos lugares em que ocorria o tráfico de escravas brancas, iam sendo criadas associações de ajuda mútua, que, através de práticas coletivas, possibilitavam uma melhor sobrevivência a esse grupo excluído. As associações tinham práticas semelhantes: a compra de terrenos para construção de cemitérios, a manutenção de serviços religiosos em dias sagrados e o auxílio aos membros doentes e idosos. 

Em 1906, foi criada pelas polacas no Rio de Janeiro a Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita (ABFRI), que passou a possuir uma sede social, um terreno no Cemitério de Inhaúma, uma sinagoga, atas das assembléias, fichas de membros, diretorias, contadores e livros-caixa. Na religião judaica, as prostitutas e os suicidas são considerados “impuros” e devem ser enterrados junto ao muro do cemitério, separados dos demais. Com a compra do terreno no Cemitério de Inhaúma, as polacas conquistaram um local onde não haveria uma segregação interna. 

O cemitério teve seu primeiro enterro em 1916 e abriga, atualmente, 797 lápides, das prostitutas e de seus parentes. Surgiu, recentemente, uma polêmica em torno do local: extinta, após 62 anos de existência, a Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita (ABFRI), fundadora da área, a necrópole passou a ser administrada, a pedido das autoridades, pela Sociedade Religiosa do Cemitério Comunal Israelita do Caju, a qual apresentou à Prefeitura um projeto de recuperação, incluindo o cercamento das lápides existentes, o que possibilitaria novos sepultamentos, segundo os preceitos judaicos. Em outubro de 2007, com o tombamento da área pela municipalidade, foram inviabilizadas quaisquer modificações sem autorização prévia. A partir de fontes pesquisadas, identifica-se que esse grupo, na tentativa de reconstituir preceitos religiosos e culturais, foi vítima de hostilidade e preconceito. 

No esforço de interagir com outros personagens da cidade, encontrou ao longo de sua trajetória diversos obstáculos impostos, tanto pela sociedade e autoridades locais, como também por parte da comunidade judaica. Nesse sentido, pode-se apreender que houve forte pressão para que os ditos “impuros” fossem reduzidos ao silêncio e “apagados” da memória social circunscrita na história oficial.

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1 Comentários
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  1. Muito obrigado por seu artigo educativo e muito bem embasado! Vou adicionar este link aos demais que estou colocando num compartilhamento que fiz, em um dos meus blogs educativos, do vídeo do maravilhoso documentário sobre o assunto, "Aquelas Mulheres” (Verena Kael e Matilde Teles / Rio de Janeiro, 2013), postado pelo canal de Yehuda Meir no Youtube!

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