O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu aceitou romper três anos de
impasse no processo de paz e, na semana passada, negociadores
israelenses e palestinos se encontraram pela primeira vez. No entanto, a
segunda maior autoridade diplomática de Israel - atrás apenas do
próprio premiê, que acumula o cargo de chanceler - é contra a criação de
um Estado palestino e diz que pedir o fim das construções em
assentamentos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental é uma forma de
antissemitismo. Zeev Elkin, "revelação" da ala radical do partido Likud,
foi ao Paraguai para a posse do presidente Horacio Cartes e está no
Brasil esta semana. A seguir, a entrevista exclusiva ao Estado.
O diálogo de paz acaba de ser retomado e o sr. é uma das vozes em Israel contrárias a um Estado palestino. Por quê?
Esse é um tema importante para Israel e posso falar sobre ele. Mas
não concordo com a ideia de começar uma entrevista discutindo o Estado
palestino, se há tantas coisas para se falar sobre Israel. Essa não é a
principal questão.
No mundo inteiro, incluindo no Brasil, há um imenso interesse sobre a retomada das negociações. Por isso a pergunta.
Eu sei, e posso falar sobre isso. Mas hoje Israel e os territórios
palestinos são o local mais estável do Oriente Médio - veja a Síria,
Líbano, Egito, Iraque.
Volto à questão: por que o sr. é contra um Estado palestino?
Israel, nos 20 últimos anos, foi abrindo os olhos e entendendo melhor
as consequências das negociações com os palestinos. Passamos por vários
processos - Oslo I e II, as ofertas do ex-premiê Ehud Barak, a retirada
de Gaza - e, depois de tudo isso, os israelenses se questionam: 'Qual é
a melhor situação, agora ou há 20 anos?'. A resposta é óbvia. Se você
perguntasse antes a um morador do sul de Israel se ele temia que um
míssil caísse em sua casa, ele diria que você ficou louco. Hoje, ele tem
medo que um foguete de Gaza atinja a escola de seus filhos.
Há duas alternativas à criação do Estado palestino: um país
binacional - com o fim do sonho sionista de ter um Estado judeu -, ou
israelenses ao lado de milhões de palestinos sem direitos, num sistema
de apartheid. O sr. propõe outro caminho?
As soluções fáceis no Oriente Médio fracassaram. Quem tentou prever
as coisas ou adotar uma posição de 'tudo ou nada' errou e trouxe mais
violência. (Ehud) Barak ofereceu tudo - fronteiras de 1967, Jerusalém,
etc - e a resposta foi a Segunda Intifada. Até 1967, Israel não estava
na Judeia e Samara (denominação dos colonos para a Cisjordânia). Quem
governava lá eram os árabes e, mesmo assim, havia guerra. Isso mostra
que a razão do conflito não é o território, mas a recusa do mundo árabe
de aceitar um Estado judeu dentro de qualquer fronteira.
Netanyahu determinou a volta ao diálogo com base na solução de dois
Estados, mas o sr., vice-chanceler, recusa um possível acordo. Não é
contraditório?
Somos uma república parlamentar, o Estado de Israel é isso. Não temos
um sistema presidencialista, veja sistemas parlamentares na Europa, a
Itália.
O sr. e o premiê são do mesmo partido, o Likud. E a Itália está longe de ser um exemplo de governabilidade, não?
O governo tem pessoas de posições distintas e, com a união nacional,
os extremos se unem. Em Israel, temos 12 partidos e isso nos leva a
coalizões de acordo com as divisões da sociedade. É a nossa realidade
democrática.
E o Likud?
Sempre representamos setores mais à direita e rejeitamos o Estado
palestino. Foi Netanyahu quem tomou a decisão de seguir outro caminho.
Não foi fácil para ele, pois vai contra o que sempre acreditou. E Israel
está perdendo a confiança na comunidade internacional: o único
compromisso real dos palestinos em Oslo era que não recorreriam,
unilateralmente, a instituições internacionais em busca de um Estado.
Isso foi violado. Violaram Oslo e os avalistas do acordo permitiram.
A expansão de assentamentos também é apontada como uma violação do acordo, até mesmo pelos EUA. Como o sr. vê isso?
Existe uma discussão sobre a condição jurídica dos assentamentos, uma
vez que Israel não ocupou a região, pois não havia um Estado lá. As
colônias ocupam 3% da Cisjordânia atualmente. Não é isso que está
impedindo a negociação. Quando os palestinos pedem a libertação de
terroristas que mataram mulheres e crianças, isso é visto como "a favor
da paz" - eu fui contra essa decisão de Netanyahu (tomada na semana
passada, com a libertação de 26 presos). Mas, quando se constrói uma
creche em um assentamento, somos "contra a paz". É absurdo. Israel
jamais aceitou as fronteiras de 1967 e jamais aceitará. O presidente
George W. Bush reconheceu isso em carta ao premiê Ariel Sharon, em 2005,
e está claro para todos, incluindo os palestinos. É preciso que as
regras tenham o mesmo valor para os dois lados. Nos pedem para tomar uma
decisão que, caso fosse feita em outro lugar, seria considerada
antissemitismo: impedir a construção só para judeus.
Pedir o fim de construções israelenses em território palestino é uma forma de antissemitismo?
Claro que sim. Imagine isso em outro lugar: integrantes de um grupo
proibidos de construir casas. Todos diriam que é uma decisão racista.
Não podemos ser o único país do mundo a dizer que, pelo fato de você ser
judeu, está proibido de construir em Jerusalém.
O sr. se encontrará esta semana em Brasília com Antonio Patriota,
chanceler de um país que reconheceu o Estado palestino e virou um dos
maiores doadores a eles. Qual será sua mensagem?
Quero falar sobre nossa amizade: não há discórdia profunda entre
nossos dois países. O Brasil entende que precisamos cuidar de nossa
segurança, pois, sem ela, a paz é impossível. Só negociações diretas
podem trazer a paz e, paradoxalmente, aqueles que apoiam iniciativas
unilaterais dos palestinos na ONU são os que mais prejudicam as
possibilidades desse acordo. Mas minha sugestão ao ministro será colocar
o foco nos grandes interesses em comum. Israel é uma potência
tecnológica e o Brasil, um líder global.