Escrito e dirigido por Danièle Thompson, Aconteceu em Saint-Tropez é uma comédia francesa desde a raiz, apesar do nome de maior destaque no elenco ser o da italiana (agora quase brasileira, pois está morando no Rio de Janeiro) Monica Bellucci. É um filme que não se assume como de um único gênero, procurando uma interseção contínua com outros estilos narrativos, como o drama e o romance mais carregado. É impressionante, mas são raros os exemplares dessa cinematografia que conseguem ser inconsequentemente leves (como o recente Paris-Manhattan, 2012, por exemplo).
O título nacional, aliás, é bastante enganador. Até porque leva-se quase uma hora na trama para chegarmos a Saint-Tropez (famoso balneário francês), e mesmo assim muito pouco acontece por lá – somente a consumação de algo que já fora anunciado com bastante antecipação. O batismo original, Des gens qui s’embrassent (algo como “pessoas que abraçam”), é bem mais amplo e apropriado. Este, afinal, é mais um daqueles filmes-corais, com vários personagens e histórias acontecendo simultaneamente. O que os une é o fato de serem todos de uma mesma família – e, como se sabe, no cinema isso invariavelmente significa confusões e trapalhadas, além, é claro, de um inevitável final feliz. Por mais inverossímil que este possa ser.
Zef (Eric Elmosnino, de Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres, 2010) é um músico que vive em Nova York e é convidado a voltar à França para o casamento da sobrinha. Ele não quer ir e inventa uma desculpa qualquer, até que sua esposa morre num acidente de trânsito banal, obrigando-o a regressar à terra natal para providenciar o enterro – justamente no mesmo final de semana das festividades familiares.
Quem também está de volta à Paris é Noga (Lou de Laâge), filha de Zef e prima da noiva. No trem entre Londres e a capital francesa, ela conhece um rapaz, com quem acaba flertando. Somente durante o casório, enquanto estiver num quarto da casa velando pela mãe falecida, é que irá vislumbrar de longe o noivo – e qual será a surpresa ao descobrir que se trata da sua nova paixão?
Ao lado de tudo isso, há ainda Roni (Kad Merad, de A Filha do Pai, 2011) e Giovanna (Bellucci), os pais da noiva e responsáveis pela festa. Abastados e festeiros, os dois querem mais comemorar as bodas sem os lamentos do irmão dele (com quem ele não se dá muito bem) e sem se preocupar demasiadamente com a velhice do sogro dela (e pai dos irmãos), que mora com eles mas já apresenta sinais avançados de Alzheimer. Mas é claro que nada será tão simples quanto poderia ser numa primeira impressão.
Thompson, a realizadora, chegou a ser indicada ao Oscar pelo roteiro do denso Primo, Prima(1975), mas nos últimos anos tem optado por trabalhar com materiais não tão profundos, principalmente após ter se lançado também como diretora. Seu Fuso Horário do Amor (2002), com Juliette Binoche e Jean Reno, é totalmente descartável, enquanto que Um Lugar na Plateia(2006) até conquistava pela simpatia, porém de modo pouco marcante. Estes três títulos aqui citados apresentam elementos que se repetem em Aconteceu em Saint-Tropez – relações infiéis entre familiares, disputas amorosas simultâneas, desencontros ao acaso – porém sem a mesma liga vista anteriormente. Há muitos excessos, e poucos funcionam como programado. E assim tem-se um filme fácil de se assistir, e ainda mais de se esquecer.