Luiz Felipe Reis
Essa história de contornos fantásticos, pouco explorada e inédita na cinematografia do século passado, que tantas vezes tangenciou o Holocausto e os horrores da Segunda Guerra Mundial, é o mote de Os falsários, produção ganhadora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2008 e que, com mais de um ano de atraso, aterrissa neste fim de semana nas salas da cidade.
Meu filme não tem a intenção de acusar e responsabilizar toda uma sociedade por esses crimes. Esse era o papel que os filmes do século passado se prestaram a cumprir analisa o diretor austríaco Stefan Ruzowitzky, em entrevista ao Jornal do Brasil, de Viena, Áustria. Meu trabalho é um convite franco e aberto para toda uma geração nascida décadas após a Guerra. Estimulo uma nova abordagem para que todos possam se interessar e compreender esse capítulo negro da nossa história. Acima de tudo, acredito que o meu dever é contar ao público histórias de uma forma nova e interessante. Falar mais uma vez sobre os horrores dos campos de concentração não seria o suficiente.
Lido com o Holocausto num filme emocionante, excitante, ou de entretenimento, se assim você quiser usar a expressão resigna-se o diretor do longa, também indicado ao Urso de Ouro, no Festival de Berlim.
Neto de seguidores e simpatizantes do partido nazista, Ruzowitzky acostumou-se, apesar de inconformado, com o silêncio imposto por sua família sobre o envolvimento de seus avós, paternos e maternos, com a ideologia e práticas criminosas comuns ao regime. Ciente de que o convívio reprimido com as lembranças do Holocausto e do nazismo não ajudou o assunto a ser integralmente dissecado e resolvido por boa parte da população alemã, o diretor não deixa de se chocar com atos neo-nazistas e comentários conservadores que evocam o Reich em nome da ordem e da disciplina.
Infelizmente não são assuntos ultrapassados e encerrados. É chocante ouvir pessoas fascinadas pelo nazismo, um regime anti-democrático que alimentou assassinatos, roubos, fraudes e falsificações. É uma coisa absurda.
Burger foi o nosso principal consultor para o roteiro. Não poderia esperar uma cooperação e uma relação tão boa afirma o diretor. Com a experiência de ter dedicado sua vida inteira a contar às pessoas sobre o que se passava nos campos e sobre os crimes cometidos pelos nazistas, Burger sabe o quanto é importante transmitir a história à sua maneira, para que ela prenda a atenção dos ouvintes e espectadores. Mas, é claro, sem adulterar a verdade.
O filme se atém aos limites físicos do reduzido espaço em que residem os prisioneiros e das salas destacadas para o desenvolvimento da operação, nos blocos 18 de 19 do campo de Sachsenhausen. Na fotografia, predominam na paleta de cores os tons de cinza, marrom e verde em diversos matizes. Planos fechados, em locações que privilegiam o ambiente interno das instalações alemães, garantem inquietante sensação claustrofóbica, enquanto o arsenal de armamentos de guerra, explosão de bombas, fuzilamentos e o que se desenrola de mais atroz nos campos de concentração cumprem função de pano de fundo.