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A história do judeu russo Salomon Sorowitsch

Luiz Felipe Reis
Foto real dos "Falsários" depois de serem liberados em Ebensee em 5 de maio de 1945. NaO primeiro da fila da frente à esquerda, de camisa branca é Solomon Smolianoff, o último é Adolf Burger, que queria sabotar o plano de falsificação de notas de dólar e libras e que escreveu o livro.
Artista, herói sobrevivente de guerra ou apenas um falsificador? Em 1936, o judeu de origem russa Salomon Sorowitsch considerava-se um gênio da cópia e reinava absoluto entre cassinos e bares da noturna e boêmia Berlim. Falsificava notas e documentos em série, atraía à sua cama as mais belas mulheres e desfrutava de viagens a luxuosos resorts instalados em Monte Carlo como programas triviais. 
A notoriedade como criminoso, escorregadio e habilidoso, durou pouco e teve fim com a sua prisão pela SS germânica, em 1939. Seis anos depois, em 1944, já como prisioneiro num campo de concentração nazista, Sally seria separado dos judeus comuns e transferido para outra instância com um único objetivo: gerenciar um grupo de pintores profissionais, artistas gráficos, tipografistas, ilustradores, peritos e especialistas para o desenvolvimento do maior plano de cópia de moedas da história, a fracassada Operação Bernhard (1942-1945) responsável por prensar e tentar injetar mais de 130 milhões de libras esterlinas, além de dólares falsos na economia dos aliados. 
Essa história de contornos fantásticos, pouco explorada e inédita na cinematografia do século passado, que tantas vezes tangenciou o Holocausto e os horrores da Segunda Guerra Mundial, é o mote de Os falsários, produção ganhadora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2008 e que, com mais de um ano de atraso, aterrissa neste fim de semana nas salas da cidade.
Meu filme não tem a intenção de acusar e responsabilizar toda uma sociedade por esses crimes. Esse era o papel que os filmes do século passado se prestaram a cumprir analisa o diretor austríaco Stefan Ruzowitzky, em entrevista ao Jornal do Brasil, de Viena, Áustria. Meu trabalho é um convite franco e aberto para toda uma geração nascida décadas após a Guerra. Estimulo uma nova abordagem para que todos possam se interessar e compreender esse capítulo negro da nossa história. Acima de tudo, acredito que o meu dever é contar ao público histórias de uma forma nova e interessante. Falar mais uma vez sobre os horrores dos campos de concentração não seria o suficiente.
Celebrado pela mais importante festa do cinema americano e mundial, Ruzowitzky ainda recorda, em detalhes, o momento em que cravou seus pés no tapete vermelho da suntuosa entrada do Kodak Theatre: Sim, eu quero ganhar! e Sim, eu vou ganhar! eram expressões que não se desgrudaram da cabeça do diretor, que, exatos 10 anos antes, via sua mais aclamada produção, The inheritors (1998), encerrar um ciclo de premiações sem ao menos uma indicação à Academia. Ele conta que na Alemanha, porém, seus planos, cortes e diálogos geraram reações e comentários ferinos por parte da crítica especializada. Ambos os lados elogiaram ou reprovaram a obra exatamente pelas mesmas razões:
Lido com o Holocausto num filme emocionante, excitante, ou de entretenimento, se assim você quiser usar a expressão resigna-se o diretor do longa, também indicado ao Urso de Ouro, no Festival de Berlim.
Neto de seguidores e simpatizantes do partido nazista, Ruzowitzky acostumou-se, apesar de inconformado, com o silêncio imposto por sua família sobre o envolvimento de seus avós, paternos e maternos, com a ideologia e práticas criminosas comuns ao regime. Ciente de que o convívio reprimido com as lembranças do Holocausto e do nazismo não ajudou o assunto a ser integralmente dissecado e resolvido por boa parte da população alemã, o diretor não deixa de se chocar com atos neo-nazistas e comentários conservadores que evocam o Reich em nome da ordem e da disciplina.
Infelizmente não são assuntos ultrapassados e encerrados. É chocante ouvir pessoas fascinadas pelo nazismo, um regime anti-democrático que alimentou assassinatos, roubos, fraudes e falsificações. É uma coisa absurda.
Para transpor a saga dos falsários judeus ao cinema, o diretor contou com a ajuda de um personagem crucial: o sobrevivente Adolf Burger, autor do livro The devil's workshop, que se tornou seu maior aliado na construção do roteiro.
Burger foi o nosso principal consultor para o roteiro. Não poderia esperar uma cooperação e uma relação tão boa afirma o diretor. Com a experiência de ter dedicado sua vida inteira a contar às pessoas sobre o que se passava nos campos e sobre os crimes cometidos pelos nazistas, Burger sabe o quanto é importante transmitir a história à sua maneira, para que ela prenda a atenção dos ouvintes e espectadores. Mas, é claro, sem adulterar a verdade.
O filme se atém aos limites físicos do reduzido espaço em que residem os prisioneiros e das salas destacadas para o desenvolvimento da operação, nos blocos 18 de 19 do campo de Sachsenhausen. Na fotografia, predominam na paleta de cores os tons de cinza, marrom e verde em diversos matizes. Planos fechados, em locações que privilegiam o ambiente interno das instalações alemães, garantem inquietante sensação claustrofóbica, enquanto o arsenal de armamentos de guerra, explosão de bombas, fuzilamentos e o que se desenrola de mais atroz nos campos de concentração cumprem função de pano de fundo.
  Sempre senti que seria impossível retratar o horror de uma vida normal dentro de um campo de concentração. A situação especial dos falsificadores me permitiu criar e instaurar esse horror na cabeça dos especatadores sem precisar recriar detalhes.

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