Claudio Luiz Lottenberg
Na entrevista abaixo, Claudio Luiz Lottenberg, oftalmologista e presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, comenta sobre os diferentes conceitos de morte, a relação dos judeus com a saúde, o desafio das doenças crônicas e a importância da espiritualidade para a qualidade de vida das pessoas. O médico também fala sobre uma espécie de preconceito da classe médica em repercutir essas questões. Confira:
A religião pode influenciar na saúde das pessoas?
A religião talvez seja um exercício importante para estimular as mecânicas da fé, embora ela não necessariamente derive apenas da religião. Eu acredito que a fé, como sentido construtivo, positivista, atua na estruturação psicológica e tem um papel importante, já documentado cientificamente. Eu não diria que a religião por si pode influenciar na saúde, mas a fé pode ter aspectos positivos que oferecem mais equilíbrio e bem-estar, além de uma recuperação mais rápida e objetiva.
A religião talvez seja um exercício importante para estimular as mecânicas da fé, embora ela não necessariamente derive apenas da religião. Eu acredito que a fé, como sentido construtivo, positivista, atua na estruturação psicológica e tem um papel importante, já documentado cientificamente. Eu não diria que a religião por si pode influenciar na saúde, mas a fé pode ter aspectos positivos que oferecem mais equilíbrio e bem-estar, além de uma recuperação mais rápida e objetiva.
As religiões têm conceitos diferentes sobre a morte. Elas mudam a relação das pessoas com a saúde?
As religiões são muito claras nas relações com doenças. Constantemente fazem comentários a respeito de hábitos alimentares, circuncisão, utilização de álcool. E isso tem um impacto importante na qualidade e no padrão de vida das pessoas. A grande questão é tentar explicar alguns fenômenos que a gente sabe que existem, mesmo sem saber como e porquê. De qualquer forma, eles estão ali documentados.
As religiões são muito claras nas relações com doenças. Constantemente fazem comentários a respeito de hábitos alimentares, circuncisão, utilização de álcool. E isso tem um impacto importante na qualidade e no padrão de vida das pessoas. A grande questão é tentar explicar alguns fenômenos que a gente sabe que existem, mesmo sem saber como e porquê. De qualquer forma, eles estão ali documentados.
Os judeus se relacionam com a saúde de uma forma diferente?
Eu não colocaria desta forma, mas a tradição judaica é rica em exemplos. A comida kasher é um deles. Não se come carne de porco. Por quê? Porque os métodos de conserva não eram bons para aquela época. Os judeus também não misturam determinados tipos de alimentos, porque a digestão acaba sendo prejudicada. E os judeus fazem a circuncisão. Já se tentou discutir muitas vezes sobre a razão de fazermos isso. O que a gente sabe é que mulheres judias têm muito menor incidência de câncer de colo uterino do que mulheres não judias. Isso está relacionado à circuncisão. Então eu diria que existem hábitos judaicos que interferem na questão da saúde, mas não necessariamente os judeus se relacionam diferentemente com ela.
Eu não colocaria desta forma, mas a tradição judaica é rica em exemplos. A comida kasher é um deles. Não se come carne de porco. Por quê? Porque os métodos de conserva não eram bons para aquela época. Os judeus também não misturam determinados tipos de alimentos, porque a digestão acaba sendo prejudicada. E os judeus fazem a circuncisão. Já se tentou discutir muitas vezes sobre a razão de fazermos isso. O que a gente sabe é que mulheres judias têm muito menor incidência de câncer de colo uterino do que mulheres não judias. Isso está relacionado à circuncisão. Então eu diria que existem hábitos judaicos que interferem na questão da saúde, mas não necessariamente os judeus se relacionam diferentemente com ela.
Qual a relação entre espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida.
Uma das filosofias do hospital é o "Planetree" e um de seus pilares é a religiosidade, que é diferente de espiritualidade, embora esses conceitos sejam muito próximos e confundam a comunidade leiga. Neste cenário, está implícito que o Hospital Israelita Albert Einstein acredita que esses elementos contribuem para recuperações mais rápidas e com mais qualidade. Para nós, essas questões devem virar referência, mas é claro que ainda falta uma base científica formal.
Uma das filosofias do hospital é o "Planetree" e um de seus pilares é a religiosidade, que é diferente de espiritualidade, embora esses conceitos sejam muito próximos e confundam a comunidade leiga. Neste cenário, está implícito que o Hospital Israelita Albert Einstein acredita que esses elementos contribuem para recuperações mais rápidas e com mais qualidade. Para nós, essas questões devem virar referência, mas é claro que ainda falta uma base científica formal.
O custo do tratamento de pessoas com apoio religioso é menor?
Existem estudos que mostram que pacientes terminais que receberam suporte religioso tiveram um custo de tratamento menor do que os que não tiveram. Muito possivelmente, em determinadas circunstâncias, a diferença está muito mais na fé, na crença e no suporte que deriva da religião, do que propriamente em remédios caros.
Existem estudos que mostram que pacientes terminais que receberam suporte religioso tiveram um custo de tratamento menor do que os que não tiveram. Muito possivelmente, em determinadas circunstâncias, a diferença está muito mais na fé, na crença e no suporte que deriva da religião, do que propriamente em remédios caros.
O senhor tem percebido nos pacientes uma necessidade maior por uma medicina mais afetiva e emocional?
Mais do que isso, percebi que ganhei um autocontrole maior na relação com eles desde que passei a entender desta forma. Tenho me sentido um médico melhor. Tenho entendido melhor a angústia de cada paciente. Uma coisa é sugerir uma conduta de tratamento para um paciente com uma doença. Outra coisa é dar a ele um suporte para conduzir o problema que tem. É interessante porque quando se consegue compreender as questões relacionadas à fé e à espiritualidade, o diálogo muda. Em mim, senti uma mudança muito grande.
Mais do que isso, percebi que ganhei um autocontrole maior na relação com eles desde que passei a entender desta forma. Tenho me sentido um médico melhor. Tenho entendido melhor a angústia de cada paciente. Uma coisa é sugerir uma conduta de tratamento para um paciente com uma doença. Outra coisa é dar a ele um suporte para conduzir o problema que tem. É interessante porque quando se consegue compreender as questões relacionadas à fé e à espiritualidade, o diálogo muda. Em mim, senti uma mudança muito grande.
O senhor vê alguma relação entre doenças crônicas e religiosidade?
Doenças crônicas são o grande desafio da sociedade contemporânea. Hoje a pessoa deixa de funcionar dez anos antes de morrer propriamente. A ideia é que um dia o indivíduo pare de funcionar somente no dia em que ele realmente morrer. Entender determinadas doenças, como o Alzheimer, colaborar com o indivíduo que tem insuficiência cardíaca ou insuficiência pulmonar, por exemplo, torna-se cada vez mais importante. A relação dessas atividades com as doenças crônicas vai exigir da sociedade um esforço muito grande e um dispêndio econômico enorme. Se conseguirmos encontrar maneiras de contribuir para minimizar estes problemas e oferecer à população mais acesso aos serviços de saúde, estaremos fazendo algo muito importante para a saúde pública, que é a equidade. Além disso, acho que a fé e a religiosidade também podem fazer a diferença na vida de pessoas com doenças crônicas.
Doenças crônicas são o grande desafio da sociedade contemporânea. Hoje a pessoa deixa de funcionar dez anos antes de morrer propriamente. A ideia é que um dia o indivíduo pare de funcionar somente no dia em que ele realmente morrer. Entender determinadas doenças, como o Alzheimer, colaborar com o indivíduo que tem insuficiência cardíaca ou insuficiência pulmonar, por exemplo, torna-se cada vez mais importante. A relação dessas atividades com as doenças crônicas vai exigir da sociedade um esforço muito grande e um dispêndio econômico enorme. Se conseguirmos encontrar maneiras de contribuir para minimizar estes problemas e oferecer à população mais acesso aos serviços de saúde, estaremos fazendo algo muito importante para a saúde pública, que é a equidade. Além disso, acho que a fé e a religiosidade também podem fazer a diferença na vida de pessoas com doenças crônicas.
Publicado no portal do HIAE