Por Rabino Jonathan Sacks
Se eu tivesse de resumir o tema que nos conecta, seria o triunfo da vida sobre a morte, da esperança acima do desespero.
Até relativamente pouco tempo, a última festa a ser acrescentada ao Calendário Judaico foi Chanucá, há mais de 2.000 anos. Porém, dentro da memória viva, nada menos que quatro novos dias foram adicionados, todos eles entre Pêssach e Shavuot, os dias da contagem do Omer.
O primeiro é Yom HaShoa, o Dia Memorial do Holocausto, em 27 de Nissan. Então vem Yom HaZikaron, a 4 de Iyar, no qual lembramos aqueles que tombaram nas guerras em Israel. Em seguida vem Yom HaAtzmaut, o Dia da Independência, 5 de Iyar, relembrando o dia em que a independência de Israel foi proclamada em 1948. O quarto é Yom Yerushalayim, dia de Jerusalém, em 28 de Iyar, no qual lembramos a reunificação de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias em 1967.
Esta é uma série de eventos tão dramática como qualquer outra que se pode encontrar nos anais da história humana. Dois pelo menos foram singulares. Jamais houve, e rezamos para que jamais haja novamente, um evento como o Holocausto. Houve outras tentativas de genocídio; em épocas recentes, no Cambodja, Bósnia, Ruanda e Darfur. Porém, jamais houve uma tentativa sistemática de remover um povo de um continente inteiro, sem nenhum motivo exceto a identidade religiosa de seus avós. No auge da destruição, os nazistas desviavam trens necessários para o esforço de guerra, a fim de transportar judeus aos campos da morte. Era o mal pelo mal em si.
Também jamais houve um evento como o renascimento de Israel como nação em sua própria terra. Nunca existiu um povo, disperso e espalhado em todo o mundo, que tenha se reunido novamente na terra de seu início. Jamais um idioma antigo se tornou novamente um idioma atual usado no dia-a-dia. Jamais uma nação sem poder durante 2.000 anos tomou as rédeas da independência e se tornou novamente soberana. Estes fatos não têm paralelo.
Os judeus foram o primeiro povo a ver D’us não apenas na natureza, mas também na história. Foi isso que os profetas fizeram, e isto, à nossa maneira falível e precária, é o que ainda nos esforçamos por fazer. O significado desses eventos – especialmente o Holocausto – nos derrota.
Porém, é difícil não sentir que alguma força maior tem trabalhado nas impressionantes tragédias e nos triunfos da história judaica, não somente nos tempos antigos mas também em nossa era.
O falecido Milton Himmelfarb certa vez escreveu: “Cada um de nós judeus sabe o quanto ele é completamente comum; porém, tomados juntos, parecemos envolvidos em coisas grandes e inexplicáveis… Coisas grandes parecem acontecer para nós e ao nosso redor.”
Raramente isto tem sido mais verdadeiro que nos eventos épicos que estão por trás dos quatro novos dias do Calendário Judaico. Se eu tivesse de resumir o tema que os conecta, seria o triunfo da vida sobre a morte, da esperança acima do desespero.
O povo que foi vítima do maior crime contra a humanidade tornou-se o povo que reconstruiu sua vida, sua terra e sua nação. Daqui a mil anos, as pessoas ficarão maravilhadas com essa extraordinária sequência de eventos. Os judeus, que coletivamente sofreram o pior e inspiraram algumas das maiores realizações da humanidade, continuam sendo um símbolo vivo de esperança.
Estes princípios estão baseados nos textos sagrados da Torá, do Talmud e da Lei Judaica, com os comentários dos Rebes de Chabad em referência ao Holocausto.