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Crianças de Hitler



Em "Hitler's Children" ("Crianças de Hitler"), o cineasta israelense Chanoch Zeevi ouviu quatro descendentes de nazistas: Hermann Göring, fundador da Gestapo;Heinrich Himmler, segundo homem do partido, abaixo apenas de Hitler; Hans Frank,comandante da Polônia durante a ocupação; e Amon Göth, comandante do campo de concentração Plaszów. "Contar essa história é passar uma mensagem de esperança", afirma o diretor israelense Chanoch Zeevi. 

"Eles não são responsáveis pelas atrocidades cometidas pelos antepassados. É uma fatalidade ser descendente de um monstro, um criminoso de guerra. Nós, a segunda e terceira geração dos dois lados, nazistas e judeus, temos que enfrentar a verdade e termos esperança".

Os entrevistados falaram sobre o peso de seus sobrenomes e sobre como se relacionam com a história da família. Bettina Göring e seu irmão não quiseram passar adiante os genes da família. Fizeram uma cirurgia para não perpetuar o DNA dos antepassados, mais precisamente do tio-avô, o ex-militar do partido nazista Hermann Göring. Com um olhar distante, ela conta para a câmera que se sentia responsável pelo Holocausto, mesmo que tenha nascido depois da guerra, por causa do importante papel que a família teve na matança: "Há muita vergonha e culpa. Para mim era muito difícil até admitir que eu não tinha culpa. Por que eu teria culpa se eu não fiz nada? É um sentimento bizarro. Mas não é raro. Conheço muitos outros alemães que se sentem assim".

Depois de ouvir o lado dos filhos, netos e sobrinhos de atores do regime de Hitler, o espectador é confrontado com o outro lado, o dos sobreviventes. O confronto é mútuo e, pela primeira vez publicamente, as gerações pós-guerra se encontram. Em Auschwitz. "Quando tive a ideia do filme, não dormi de noite. Me sentia como uma criança que apanhou: primeiro colocamos algo para acalmar a dor, mas depois vemos que precisamos ir atrás de quem bateu. Acho que devemos tentar entender o outro lado. Os sobreviventes não têm forças para fazê-lo, mas os descendentes têm. E esses encontros podem nos ajudar a seguir em frente", explica o cineasta, que teve avós mortos no Holocausto.

No filme, Monika Hertwig, filha de Amon Göth, chefe do campo Plaszów, imortalizado no filme "A lista de Schindler", revela: "Perguntei para a minha mãe: quantos judeus o papai matou? Ela disse: alguns. Eu perguntei: alguns quantos: 2, 3, 4? Nenhuma resposta. Minha mãe disse que ameaçou largar meu pai se ele matasse mais judeus. Ele parou de fazer, pelo menos na frente dela. O que ele fazia nos campos era outra coisa", conta. Ele foi julgado em 1946 e sentenciado à forca. Monika conta como conheceu o primeiro judeu de sua vida, aos 13 anos. 

Ela estava em um café que sempre frequentava e conhecia o dono, Manfred. "Ele arregaçou as mangas para lavar os pratos e eu vi um número tatuado. Nunca tinha visto aquilo, mas sabia o que significava: ele tinha estado em um campo. Perguntei se ele era judeu. Ele disse que sim. Perguntei onde ele esteve e ele falou que na Cracóvia. Falei que meu pai também tinha estado lá e perguntei se ele o conhecia. Ele disse: você é filha de Göth? Eu disse que sim, com um sorriso no rosto, maravilha que alguém finalmente poderia me contar o que aquilo significava. Mas Manfred apenas apontou a porta e me mandou sair".
Outras histórias de encontros mostradas no filme são mais profundas. Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heinrich Himmler, o segundo na lista abaixo de Hitler no Terceiro Reich, se casou com um judeu israelense filho de sobreviventes da Polônia. "As pessoas me dizem: você vem de uma família Himmler, como o pai de seu filho é um judeu filho de sobreviventes? E eu digo: mas qual é o problema?"
O passado também dominou a vida de Niklas Frank, filho de Hans Frank, indicado por Hitler para ser o chefe do governo-geral polonês e responsável pelos campos de extermínio do país. Ele passou boa parte da vida pesquisando e escrevendo sobre o pai, e hoje dá conferências e palestras sobre o tema para jovens alemães. "Sim, eu me sinto responsável pelas ações do meu pai e me envergonho delas. Não posso amar um pai que deixou fornos cheios de corpos. Existem dois modos de sobreviver como um filho de criminoso de guerra: defendê-lo até o fim como meus irmãos mais velhos, ou confrontar suas ações e admitir: sim, nosso pai foi um assassino", diz ele no filme.

Em uma das imagens mais fortes do documentário, o alemão Rainer Hoess visita pela primeira vez um campo de concentração. A experiência, forte em qualquer contexto, supera as expectativas neste caso: Rainer é neto de Rudolf Höss, criador e comandante de Auschwitz. Acompanhado por um descendente de sobreviventes do campo, Hoess visita a casa onde sua família morou e compara o que vê às imagens de crianças brincando em um jardim em fotografias antigas. Minutos depois, é confrontado por jovens israelenses que o questionam: "Você se sente culpado?"

Para o diretor Chanoch Zeevi, "muitas pessoas acham que temos que nos concentrar apenas nas vítimas. Eu quase nunca ouvi nenhuma história do lado nazista, qual era seu papel exato, qual eram suas responsabilidades e quanta influência Hitler tinha sobre eles. Na minha cabeça, não é possível entender o Holocausto sem tentar ver de onde vieram as raízes do mal e como elas cresceram". Ele conta, no entanto, que não foi fácil achar os personagens dispostos ao encontro. "Muitas pessoas simplesmente desligaram o telefone na minha cara. Ainda há pessoas que se orgulham desse passado e defendem a ideia nazista".

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