Há pouco mais de um ano comecei a escrever para a Revista Shalom. Na época eu estava terminando a minha formação rabínica em Jerusalém e parecia a seção que era do rabino Henry Sobel a cada terceiro domingo do mês no Programa Mosaico: eu era só novas perguntas e novas respostas.
Na época recebi o convite da Revista Shalom para escrever sobre o dia a dia em Israel, particularmente em Jerusalém. Meses depois, já de volta a São Paulo e devidamente ordenado rabino, após cinco anos de estudos e práticas antecedidos por uma experiência in loco de mais 12 anos, passei a escrever sobre a vida judaica em São Paulo, mas continuava a falar de Israel. Afinal, eu me mantenho em contato diário com os acontecimentos em Jerusalém, graças aos amigos e amigas, colegas rabinos e rabinas que lá vivem.
Finalmente aconteceu que a vida me levou rapidamente para outro canto do país. Neste mês de fevereiro assumi como rabino da Sociedade Israelita da Bahia, mais conhecida como SIB. Sim, novas perguntas e novas respostas me esperavam por terras soteropolitanas. Vim parar na terra de um dos maiores colaboradores da Revista Shalom, na minha opinião: David Tabacof, que é influência clara no meu modo de escrever e de pensar. Eu, meus pais e boa parte do nosso ishuv sempre acompanhamos os textos do David, a sua forma livre de escrever. E eu não sabia que ele era baiano… comecei a descobrir aos poucos, quando passei a conhecer as pessoas daqui e perceber a importância da contribuição dos judeus baianos para a comunidade judaica brasileira.
Mal imaginava que, além do querido Pedro Kislansky, amigo de longa data, e seu irmão Israel, grande escultor e artista plástico, eu conhecia outros judeus baianos que viviam em São Paulo, sem me dar conta de suas origens. Mônica e Paulinha são baianas; Sulamita e Luciana também. Outros amigos moraram por aqui e retornaram a São Paulo ou fizeram aliá.
Fiz o caminho inverso de Caetano Velloso, retratado na clássica Sampa: quando eu cheguei por aqui, alguma coisa eu entendi, mas ainda falta muito. Assim como Sampa, à primeira vista Salvador me parece o avesso do avesso do avesso do avesso. Trânsito caótico, um mundo de gente andando pelas ruas. E entre três milhões de baianos na primeira capital do Brasil, descubro que há, segundo o IBGE, cerca de mil judeus. 250 a 300 famílias judias, em sua maioria de origem ashkenazi, vivem nesta cidade e outros mil espalhados pelo estado. O encontro com eles me fez lembrar do Bom Retiro da minha infância. E quantos bessarabis, vindos de shteitels provavelmente próximos àquele em que viveram meus avós!
Mas encontrei aqui uma comunidade diversificada. Na cidade há a SIB, cuja orientação é liberal por vocação. E há também uma sede do Beit Chabad, o que oferece a saudável opção da diversidade judaica.
Meu primeiro Shabat ocorreu na véspera de Purim. Escolha minha, com a intenção de começar minha jornada por aqui com alegria e descontração. Encontrei a velha sinagoga cheia, com a presença de crianças, jovens, adultos e “seminovos”, como chamam os mais experientes por aqui. Pessoas que optaram por se unir ao povo judeu estão plenamente integradas à comunidade, famílias inteiras, mostrando o quanto a Bahia tem a nos ensinar em termos de vida judaica igualitária e verdadeiramente inclusiva. Há pelo menos 15 jovens só este ano para bar e bat mitsvá. E correm os planos para o término da sonhada e bela nova sede, cujas obras estão bem avançadas. Quando estiver pronta, poderá se tornar uma referência de sede social e religiosa judaica.
Os judeus daqui estão bem inseridos na sociedade baiana. Muitos engenheiros, médicos, professoras, arquitetos, administradores de hotéis, lojistas, músicos, atrizes, dançarinos. Há de tudo um pouco. Temos movimento juvenil (Habonim Dror), Wizo e Pioneiras, cemitério israelita, monumento em lembrança da Shoá e outras coisas que ainda não descobri, mas vou descobrir. A Bahia está me dando régua e compasso. Aquele abraço!
Por Rabino Uri Lam - SIB (Sociedade Israelita da Bahia)
Publicado originalamente na Revista Shalom
A leitura da cronica do Rabino Uri Lam fez-me reportar aos tempos da minha infancia, la nos meus Campos dos Goytacazes, `a beira do rio Paraiba do Sul .Com o vento sul que varria aquela região transformando nossos cabelos glostorizados em redemoinho ,como nas aguas que quase engoliu-me, a gente assistia as conversas do meu pai com os parentes mais velhos ,a lembrança de suas vidas na velha Bessarabia.
ResponderExcluirO que não compreendiamos era a grande diferença dos seus costumes nos steital's e os praticados na pacata codadezinha norte-fluminense.As leituras, o passar dos anos em meios diversos,em todas as linhas do pensamento judaico , abriu meus horizontes.Por isso agradou-me profundamente a bandeira que o Rabino levanta bem alto, desde tempos que formou suas convicções judaicas.Senti-me aliviado em saber que continua convivendo com as comunidades, fora dos grandes centros da nação, outros Lamed Vav ,tantos justos, sem cor por definição mas com Fe' ,por vivencia!
Obrigado por sua maneira de levar judaismo aos que o procuram,com tolerancia.
Chag Pessach Sameach,
Adolfo e Mathilde Berditchevsky,
kipot srugot!