A comunidade judaica argentina qualifica como um “passo para o precipício” o acordo subscrito pela Argentina e Irã para esclarecer o atentado em 1994 contra uma mutual judaica de Buenos Aires e que a presidente argentina, Cristina Fernández, remeteu ao Parlamento para sua ratificação.
“Alguns pretendem dizer que isto é um passo adiante. Para nós isto pode ser um passo adiante para o precipício já que inexoravelmente se isto avança, a causa vai para a anulação”, disse Guillermo Borger, o titular da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), cuja sede foi destruída em 18 de julho de 1994, com um saldo de 85 mortos.
Na quinta-feira, ao anunciar a remessa ao Parlamento do acordo com o Irã para sua ratificação, Cristina Fernández havia qualificado como um “passo muito importante para destravar uma causa que estava imobilizada” e inclusive “foi para trás”, com a impossibilidade de interrogar os requeridos pela Justiça argentina, oito iranianos e um libanês.
Segundo o memorando de entendimento assinado no passado 27 de janeiro pela Argentina e Irã, ambos os países criarão uma comissão de juristas que revisará as atuações judiciais em torno do atentado e recomendará um plano de ação para seu esclarecimento com um parecer que não será vinculante.
O acordo, que prevê a realização de interrogatórios aos oito acusados, mas, no Teerã, só entrará em vigência uma vez que seja ratificado pelos Legislativos de ambos os países.
Em declarações para rádio, o titular da AMIA disse que a mandatária em sua mensagem da quinta-feira não aclarou as dúvidas da entidade judaica a respeito dos alcances do acordo, celebrado “em um momento em que o mundo fecha as portas ao Irã, que vai de mãos [dadas] com o terrorismo internacional”.
“A presidenta está confusa duplamente, dizendo que se interrogarão as testemunhas. Aqui em nenhum momento falamos de interrogatório, um interrogatório pareceria uma reportagem aos iranianos. Aqui deve ser tomada uma declaração indagatória, porque estamos falando de suspeitos foragidos da Justiça argentina”, considerouBorger.
Fernández negou na quinta-feira que a Justiça argentina ceda soberania ante a possibilidade de interrogar os acusados no Teerã.
Por sua vez, a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), braço político da comunidade judaica local, disse em um comunicado que não convalida o acordo, pois, “não contribui para avançar na busca da verdade e da justiça”.
O presidente da entidade, Julio Schlosser, assinalou que o Irã “não é um interlocutor” que lhes “dê confiança”, pois “é um país que é acusado do atentado, que nega o Holocausto e tem problemas com a comunidade internacional”.
Fernández assegurou na quinta-feira que respeitará a decisão do Parlamento, de maioria oficialista, que terá a “última palavra” sobre este acordo.
Vários referentes da oposição adiantaram que não ratificarão o acordo. O da AMIA foi o segundo dos ataques terroristas contra interesses judeus na Argentina, onde em 1992 explodiu uma bomba em frente à embaixada de Israel em Buenos Aires e causou a morte de 29 pessoas.
A comunidade judia atribui ao Irã e ao Hizbulá o planejamento e execução de ambos os atentados.
Traduzido por Infolatam