Guila Flint
De Tel Aviv
Às vésperas das eleições em Israel, boa parte das atenções está voltada aos partidos majoritários de direita e centro que têm se revezado no comando do país. Partidos identificados com a minoria árabe lutam, no entanto, para angariar apoio. E parte dos votos que vão receber deverá vir de cidadãos judeus.
Cerca de 20% dos cidadãos israelenses são árabes de origem palestina. Apesar do peso numérico, os três partidos identificados com essa fatia da população - o Hadash, o Balad e o Raam-Taal – têm hoje apenas 11 deputados entre os 120 que compõem o Parlamento.
A expectativa desses partidos é aumentar sua presença no Knesset (como é chamado o Parlamento israelense). E não apenas com os árabes. Além de eleitores judeus, as listas também possuem candidatos judeus.
Uma delas é a advogada judia Lea Tsemel, de 67 anos, candidata pelo partido Balad (Aliança Nacional Democrática).
"Decidi apoiar o Balad e inclusive colocar meu nome na lista de candidatos pois acredito no principal slogan do partido, que é 'um Estado para todos os seus cidadãos'", disse Tsemel à BBC Brasil.
A agenda do Balad é justamente incluir os árabes na agenda política do país. Boa parte da população de origem palestina não vai às urnas por razões políticas, porque não quer colaborar com o sistema político dominado pela maioria judaica.
Outros acham que isso não irá melhorar suas condições de vida. Isso explica a alta abstenção árabe - apenas 52% deles votaram nas últimas eleições.
Tsemel diz apoiar o Balad para fazer frente ao que chama de "racismo e fascismo que se fortalecem no país". Ela faz referência à ascensão de partidos de ultradireita que tentam limitar os direitos da população árabe.
"(Defendo) Um Estado nem judaico nem árabe, mas sim que seja de todos que aqui vivem", disse a advogada e candidata.
Participação política
Apesar de representarem um quinto dos cidadãos do país, os partidos árabes geralmente não são levados em consideração na formação de coalizões governamentais e ficam à margem das principais decisões politicas.
O líder do partido Raam-Taal, o deputado árabe Ibrahim Sarsur, é contra o boicote de grande parte da população árabe às eleições.
"Se nos ausentarmos do Parlamento estaremos prejudicando os interesses da população árabe", disse Sarsur à BBC Brasil.
De acordo com Sarsur, nesta campanha eleitoral os três partidos árabes estão concentrando esforços para convencer os eleitores potenciais a irem às urnas.
"Se conseguirmos aumentar o índice de participação de 52% (em 2009) para 70%, poderemos ter juntos mais de 17 cadeiras no Parlamento (em vez das 11 atuais) e seremos um bloco que o governo não poderá ignorar", afirmou.
Um dos eleitores convencidos a votar no partido de Sarsur é o jornalista judeu Haim Hanegbi, de 78 anos.
"Meu voto no Raam-Taal é um voto contra o racismo", disse Hanegbi à BBC Brasil. "Eles representam um povo inteiro que é deixado à margem da politica, banido e humilhado".
O terceiro grupo identificado com a população árabe é o Hadash (Frente Democrática pela Paz e Igualdade), uma frente que inclui vários movimentos, inclusive o Partido Comunista.
Se as pesquisas se confirmarem, o Hadash deve ganhar quatro cadeiras no Parlamento e uma delas deverá ser de um deputado judeu, Dov Hanin, que ocupa o terceiro lugar na lista partidária.
Resistência da direita
Desde a fundação de Israel, em 1948, foram raros os casos nos quais os partidos árabes foram levados em consideração pelos governos.
Um deles ocorreu em 1993, durante o governo do primeiro-ministro Itzhak Rabin, que necessitava dos votos dos partidos árabes para obter a aprovação do Parlamento ao Acordo de Oslo, que assinou com o líder palestino Yasser Arafat.
"Naquela época nós votamos em favor do acordo de paz e, em troca, conseguimos que Rabin cancelasse algumas leis discriminatórias relacionadas à posse de terras de cidadãos árabes", relatou o deputado Ibrahim Sarsur.
Partidos de extrema-direita questionam a participação da população árabe nas eleições.
Durante a gestão do Parlamento anterior, o partido Israel Beitenu, do ex-chanceler Avigdor Lieberman, tentou vincular o direito à cidadania a uma declaração por parte dos árabes de "lealdade ao Estado".
O projeto de lei não foi adiante, embora essa posição conte com simpatizantes dentro do próprio Likud, partido do primeiro-ministro Netanyahu, que, segundo as pesquisas, deverá ser reeleito.