A presidente Dilma Rousseff participou, na noite desta quarta-feira, da cerimônia do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, que homenageou os brasileiros Sousa Dantas, embaixador brasileiro na França, e Aracy Guimarães Rosa, funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo, que ajudaram a salvar judeus, contrariando a orientação do governo Vargas. Dilma, que participa do evento pela terceira vez como presidente, disse que o Brasil não pode negar o holocausto e lembrou que o país também tem períodos difíceis na sua história, citando a escravidão e a ditadura militar.
- Este momento tem um significado especial, porque o Brasil também passou por períodos difíceis na sua história.
Não podemos esquecer dos 300 anos de escravidão da população negra ou os anos de ditadura que tivemos de enfrentar - disse a presidente.
A solenidade foi marcada por homenagens às vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS). O evento foi aberto com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Em seu discurso, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, fez referência à tragédia, e o embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad, leu uma mensagem de condolências do presidente Shimon Peres. "Estamos consternados com a tragédia que golpeou o Brasil. Nosso corações estão com vocês neste momento de luto", disse o presidente na mensagem.
No discurso, a presidente destacou a vocação pacifista do brasileiro, argumentando que no país convivem pessoas de diferentes etnias e cultura, inclusive as que, como judeus e árabes, enfrentam-se em outras partes do mundo. Dilma defendeu o diálogo na solução dos conflitos internacionais, argumentando que a negociação tem de se impor sobre a solução armada.
- O holocausto sempre será para o Brasil uma questão que, de maneira alguma, podemos negar. O holocausto é necessariamente, para nós brasileiros, algo que tem de ser objeto da memória e da verdade. Felizmente o Brasil se transformou num país democrático. No nosso país vivem pessoas originárias de diferentes culturas e etnias. Somos um país formado por imigrantes. Aqui convivem em harmonia todos os povos mesmo aqueles que, como judeus e árabes, têm relações atritadas em outras partes do mundo - afirmou.
A presidente disse que a verdade e a memória são armas contra a barbárie. E lembrou que criou a Comissão da Verdade para apurar os fatos ocorridos na ditadura militar.
Sobre os brasileiros homenageados, Dilma disse que os dois tiveram a coragem de enfrentar riscos pessoais para salvar judeus. Aracy, que foi casada com o escritor Guimarães Rosa, tirava da documentação dos judeus que pediam visto brasileiro qualquer referência à origem e os orientava a mandar dinheiro para o Brasil. Sousa Dantas concedeu vistos aos judeus.
Os dois foram proclamados pelo Museu do Holocausto "Justo entre as Nações", por terem arriscado suas vidas para ajudar os judeus perseguidos pelo nazismo. O filho de Aracy, Eduardo Carvalho Tesse Filho, e o sobrinho-neto do embaixador, Marcos Sousa Dantas, participaram da cerimônia.