Por oito dias, o burburinho do comércio ilegal na extremidade sul da
Faixa de Gaza foi silenciado pela guerra.
A Força Aérea israelense
bombardeou diariamente esse pedaço arenoso de terra, a pouco mais de cem
metros do Egito, na esperança de fazer desmoronar as vias subterrâneas
por onde são transportados comida, veículos, medicamentos e armas que
sustentam o domínio do Hamas em Gaza.
Ahmad al-Arja, um estudante de engenharia de 22 anos, estava entre o
batalhão de escavadores que tiveram de interromper seus trabalhos em
razão do conflito. Mas, no dia 21, instantes depois de Israel e Hamas
terem chegado a um cessar-fogo, o chefe de Arja estava no telefone.
"Ele me disse: 'Vamos lá, confie em Deus, e amanhã de manhã comece a
cavar'", recordou Arja ao dar início, na companhia de seus primos, ao
maçante e traiçoeiro trabalho de reparação dos túneis.
O negócio da cidade de Rafah é a rede de túneis que permite contornar
o bloqueio a que Israel submete a Faixa de Gaza - e os negócios estão
novamente a mil por hora.
Para os líderes israelenses, que desde o cessar-fogo pedem garantias
de que o Hamas seja impedido de reabastecer seu potente arsenal, a
reativação do comércio impõe um desafio estratégico.
Após sair de Gaza, há sete anos, o Exército de Israel não tem mais
como coibir em terra o fluxo de contrabando que passa pelos túneis. O
premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, pede ao presidente do Egito,
Mohamed Morsi, mais empenho das forças egípcias para reprimir o envio
ilegal de produtos para Gaza.
Como Israel percebeu ao tentar conter o lançamento de foguetes contra
seu território, ataques aéreos contra os túneis proporcionam alívio
temporário, não uma solução.
"O que esperamos é que o Egito e o restante da comunidade
internacional impeçam o Hamas de se rearmar", diz o porta-voz de
Netanyahu, Mark Regev. "Com a última rodada de ataques, conseguimos
reduzir bastante os arsenais de foguetes e mísseis deles. O jeito de
evitar outra agressão no futuro é evitar que eles consigam se rearmar."
Israel atacou 140 túneis durante esta última operação, causando
sérios estragos a dezenas de dutos que passam pelos quase 11 quilômetros
da fronteira de Gaza com o Sinai egípcio. As bombas soterraram entradas
e destruíram paredes de concreto dos túneis.
Autoridades de segurança do Hamas que monitoram os túneis - e coletam
"impostos" dos comerciantes que compram os produtos importados - dizem
que pelo menos 50 túneis desmoronaram. Mas os escavadores acreditam que
existam centenas de túneis cruzando a fronteira.