De acordo com o jornal local Haaretz, Benjamin Netanyahu ficou dividido entre as posições de dois ministros.
Premiê israelense, Benjamin Netanyahu (dir.), junto do ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman (esq.), e o ministro da Defesa, Ehud Barak (acima)
A decisão do governo israelense de aceitar o acordo de cessar-fogo proposto por oficiais egípcios nesta quarta-feira (21/11) foi feita depois de dois dias de disputas acirradas entre as principais autoridades do país, informou reportagem do jornal local Haaretz. Tanto o trio dos principais ministros quanto o grupo constituído por nove oficiais rachou: enquanto alguns se mostraram favoráveis à trégua com organizações palestinas, outros defenderam a expansão da investida militar na Faixa de Gaza, com uma invasão terrestre.
Na última quarta-feira (14/11), as Forças de Defesa de Israel iniciaram a operação “Pilar Defensivo” no território palestino com o suposto objetivo de se defender do lançamento de projeteis por grupos de resistência como o Hamas. Aviões não-tripulados dispararam bombas na Faixa de Gaza, destruindo dezenas de edifícios e deixando pelo menos 147 pessoas mortas e mais de mil feridos. Do lado israelense, foram confirmadas cinco mortes.
Desde o início do ataque, as principais autoridades do governo de Israel se reuniram todos os dias para discutir a crise, autorizar planos operacionais e determinar os alvos militares do próximo dia. De acordo com apuração do Haaretz, nos últimos três dias, esses encontros se focaram no possível acordo de cessar-fogo com o Hamas mediado pelo Egito o que suscitou uma disputa entre o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, e o ministro de Defesa, Ehud Barak.
Barak se opôs a expansão da investida militar e defendeu o estabelecimento da trégua proposta pelo governo egípcio, apesar de reconhecer que seus termos se aproximam mais dos grupos palestinos. “Um dia depois do cessar-fogo, ninguém vai se lembrar do que estava escrito no texto. A única coisa que será testada é o golpe que o Hamas sofreu”, disse ele a Lieberman e ao premiê, Benjamin Netanyahu, citado pelo Haaretz.
“Nós podemos dispensar a proposta egípcia e nos engajar em uma incursão terrestre em Gaza, mas, no fim do dia, nós podemos terminar com o mesmo resultado”, acrescentou ele. O ministro das Relações Exteriores, no entanto, argumentou que a operação ainda não tinha conseguido reforçar o poder de dissuasão de Israel e que a invasão terrestre era necessária para mostrar ao Hamas que Israel não tem medo de entrar em Gaza.
Netanyahu e os EUA
Nos dois dias que antecederam o estabelecimento do acordo com os palestinos, o primeiro-ministro israelense vacilou entre as duas posições. Por um lado, Netanyahu expressou dúvidas sobre a efetividade da incursão terrestre, afirmando que poderia trazer problemas operacionais e políticos. Por outro lado, o premiê demonstrou preocupação de que o cessar-fogo pudesse fazer a operação “Pilar Defensivo” parecer um fracasso.
Sua posição, ao que indica o Haaretz, foi definida com a intervenção dos Estados Unidos. Depois de encontros com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e alguns telefonemas com o presidente Barack Obama, Netanyahu começou a aceitar a proposta de negociação do Egito. O governo norte-americano, em troca, se comprometeu a providenciar ainda mais fundos para o sistema de defesa israelense (os EUA doam, anualmente, US$3 bilhões para Israel).
Em comunicado de confirmação do cessar-fogo, o premiê reconheceu a influência norte-americana quando afirmou que decidiu aceitar a recomendação de Obama de dar uma chance à proposta egípcia a fim de estabilizar a situação na região. Apesar disso, Netanyahu alertou: “Eu sei que muitos esperavam uma resposta militar mais intensa ao lançamento de foguetes pelos palestinos, e isso ainda pode ser necessário”.
Apesar do anúncio da trégua, as autoridades de Israel não descartaram a possibilidade de usar ainda mais força contra os territórios palestinos caso algum grupo de resistência rompa com o cessar-fogo. “A decisão é simples. Se eles dispararem de Gaza, nós vamos reocupar”, ameaçou Lierberman. O ministro ainda acrescentou que realizar uma nova operação será mais dificil, mas aceitou o acordo.
Egito
A suspensão dos ataques mútuos foi implementada na noite desta quarta-feira (22/11) e até o momento, ambas as partes cumpriram com suas obrigações. O acordo entre Israel e a organização palestina Hamas foi anunciado pelo ministro das Relações Exteriores egípcio, Mohammed Kamel Amr, ao lado de Clinton.
Israel aceitou a obrigação de encerrar incursões e ataques no território palestino, mas não de finalizar outras iniciativas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em contrapartida, grupos de resistência armada palestinos também devem parar de lançar projéteis em direção a Israel e de realizar ataques nas fronteiras.
De acordo com o texto divulgado pela presidência egípcia, o país assumiu a responsabilidade de verificar o cumprimento do acordo e “deve receber garantias de todas as partes de que cada uma se compromete com o que foi estabelecido”.