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Entrevista com o cineasta Joseph Cedar


"Guerra é a mais irracional das atividades humanas"

Entrevista com o cineasta Joseph Cedar, do filme "Beaufort", obra que aborda a retirada das forças israelenses de uma fortaleza no sul do Líbano, na guerra de 2000.

Você nasceu em Nova York, mas se mudou cedo para Israel. Por quê?
Minha família seguiu a trajetória de muitas outras famílias judias. Integrei-me à sociedade israelense, fiz meu serviço militar, lutei no Líbano, entre 1986 e 1989. Como diretor, costumo ser integrado à nova onda do cinema de Israel. Não formamos nenhum movimento, mas queremos refletir sobre a realidade do país e do Oriente Médio.

Por que "Beaufort"?
O castelo no alto da montanha, no sul do Líbano, sempre foi palco de guerras, cobiçado por sua posição estratégica. Nos últimos anos, "Beaufort" inspirou matérias de jornais, um livro, o meu filme, um documentário. Para mim, o que interessava discutir era, talvez, o fim da história. Sempre me impressiona muito a constatação de como acabam as guerras. "Beaufort" terminou em uma grande explosão. A guerra talvez seja a mais irracional das atividades humanas. As pessoas investem energia e dinheiro. Matam-se, e um dia decidem que aquilo não é mais importante. Fazem tréguas, acordos, a paz. Mas e o tanto que já foi sacrificado? "Beaufort", o filme, é sobre isso.

A rotina sob a tensão da guerra. Como estruturou seu roteiro?
O filme conta a história de Liraz Liberti, o comandante de "Beaufort". É muito jovem, impulsivo e nosso relato se ocupa dos últimos meses da ocupação daquela fortaleza. Na verdade, nosso tema é a remoção das forças israelenses. O forte será explodido. A trama não é a guerra, mas a retirada.

Seu filme passa uma sensação de isolamento, de claustrofobia, muito forte. Como você trabalhou isso?
Na preparação de "Beaufort" assisti várias vezes ao filme alemão "O Barco – Inferno no Mar" (de Wolfgang Petersen). Também revi clássicos de trincheiras, durante a I GuerraMundial, incluindo "Glória feita de sangue". O filme de Stanley Kubrick é um dos grandes, senão o maior filme de guerra de todos os tempos. Eu próprio tinha a experiência do isolamento militar, das longas vigílias. Filmamos nas montanhas de Golan, numa área que simulava "Beaufort". Nosso "set" era muito exato. Queria utilizar planos sequências e, ocasionalmente, amplos movimentos de câmera, mas tudo era condicionado pelo isolamento, pelos corredores. O próprio espaço definiu a "mise-en-scène" e eu só precisei me adaptar às condições.

No final de seu filme, um pai protesta contra a morte do filho, um especialista em bombas da Defesa israelense. É a sua mensagem de autor?
O sentido da cena é que esse pai desesperado não culpa os políticos nem os militares, mas chama a responsabilidade sobre si mesmo, isso é, a sociedade civil, pelo que ocorria no Líbano. Nossas guerras nunca são somente por território, ou por motivos religiosos. Há uma combinação, eu diria superposição de elementos e é importante encarar a responsabilidade de Israel como um todo, por estes mais de 60 anos de violento "status quo" na região. O fato de ele ser um advogado pacifista equivale a meu desejo de dar voz aos liberais. Somos a única esperança de paz em uma região que tem sido tão penalizada pela guerra.

Publicado no O Estado de S. Paulo
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