Evento reviveu debate sobre a necessidade de manter viva a memória do Holocausto e a maneira como isso é feito, de modo a não passar imagem de banalização da tragédia.
Estee Lieber se sentiu um pouco tonta quando saiu debaixo do secador
de cabelos para o derradeiro desfile, que aconteceu em 28 de junho. "Eu
não gosto do meu cabelo liso", ela reclamou. "Não sou moderna, eu gosto
dos meus cabelos cacheados."
Esse foi o primeiro concurso de beleza do que
Lieber, 74 anos, nascida na Polônia em 1937, participou. Ela tinha 5
anos de idade quando seu pai foi morto pelos nazistas na Alemanha, e 6
quando sua mãe enfrentou o mesmo destino.
Genia Schwartz-Bardt, 89 anos, se maquia para concurso de beleza em Haifa
Essa foi a primeira vez que todas as 14
finalistas participaram de um concurso de beleza, que foi anunciado como
o primeiro concurso disputado por sobreviventes do Holocausto.
Elas usaram sapatos discretos e não desfilaram de biquíni. Suas histórias pessoais tiveram tanta importância quanto seu estilo.
"Tive uma longa luta contra a morte, eu quase morri no campo
de concentração", Mania Herman, 79 anos, disse à plateia de cerca de 500
pessoas. "Eu vim para Israel em 1951. Estudei, trabalhei, construí uma
família. E escrevi três livros sobre o Holocausto."
Mas o desfile teve o intuito de ser mais do que apenas um
momento de bem-estar. Ele tocou em um conflito central que atormenta a
sociedade israelense, onde a maioria concorda com a necessidade de
manter a memória do Holocausto central e viva, mas nem todos concordam
com a maneira como isso é feito.
Chava Hershkovitz foi a vencedora do concurso de beleza de sobreviventes do Holocausto
Críticas
Alguns criticaram o que chama de banalização da tragédia, um
lembrete de que em Israel o Holocausto é tão onipresente quanto
controverso.
Shimon Sabag, diretor do Helping Hand for a Friend, o grupo sem
fins lucrativos que organizou o evento, disse que o desfile era
importante pois "temos de lembrar o que aconteceu, mas também deixar os
sobreviventes pensarem no presente."
Mas o evento foi bem recebido por alguns mesmo com apenas dois
minutos para conhecer cada participante e sua história. Cada uma falou
sobre fome, espancamentos e perdas na Europa, mas também sobre livros
escritos e prêmios recebidos em Israel.
Ze'ev Bar-Ilan de Beersheba, um sobrevivente, escreveu uma carta ao
jornal Yediot Aharonot condenando o evento como "uma tentativa de se
aproveitar e explorar de um dos acontecimentos mais sangrentos da
história humana para fins de entretenimento." A dissidência demonstra a
luta constante sobre o tratamento dado ao Holocausto.
A coroa e um fim de semana em um hotel cinco estrelas foi para Hava
Hershkowitz, 78 anos, que usava uma saia preta até o tornozelo e casaco
de mangas compridas.
A participante mais velha tinha 89 anos, a mais jovem 73. Algumas presentes estavam relutantes em participar.
"Eu a incentivei", disse Moshe Lahis sobre sua esposa, com quem
está casado há de 62 anos. Bracha tem 82 anos de idade. "Na sua idade,
ou até mesmo antigamente, ela sempre foi maravilhosa por dentro e por
fora." Bracha ficou em segundo lugar.
Sobreviventes participam de concurso em Haifa, Israel