O Senado americano define quem é 'refugiado' palestino

O Senado americano define quem é 'refugiado' palestino

magal53

A ONU informa que há 5 milhões de refugiados palestinos. O Senado dos EUA diz que esse número está multiplicado por 160.

O Senado dos EUA aprovou na noite da quinta-feira passada uma definição que poderá diminuir o número de refugiados palestinos reconhecidos pelos Estados Unidos para cerca de 30.000 ao invés dos 5  milhões anunciado pelos árabes.

Uma emenda a um projeto de lei, proposta pelo republicano Mark Kirk que é senador republicano pelo Illinois, é endereçada ao Departamento de Estado para que haja a distinção entre os refugiados palestinos deslocados pela criação de Israel em 1948 e os seus descendentes.

Quase todos concordam que cerca de 650 mil palestinos fugiram ou foram forçados de suas casas entre junho de 1946 e maio de 1948. Mas quando se trata da contagem atual do número de refugiados palestinos vivos, a matemática fica confusa.
De acordo com a United Nations Reliefand Works Agency (UNRWA) - o principal órgão encarregado de prestar assistência aos refugiados palestinos –na sua contagem informa que atualmente são mais de 5 milhões de refugiados. No entanto o número de palestinos vivos que pessoalmente foram deslocados durante a Guerra de
Independência de Israel é estimado em apenas 30.000.

Este enorme disparidade é explicada pelas decisões da UNRWA em 1965 e 1982 cuja definição de "refugiados" foi tornada muito mais abrangente para que fossem incluídos também os filhos, netos e seus descendentes dos palestinos deslocados. Atualmente a UNRWA recebe todo ano aproximadamente US$ 600 milhões, dos quais 250 milhões dólares é a contribuição dos Estados Unidos. Até agora os Estados Unidos já contribuíram com mais de US$ 4,4 bilhões para a UNRWA desde a sua criação em 1949.

Se o Comitê de Apropriações do Senado dos EUA for vencedor, isso pode mudar significativamente. Na quinta-feira, o comitê aprovou definição para distinguir entre os refugiados palestinos de 1948 que estão vivos e os seus descendentes. A emenda Kirk para dotações para entidades estrangeiras exige que o Departamento de Estado relate no final de cada ano quantas pessoas recebem ajuda da UNRWA que foram elas próprias deslocadas e os descendentes dessas pessoas. Por esta definição o número, estimado em cerca de 30.000, seria usado como base para a formulação da política dos EUA sobre questões de refugiados palestinos.
Escrevendo na ‘Foreign Policy’ Jonathan Schanzer da Fundação para a Defesa das Democracias cita um estudo que em 2050 poderia haver cerca de 15 milhões de pessoas que se rotulariam como sendo ‘refugiados palestinos’caso a UNRWA não reformule o seu método de contagem. No entanto, “Schanzer prevê muita resistência para esta resolução do Senado”."Nos últimos anos, os políticos e raposas da política, incluindo um ex-administrador da UNRWA, pediram a reforma desta agencia da ONU. A agência não apenas objetou, mas está se preparando para uma batalha", diz ele. "A UNRWA se estabeleceu em Washington com dois experientes dirigentes profissionais, apesar do fato de que somente mantêm operações no Oriente Médio, o que parece ser uma antecipação da necessidade de um esforço do lobby em grande escala para defender fundos para esta missão. A agência no ano passado até considerou alterar o seu nome em uma tentativa de melhorar a sua imagem no Ocidente".

O Departamento de Estado americano, que havia prometido US$ 10 milhões adicionais para a UNRWA no início deste ano, também está se movimentando contra esta medida. Mas Schanzer considera que tais movimentações serão "provavelmente pálidas em comparação com o clamor esperado na Cisjordânia, Gaza e nos campos de refugiados palestinos em países árabes vizinhos".

"A narrativa sobre os refugiados é um item sagrado na cultura política palestina. Os líderes palestinos não vão simplesmente aceitar caso o Congresso aprove essa nova legislação. Pelo contrário, é esperado que se mobilizem. Quando a UNRWA apenas sugeriu a alteração do seu nome em julho de 2011, os palestinos organizaram protestos e ocupações. A proposição de mudanças reais sobre a UNRWA poderá até mesmo levar à atos de violência " diz ele.
Na Newsweek / The Daily Beast, Lara Friedman do esquerdista ‘Americanos Para a Paz Agora’ critica Kirk por tentar "unilateralmente" a resolução "sem negociações"do problema dos refugiados. Ela acredita que o problema deva ser resolvido em negociações bilaterais sobre o estatuto permanente entre Israel e os palestinos e acrescenta que, mesmo se transformado em lei, a emenda Kirk não iria funcionar.

"Os palestinos que se consideram refugiados não o fazem simplesmente porque a UNRWA, ou qualquer outra pessoa, dá-lhes permissão para fazê-lo" disse ela. "Eles fazem isso pela narrativa e experiência pessoal. Forçando as Nações Unidas para redefinir que milhões deles não mais serão oficialmente qualificados como refugiados não iria mudar essa autodefinição, e não tornará a questão mais fácil de resolver no futuro. Na verdade ela só vai torná-la mais difícil, uma vez que os novos termos de Kirk recentemente aprovados serão totalmente desconectados das questões reais que estão no cerne do conflito".

No entanto o gabinete de Kirk explicou que a legislação não exige um corte total de descendentes de palestinos necessitados para recebem a ajuda da UNRWA. Em vez disso, isto altera a maneira como os EUA os veem - como pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, e não como refugiados. E que esta emenda irá melhorar as chances de paz israelense-palestina, já que poderia produzir um "direito de retorno" palestino sem que isso resulte no suicídio demográfico de Israel.

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