Tendência em todo o mundo, produções israelenses desembarcam em três emissoras abertas do país este ano
Mariana Zylberkan
José Luiz Datena apresenta o game show Quem Fica em Pé, na Band (Divulgação)
Em visita recente a Hollywood, o presidente israelense Shimon Peres entrou no clima e fez um discurso sobre o poder de fabricar sonhos. “O sonho americano foi criado aqui. Eu não saberia dizer o que influenciou mais o resto do mundo, a constituição dos Estados Unidos ou a ideia desse sonho americano, por isso estamos copiando vocês. Nós queremos o sonho israelense.” Pelo menos em relação à indústria de TV israelense, o desejo de Peres está cada vez mais perto de se tornar realidade. Adaptar programas criados em Israel tornou-se tendência no mundo todo e agora também no Brasil. Com a estreia de três atrações na TV aberta, o país entra este ano no mapa da indústria israelense, hoje a quinta exportadora mundial de formatos.
Record, SBT e Band, três das principais emissoras abertas do país, importaram um formato cada uma. E a gigante Rede Globo, ela mesma uma exportadora de produções, já que suas séries e novelas circulam há anos no exterior, passa a exibir este ano Homeland. Embora produzida pela americana Fox, a série é baseada em Hatufim: Prisioners of War, seriado do israelense Gideon Raff. Premiada neste ano com o Globo de Ouro de melhor drama, a série, que é exibida há cerca de um mês no país pelo canal pago FX, é prova da qualidade da TV de Israel - e do entusiasmo que ela provoca.
No Brasil, esse entusiasmo se traduz melhor nas adaptações feitas pelas rivais da Globo. Nesta segunda, dia 9, estreia na Band, sob o comando do apresentador Datena, o game show Quem Fica em Pé, que reproduz o formato Who’s Still Standing, sucesso israelense em 14 países. É um programa de perguntas e respostas que joga as pessoas num buraco quando erram. Em meados de março, foi ao ar pela primeira vez no programa O Melhor do Brasil, de Rodrigo Faro, sucesso de audiência da emissora com mais de 10 pontos no Ibope, o quadro Faça e Disfarça, versão de Deal With It, da produtora israelense Keshet Formats. Espécie de pegadinha, o quadro obriga os participantes a seguir uma série de instruções inusitadas recebidas através de um ponto eletrônico, que ninguém mais sabe que existe. De acordo com a Zodiak, o quadro garante média de 12 pontos no Melhor do Brasil. Por causa do sucesso, a segunda temporada com 14 episódios já começou a ser gravada.
Já o SBT prepara para o segundo semestre a adaptação de Wrong Number (veja detalhes das produções no infográfico abaixo).
Bom e barato – Em comum, além da origem, as atrações de Israel têm a leveza do orçamento, considerado magro em comparação com os de programas americanos e ingleses. Magro e, portanto, atraente para produtoras de outros países que queiram investir em adaptações dos formatos. A versão original de Homeland, por exemplo, foi produzida com o custo de 200.000 dólares por episódio – para efeito de comparação, um quinto do que negocia ganhar, sozinho, o ator Ashton Kutcher por cada capítulo de Two and a Half Men numa nova temporada da sitcom. “Somos um país pequeno e temos uma verba limitada para criar programas capazes de competir com os de outros países. Por isso, a criatividade e a tecnologia de ponta se tornaram nossos diferenciais”, diz Avi Armoza, presidente da produtora Armoza International Media. Uma das mais atuantes em Israel, ela é a criadora do game show Who’s Still Standing e da série The Naked Truth.
The Naked Truth, aliás, série que tem o mesmo nome de um seriado americano da década de 1990, é exemplo de como o orçamento inspira a criação israelense. Tal qual a série In Treatment, que ganhou remake da HBO, rendeu Globo de Ouro para o ator Gabriel Byrne e foi exibida no Brasil com o título Em Terapia, The Naked Truth é quase toda narrada dentro de uma sala. Os episódios são centralizados nos personagens e nos diálogos. “Por termos poucos recursos, focamos mais na narrativa do que na produção. Isso nos diferencia das atrações americanas, mais voltadas ao aspecto estético e comercial dos produtos”, diz Avi Armoza.
À parte a questão orçamentária, a criatividade profícua dos produtores e roteiristas israelenses também é explicada pelo próprio funcionamento da TV do país. Uma lei obriga os canais abertos a terem 50% da programação tomada por conteúdo nacional. Entre os canais a cabo e via satélite, a participação nacional obrigatória é de 8%. Como consequência, as operadoras se tornam também investidoras da produção nacional, o que estimula a experimentação de formatos.
Com a possibilidade de atender também ao mercado externo, cada vez mais interessado no que se faz em Israel, essas operadoras têm um estímulo a mais para produzir. O mercado internacional é infinito, o oposto do limitado mercado interno: a massa de espectadores de Israel é composta por cerca de 2 milhões de domicílios equipados com televisores que se dividem entre sete canais abertos e 34 canais a cabo.