Quando observamos a longa existência e a unidade existente entre os
judeus, temos a impressão de que os praticantes dessa religião são
submetidos a uma lógica de subserviência bastante rígida. Apesar de
lógica, essa impressão se distancia radicalmente de todo um
comportamento religioso que se arraigou ao longo dos anos por meio da
discussão das leis e o aprimoramento delas.
Uma antiga antilenda judaica conta que, na realização dos Dez
Mandamentos, o Criador teria oferecido a diversas nações do mundo a
oportunidade de se guiarem por intermédio daqueles preceitos
determinados. A cada vez que um povo reclamava de uma proibição, a
divindade eliminava a possibilidade de estabelecer um pacto com aquele
povo. Assim, quando se apresentou a Israel, a fúria divina ergueu uma
montanha sobre a cabeça dos judeus que seria arremessada sobre eles,
caso não aceitassem as leis.
Por mais impositiva que seja essa narrativa lendária, observamos que
os judeus têm um cuidado muito especial com as leis que definem suas
tradições e com a obediência a rituais litúrgicos. Segundo eles mesmos
costumam dizer, todo judeu tem a obrigação de colocar uma cerca em volta
da Torá, o mais importante livro sagrado dos judeus. Mais que um
sentido de proteção, essa postura sugere que os judeus devam observar a
aplicação de suas leis em função das diversas situações cotidianas.
Um exemplo disso pode ser notado em relação a uma exigência que
proíbe os judeus de consumirem a carne de um animal com o leite da mãe
desse mesmo animal. Entretanto, para que o princípio não seja deturpado,
ele não realiza o consumo da carne de um animal que seja preparada com
qualquer outro ingrediente obtido do ser que lhe deu a vida.
Dessa
forma, as regras da Torá acabaram sendo acrescidas de várias
considerações que envolvem um extenso grupo de recomendações
transmitidas oralmente.
Se alguma das orientações estabelecidas gera dúvida ou a adoção de um
comportamento inédito, os judeus se embrenham em uma longa discussão
voltada para a observância correta dos preceitos que fundamentam a sua
unidade cultural e religiosa.
Com isso, notamos que a relação dos judeus
com as suas leis incorporam um sentido de abnegação que se equilibra
junto à reflexão e ao debate sobre o proceder de seus praticantes.