* Por Ethan Bronner, repórter do New York Times
Briga entre o Canal 10 e Benjamin Netanyahu virou parte de confronto entre a direita e a esquerda de Israel
Um
canal de televisão israelense exibiu, há quase um ano, uma reportagem
sobre diversas viagens realizadas pelo então recém-eleito Benjamin
Netanyahu a Paris, Londres e Nova York antes de se tornar
primeiro-ministro, em 2009.
Acompanhado da esposa, ele voou de
primeira classe e se hospedou em luxuosas suítes de hotéis. Sua esposa
frequentava o cabeleireiro e mandava seu guarda-roupa para a lavanderia.
As contas, exibidas na tela, foram pagas por amigos abastados.
Viajar
com luxo à custa de outros pode violar regras do funcionalismo público e
a própria lei, e também pega mal. Mas, em vez de receber elogios por
seu jornalismo, o Canal 10 hoje luta para sobreviver, e a hostilidade de
Netanyahu em relação à emissora está sendo lançada como parte de uma
guerra cultural e política mais ampla em Israel entre a esquerda e a
direita, envolvendo esforços para controlar o judiciário, a divulgação
de notícias e o discurso público.
Trata-se de uma batalha que
imediatamente coloca a coalizão direitista governante contra a elite
liberal à medida que o governo se recusa a adiar a dívida do canal, o
que poderia obrigá-lo a fechar.
— A briga envolvendo o Canal 10
é, em parte, uma vingança — Netanyahu quer fazê-los pagar pelo que
fizeram com ele — argumentou Nachman Shai, membro do parlamento do
partido oposicionista Kadima e ex-executivo de mídia que ajudou a criar o
Canal 10 há uma década.
— Mas também faz parte de uma luta de
três frentes — envolvendo os tribunais, a sociedade civil e a mídia. A
direita quer controlar todas as instituições. A liberdade de imprensa
está em risco.
As pessoas ao redor de Netanyahu, que entraram com
um processo de calúnia contra o canal, da ordem de US$ 1 milhão,
afirmam que o Canal 10 é um empresa falida cujas dívidas já foram
perdoadas inúmeras vezes e que está se escondendo atrás de queixas
políticas e preocupações exageradas quanto à liberdade de expressão para
fazer o público absorver suas dívidas.
À primeira vista, o
pedido que o Canal 10 faz é modesto. Ele deve US$ 11 milhões, a maior
parte desse valor a um órgão regulador oficial, e o restante em
impostos. Ayelet Metzger, vice-diretora geral do órgão regulador,
afirmou que sua agência e o ministério das Finanças tinham concordado em
adiar a dívida por um ano.
No entanto, um comitê parlamentar
votou contra isso em dezembro. A coalizão de Netanyahu obrigou seus
membros a votarem contra. Isso significa que o Canal 10 irá, em teoria,
fechar as portas no final de janeiro, quando termina sua franquia de dez
anos.
Na prática, haverá uma batalha para salvá-lo devido à
crença de que o canal desempenha um papel fundamental no debate público,
com suas transmissões de notícias investigativas e cruzadistas. A única
outra rede independente é o Canal 2, que também está enfrentando
dificuldades econômicas.
Entretanto, Netanyahu possui uma forte
influência sobre outros veículos de mídia: o estatal Canal 1, uma rádio
estatal e um jornal de sucesso distribuído gratuitamente, o Yisrael
Hayom, de propriedade de um amigo americano de Netanyahu, o bilionário
Sheldon Adelson.
O presidente Shimon Peres interveio, afirmando
que o esforço do canal para sobreviver é "uma luta pelo caráter
democrático de Israel". Num comentário relacionado, ele também se
declarou "envergonhado" pelos diversos projetos de lei considerados no
Parlamento que, segundo ele, afastam a democracia em Israel: uma lei
antidifamação, outra que silencia alto-falantes com chamados à oração
para os muçulmanos, e outra que impede governos estrangeiros de
financiar grupos de esquerda em Israel.
No verão passado, o
Parlamento aprovou uma lei tornando possível processar qualquer pessoa
que defenda o boicote a produtos de Israel, incluindo assentamentos da
Cisjordânia.
O Canal 10 enfureceu Netanyahu com relatos de
viagens luxuosas como membro do Parlamento e ministro das Finanças,
gerando uma investigação contínua por parte do Estado.
No
entanto, o canal também enfureceu líderes anteriores, desempenhando um
papel fundamental na exposição de como foi conduzida a guerra do Líbano,
em 2006, e divulgando suspeitas de acordos corruptos envolvendo terras
na família do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon.
O canal mostrou
a situação de um médico palestino em Gaza, cujas três filhas foram
mortas por forças israelenses na guerra ocorrida ali em 2008-2009, e
mostrou um ministro do partido nacionalista Yisrael Beiteinu chegando à
casa de uma mulher suspeita de ser sua amante e deixando a casa na manhã
seguinte.
— Se nós deixarmos de existir, a mensagem será clara:
se você tem coragem de abrir uma empresa de notícias que faz críticas,
irá à falência — afirmou Raviv Drucker, principal repórter investigativo
da estação, responsável pela matéria sobre as viagens de Netanyahu.
Um
executivo do Canal 10, que falou sob a condição de anonimato, afirmou
que um auxiliar de Netanyahu lhe disse que se Drucker tirasse férias por
tempo indeterminado, o adiamento das dívidas seria muito mais fácil. O
gabinete de Netanyahu negou que essa conversa tivesse ocorrido.
Em
anos anteriores, Netanyahu chegou a intervir para salvar o Canal 10
duas vezes, pois afirmou que é a favor de aumentar as redes de notícias
para expandir o mercado de ideias e debates. A mídia israelense, como
reclamam ele e seus auxiliares, pende para a esquerda, e o que o país
precisa é de uma versão israelense da Fox News.
Algumas pessoas
afirmam que era isso que Netanyahu achava estar ajudando a criar quando,
há cinco anos, persuadiu seu amigo, o bilionário americano Ronald S.
Lauder, a investir no enfermo Canal 10. Mas a estrutura do canal
dificulta que os donos intervenham em seu conteúdo.
Entretanto,
depois da exibição da matéria sobre as viagens de Netanyahu, o
primeiro-ministro esfriou sua amizade com Lauder, que se recusou a fazer
comentários.
Outro dono do canal é o produtor de Hollywood
Arnon Milchan. O terceiro e maior acionista é Yossi Meiman, um liberal
israelense que enfrenta dificuldades financeiras porque seu investimento
num gasoduto do Egito tem sido repetidamente explodido desde a
revolução egípcia.
Amnon Dankner, ex-editor do jornal Maariv e jornalista veterano, afirmou que a ameaça ao Canal 10 o preocupava profundamente.
—
Pela primeira vez, temo o fim das notícias críticas e investigativas
como conhecemos em Israel. Se o Canal 10 fechar, o Canal 2 vai ficar
ainda mais domado. Desde a infância, eu sentia que a liberdade de
imprensa estava avançando aqui. Agora, parece que está retrocedendo.
Todavia,
outros jornalistas afirmam que a única coisa que mudou é quem está no
poder. Os primeiros-ministros do Partido Trabalhista como David
Ben-Gurion, Golda Meir e Yitzhak Rabin também controlavam a imprensa,
reunindo-se com editores seniores regularmente.
— Quando o
primeiro-ministro era "um de nós", parecia totalmente natural que ele
silenciasse suas críticas — escreveu recentemente Ari Shavit, colunista
do jornal Haaretz.
Nahum Barnea, principal colunista político do
jornal Yediot Aharonot, afirmou que, embora o problema do Canal 10
tenha a ver com um negócio falido, também faz parte da disputa pelo
discurso público no Parlamento.
— Muitas das leis propostas
possuem um denominador comum. As pessoas da coalizão acham que é hora de
mudar as regras — em relação aos palestinos, ao setor árabe de Israel, à
esquerda e à mídia.
— A historia do Canal 10 é parte disso. E se
ficarmos com apenas um canal comercial, seremos uma democracia mais
fraca — acrescentou.
Não me leve a mal, mas esse blog é ridículo. Ele smplesmente republica artigos de fontes sabidamente anti-israel, como NYT, BBC, EFE...
ResponderExcluirNão há comentários em cima das matérias parciais, não há contra-ponto com fontes pro-Israel.
Péssimo trabalho.
Agradecemos sua opinião, e para tanto a publicamos. Sua opnião é importante, mas seria bom vc deixar de ser anônimo.
ResponderExcluirOlá blogueiro, venho deixar meu repúdio a esse covarde e anônimo, que usando o anonimato chama o blog de ridículo. Não concordar faz parte, mas daí agredir, caluniar? O Blog tem coisas pertinentes e outras não, mas tem colaboradores de peso e matérias feitas por ele que são relevantes. Sugiro ao Blog, não permitir mais comentários de gente covarde e anônima.
ResponderExcluirAbraços