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Adversários aumentam operações sigilosas no Irã



Aparente campanha de explosões, assassinatos e ciberataques tenta impedir avanços do programa nuclear iraniano.

À medida que cresce o debate sobre um possível ataque militar de EUA e Israel para impedir o desenvolvimento do programa nuclear do Irã, uma campanha sigilosa de assassinatos, atentados, ataques cibernéticos e deserções parece querer torná-lo irrelevante, de acordo com autoridades americanas e especialistas.

A campanha, que esses especialistas acreditam estar sendo realizada principalmente por Israel, aparentemente fez sua mais recente vítima na quarta-feira, quando uma bomba matou um cientista nuclear de 32 anos de idade na hora do rush matinal em Teerã.
O cientista, Mostafa Ahmadi Roshan, era um supervisor de departamento na usina de enriquecimento de urânio de Natanz, atuante naquilo que os líderes ocidentais acreditam ser o objetivo do Irã em construir uma arma nuclear. Ele foi pelo menos o quinto cientista com conexões ao projeto nuclear a ser morto desde 2007. Um sexto cientista, Fereydoon Abbasi, sobreviveu a um ataque de 2010 e foi nomeado chefe encarregado da Organização Iraniana de Energia Atômica.

Autoridades iranianas imediatamente culparam tanto Israel quanto os Estados Unidos pela morte, que ocorreu a menos de dois meses de uma explosão suspeita em uma base de mísseis iranianos, que matou um general de alto escalão e deixou outros 16 mortos.

Enquanto as autoridades americanas negam ter feito parte dessas atividades, acredita-se que os Estados Unidos estejam envolvidos em outros esforços secretos contra o programa nuclear iraniano.

O assassinato teve um forte índice de reprovação por parte da Casa Branca e do Departamento de Estado, que negaram qualquer cumplicidade por parte dos Estados Unidos. As declarações americanas pareciam refletir uma séria preocupação com o crescente número de ataques realizados no país, que alguns especialistas acreditam poder ser contraproducentes para futuras negociações, podendo levar o Irã a redobrar seus esforços no que o Ocidente suspeita ser uma busca pela capacidade nuclear.

"Os Estados Unidos não têm absolutamente nada a ver com isso", disse Tommy Vietor, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. A secretária de Estado Hillary Rodham Clinton apareceu para reforçar a negação na quarta-feira, negando categoricamente "qualquer envolvimento dos Estados Unidos em qualquer tipo de ato de violência dentro do Irã".

"Acreditamos que tem de haver um entendimento entre o Irã, seus vizinhos e a comunidade internacional para que o país dê um fim a seu comportamento provocativo, acabe com sua busca por armas nucleares e volte a participar da comunidade internacional", disse Clinton.

O general de brigada e porta-voz militar israelense Yoav Mordechai escreveu no Facebook a respeito do ataque: "Não sei quem vingou o cientista iraniano, mas definitivamente não irei chorar por ele", segundo relatos na mídia israelense.

Assim como os ataques de aviões não tripulados que o governo Obama adotou como principal tática contra a Al-Qaeda, a campanha sigilosa multifacetada contra o Irã surgiu para oferecer uma alternativa à guerra. As operações têm, no máximo, diminuído, porém não interrompido o enriquecimento de urânio do Irã. E alguns céticos acreditam que isso pode fortalecer o Irã ou até mesmo criar um precedente perigoso para uma estratégia que poderia ser usada contra os Estados Unidos e seus aliados.

Nem Israel nem os Estados Unidos querem discutir a campanha secreta em detalhes, deixando alguma incerteza sobre seus autores e suas finalidades. Por exemplo, Karim Sadjadpour, um especialista no Irã da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, disse acreditar que pelo menos alguns dos cientistas assassinados poderiam ter sido mortos pelo próprio governo iraniano. Alguns deles haviam demonstrado simpatia pela oposição iraniana, disse ele, e nem todos pareciam ser especialistas de alto escalão.

"Acredito que existem motivos para duvidar da ideia de que todos os atentados foram realizados por Israel", disse Sadjadpour. "É muito estranho que os cientistas nucleares iranianos, cujos movimentos são provavelmente cuidadosamente monitorados pelo Estado, possam ser executados em plena luz do dia, às vezes no tráfego da hora do rush, e seus culpados nunca sejam encontrados."

Um ponto de vista mais comum, entretanto, é expresso por Patrick Clawson, diretor da Iniciativa de Segurança do Irã no Instituto de Washington para Política do Oriente Próximo. "Muitas vezes me perguntam quando Israel irá atacar o Irã", disse Clawson. "Eu respondo: 'dois anos atrás.'"

Clawson disse que a campanha secreta de Israel ou dos Estados Unidos em locais suspeitos de possuírem energia nuclear foi de longe uma ideia melhor do que os ataques aéreos. "Sabotagem e assassinato são as melhores maneiras de se agir quando possível", disse ele. "Essas operações não provocam uma reação nacionalista no Irã, o que poderia fortalecer o regime. Além disso, elas permitem que o Irã desista caso decida que o custo de fazer uma arma nuclear é muito alto."

Um ex-oficial de alto escalão da segurança israelense, que disse que falaria sobre a campanha secreta apenas em termos gerais e com a condição de anonimato, disse que a incerteza sobre quem é o responsável pelos ataques é útil.

"Não existe informação suficiente para que adivinhem quem é responsável", disse ele. "Se você não consegue provar, então você não consegue retaliar. Quando está muito, muito claro quem está por trás de um ataque, o mundo se comporta de uma maneira diferente."

O ex-oficial fez uma observação de que o Irã realizou muitos assassinatos de inimigos, principalmente figuras da oposição iraniana, durante os anos 1980 e 1990, e tinha sido recentemente acusado de conspirar para matar o embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos, em Washington.

"Em árabe, existe um provérbio: “Se você está atirando, não se queixe se for baleado", disse ele. Mas ele retratou os assassinatos e atentados como parte de uma estratégia maior de Israel para impedir uma guerra.

"Acho que a mistura de diplomacia, sanções e atividades secretas pode nos levar a alguma coisa", disse o ex-oficial. "Acho que é a política mais correta a se fazer, enquanto ainda temos tempo."

Os historiadores dizem que Israel tem usado o assassinato como uma ferramenta política desde a sua criação em 1948, matando dezenas de militantes palestinos e um pequeno número de cientistas estrangeiros, militares ou pessoas acusadas de serem colaboradores do Holocausto.

Mas não existem precedentes para o que parece ser a atual campanha contra o Irã, envolvendo Israel e os Estados Unidos e uma ampla variedade de métodos.

Os assassinatos foram realizados principalmente por motociclistas que anexaram bombas magnéticas no carro das vítimas, muitas vezes no meio de um trânsito pesado.
A agência de notícias Mehr, do Irã, afirmou que a explosão de quarta-feira aconteceu na Rua Gol Nabi, na rota do trabalho de Roshan, às 8h20. A agência de notícias disse que o cientista, que também lecionava em uma universidade local, foi vice-diretor de assuntos comerciais da Natanz e era responsável pela compra de materiais e equipamentos. Duas outras pessoas ficaram feridas e uma morreu mais tarde no hospital, segundo as autoridades iranianas.

O embaixador do Irã na ONU, Mohammad Khazaee, enviou uma carta de protesto ao secretário geral Ban Ki-moon, culpando "alguns quadrantes estrangeiros" pelo que ele chamou de "atos terroristas" que visam interromper "um programa nuclear pacífico, sob a falsa premissa de achar que a diplomacia por si só não seria suficiente para lidar com esse assunto."

A carta do embaixador também reclama de sabotagem, uma possível referência ao vírus de computador Stuxnet, que acredita-se ter sido um projeto realizado em conjunto entre Estados Unidos e Israel, que alegadamente levou à destruição de cerca de um quinto das centrífugas iranianas utilizadas para enriquecer urânio em 2010. Ele também disse que a campanha secreta incluiu um "ataque militar ao Irã", evidentemente uma referência a uma misteriosa explosão que destruiu grande parte de uma base de mísseis iranianos no dia 12 de novembro.

Essa explosão, que os especialistas iranianos dizem ter provavelmente vindo de Israel, matou o general Hassan Tehrani Moghaddam, que estava no comando do programa iraniano de mísseis. Fotografias via satélite mostram vários prédios no local caídos ou fortemente danificados.

A Agência Central de Inteligência, de acordo com oficiais atuais e antigos, tem repetidamente tentado sabotar o programa iraniano de enriquecimento de urânio por meio de operações secretas, incluindo a introdução de peças sabotadas na rede de abastecimento do Irã.

Além disso, acredita-se que a agência tenha encorajado alguns cientistas nucleares iranianos a desertarem, um esforço que veio à tona em 2010 quando um cientista, Shahram Amiri, que tinha vindo para os Estados Unidos, afirmou ter sido sequestrado pela CIA e voltou para o Irã. Relatos da imprensa afirmam que ele já foi preso e julgado por traição. O ex-vice-ministro da Defesa, Ali-Reza Asgari, desapareceu ao visitar a Turquia em 2006 e acredita-se que tenha desertado, possivelmente para os Estados Unidos

William C. Banks, um especialista em Lei de Segurança Nacional na Universidade de Syracuse, disse acreditar que, para os Estados Unidos, mesmo o ato de fornecer informações específicas a Israel para ajudar a matar um cientista iraniano violaria uma ordem executiva de longa data que proíbe execuções de inimigos. A justificativa legal para ataques realizados com aviões não tripulados contra suspeitos de terrorismo – que os Estados Unidos estão em guerra com a Al-Qaeda e seus aliados - não se aplicaria, disse ele.

"De acordo com a lei internacional, a cumplicidade seria o mesmo que puxar o gatilho", disse Banks. "Ficaríamos em uma posição moralmente complicada, e o mundo inteiro está assistindo, especialmente a China e a Rússia."

Gary Sick, especialista em assuntos iranianos na Universidade de Columbia, disse acreditar que a campanha secreta, aliada à sanções, não seria capaz de persuadir o Irã a abandonar seu programa nuclear.

"É importante fazer uma reflexão e perguntar como os Estados Unidos agiriam se o orçamento estivesse sendo cortado, os cientistas fossem executados e estivéssemos sob um ataque cibernético," disse Sick. "Será que nos entregaríamos ou dobraríamos nosso poder de ataque? Acho que nós iríamos retaliar e o Irã também o fará. "

Por Scott Shane

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