Os principais pré-candidatos republicanos atraíram aplausos entusiasmados de lideranças judaicas republicanas em Washington, na quarta-feira, depois de acusarem o presidente Barack Obama de ficar devendo em seu apoio a Israel, além de ser leniente demais com os adversários deste. Mas resta a ver até onde esses argumentos os vão levar, especialmente em vista de seu viés de direita em outras questões tradicionalmente importantes para os judeus americanos.
Os discursos feitos no Fórum de Candidatos Presidenciais da Coalizão Judaica Republicana sugeriram que os candidatos seguirão uma abordagem substancialmente diferente a elementos críticos da política do processo de paz no Oriente Médio, comparados a administrações democratas e republicanas anteriores. Alguns indicaram que colocarão menos pressão sobre Israel em questões como os contornos de um Estado palestino independente.
Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara, criticou uma linha de discussão pública --que atribuiu à administração Obama-- que, segundo ele, afirma que "é sempre culpa de Israel, não importa quão ruim seja o outro lado". Isso "precisa parar", ele acrescentou, arrancando aplausos prolongados.
O ex-governador do Massachusetts Mitt Romney falou que a Casa Branca "humilhou" Israel ao pressionar pela estratégia de apaziguamento, uma alusão pontual --feita diante de um público judaico-- que remeteu à diplomacia que o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain conduziu com Hitler na década de 1930.
Romney reafirmou sua promessa de que Israel será o primeiro país que visitará como presidente e acrescentou que "sob meu governo os aiatolás iranianos não serão autorizados a obter armas nucleares", embora não tenha detalhado o que fará para impedir isso.
Newt Gingrich traçou um paralelo entre a visão atual dos EUA do que será "uma luta prolongada contra o islã radical" e a posição das relações dos EUA com a União Soviética logo após a Segunda Guerra Mundial, na véspera da Guerra Fria que iria dominar a política externa americana por mais de quatro décadas.
O país "está mais ou menos onde estávamos em 1946", disse Gingrich.
O governador do Texas Rick Perry, que nos últimos meses caiu de pré-candidato mais bem cotado para porcentagens inferiores a 10% nas sondagens, acrescentou que "tenha você ou não idade suficiente para se lembrar da década de 1940, você conhece o significado desse número" --6 milhões, o que, disse ele, é o número de judeus que hoje vivem em Israel e o número de judeus massacrados no Holocausto.
Os republicanos procuram soar sérios sobre Israel para agradar aos cristãos evangélicos que compõem grande parte dos eleitores das primárias republicanas na Carolina do Sul e dos participantes nos caucus do Iowa. Eles sabem também que, mais para frente, os eleitores judeus são cruciais para a vitória em Estados indecisos em uma eleição geral, como Pensilvânia e Flórida.
Mas, do mesmo modo como os candidatos declararam posições firmes sobre Israel, eles também se deslocaram para a direita em outras questões, mudança essa que, segundo democratas, coloca em dúvida sua capacidade de atrair uma parcela grande dos eleitores judeus.
"Eles não podem falar sobre o meio ambiente. Não podem falar sobre a separação entre igreja e Estado. E a comunidade judaica americana é o grupo mais favorável ao direito ao aborto que existe na América hoje, então eles não podem falar sobre isso", disse David Harris, executivo-chefe do Conselho Democrata Nacional Judaico. "Portanto, eles têm que disseminar desinformação", disse ele, sobre "o histórico estelar pró-Israel do presidente Obama".
Aliados da administração Obama, que goza de apoio público forte por sua atuação em relação ao terrorismo e à segurança nacional, também citam altos níveis de assistência militar e apoio aos israelenses nas Nações Unidas, contra as iniciativas palestinas para conquistar o reconhecimento como Estado, além de outras vitórias de segurança nacional como a morte de Osama bin Laden e a dizimação da Al Qaeda na fronteira paquistanesa, por meio de ataques de aviões não tripulados.
Romney usou seu discurso para criticar Obama em outras frentes, dizendo que Obama está fomentando uma sociedade assistencialista.
"A prosperidade americana depende totalmente de termos uma sociedade baseada nas oportunidades. Acho que o presidente Obama não compreende isso", disse Romney à multidão. "Acho que ele não compreende por que nossa economia é a mais bem-sucedida do mundo. Acho que ele não compreende a América."
O discurso de Romney, que também focou a importância de manter Israel como aliado forte, serviu de certo modo para rebater um discurso que Obama proferiu no Kansas na terça-feira, em que o presidente avisou que a política econômica "trickle-down" (teoria segundo a qual incentivos fiscais ou outros benefícios econômicos dados aos mais ricos acabarão chegando à economia como um todo, logo, beneficiarão também os pobres) não funciona.
"Uma sociedade de oportunidades, baseada no mérito, é uma sociedade que reúne e crie uma base de cidadãos formada por pioneiros: pessoas que inventam, que constroem, que criam", disse Romney. "E, quando essas pessoas fazem o esforço e assumem os riscos inerentes à invenção e criação de coisas, elas empregam e beneficiam o resto de nós, gerando prosperidade para todos nós. As recompensas que elas ganham não empobrecem o resto de nós, elas nos enriquecem."
A visão dele é contrária ao que Obama tinha afirmado um dia antes: que, embora a economia "trickle-down" agrade "ao individualismo acirrado do país e a nosso ceticismo saudável em relação à intervenção governamental excessiva", ela não é uma política econômica eficaz.
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN