O grupo islâmico palestino Hamas, que controla a faixa de Gaza, sairá fortalecido de um possível acordo de reconciliação com o laico Fatah, que lhe possibilitará a conquista de uma parcela significativa do poder político também na Cisjordânia, nas eleições previstas para maio de 2012, segundo analistas.
Os líderes do Fatah, Mahmoud Abbas, e do Hamas, Haled Mashal, estão reunidos no Cairo para tentar superar as diferenças que impediram a concretização do acordo firmado em abril deste ano para a formação de um governo conjunto.
A reunião ocorre após o fracasso do pedido à ONU de reconhecimento do Estado Palestino, que enfraqueceu o Fatah, e a troca de centenas de prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit, que fortaleceu o Hamas.
Depois da reconciliação com o Fatah, a posição do Hamas poderá se consolidar ainda mais.
Para o analista israelense Akiva Eldar, "Netanyahu puniu Abbas fortalecendo o Hamas".
Em artigo no jornal "Ha'aretz" Eldar afirmou que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, decidiu concluir o acordo de troca de prisioneiros com o Hamas, em outubro, como uma maneira de "castigar" o presidente palestino por sua iniciativa de pedir, em setembro, o reconhecimento da ONU ao Estado Palestino.
"Como punir lideres políticos? Fortalecendo seus rivais.", afirma Eldar.
DINHEIRO
A Autoridade Palestina também está enfraquecida economicamente, depois que o governo israelense suspendeu o repasse de taxas de importação, em represália à admissão do Estado Palestino pela Unesco há três semanas.
As taxas mensais, no valor de US$ 100 milhões (cerca de R$ 186 milhões), que representam cerca de um terço do orçamento da Autoridade Palestina, são recolhidas por Israel que, segundo os acordos de Oslo, deve repassá-las ao governo palestino.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, ameaçou derrubar o governo de Netanyahu se o gabinete resolver retomar a transferência das verbas para os palestinos.
Lieberman também declarou que "após o acordo com o Hamas, a Autoridade Palestina não receberá nenhum shekel (moeda israelense)".
"Israel não transferirá verbas para quem quer destruí-lo e se Abu Mazen (apelido do presidente Abbas) for parceiro do Hamas, não pode ser um parceiro para a paz", afirmou o ministro.
O deputado do Fatah, Fayez Saqqa, disse à BBC Brasil que "Israel fez tudo para enfraquecer o Fatah".
"Parece que o governo de Israel quer levar os palestinos ao desespero", afirmou Saqqa em referência à suspensão do repasse das taxas, que dificulta o pagamento dos salários dos funcionários da Autoridade Palestina, inclusive dos integrantes das forças de segurança.
SUCESSÃO
O presidente Abbas já anunciou que não pretende se candidatar novamente ao cargo nas próximas eleições.
Entre os candidatos possíveis do Fatah não há um líder carismático o suficiente para assegurar a vitória nas eleições presidenciais.
Nessas circunstâncias, crescem as chances do Hamas e alguns analistas não descartam a possibilidade de que o próximo presidente palestino seja identificado com o grupo.
No entanto, os efeitos da chamada Primavera Árabe causam uma incerteza geral em todo o Oriente Médio.
O editor-chefe da agência de noticias palestina Maan, Nasser Laham, disse à BBC Brasil que "atualmente é impossível fazer previsões no Oriente Médio".
"Toda a região está em plena turbulência e ninguém é capaz de prever o que vai acontecer" disse Laham, em referência aos protestos no Egito e na Siria.
"Nas próximas eleições palestinas poderemos ter muitas surpresas. Depois da Primavera Árabe nada mais será como antes e não podemos continuar aplicando o mesmo tipo de raciocínio que aplicávamos antes".
O Fatah conta com o apoio do Egito e a liderança do Hamas está baseada na Síria. Os desdobramentos nesses países poderão ter um impacto na relação de forças entre as duas facções palestinas.