Netanyahu dá ao Hamas dianteira na liderança palestina.
O acordo de troca de prisioneiros assinado pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o Hamas deu proeminência ao grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza como liderança nacional dos palestinos, na opinião de analistas israelenses.
Depois da libertação de Shalit, o analista do Canal 10 da TV israelense, Chico Menashe, afirmou que o acordo entre Israel e o Hamas significa "pena de morte para Abu Mazen (apelido do presidente palestino Mahmoud Abbas, que é do laico Fatah)" e a "coroação" do Hamas, que é rival do Fatah.
Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, centenas de milhares de palestinos comemoraram a libertação de 477 prisioneiros, soltos na terça-feira. Entre as principais palavras de ordem gritadas pela multidão estava o slogan "queremos mais Shalit", exortando militantes palestinos a capturarem mais soldados israelenses para conseguir a libertação de mais prisioneiros palestinos detidos em cadeias de Israel.
Cisjordânia
De acordo com o jornal Haaretz, "o Hamas levantou a cabeça na Cisjordânia (controlada pelo Fatah), e fez isso com a ajuda de Israel e o acordo que lhe lançou uma boia de salvação". "A organização, cuja infraestrutura civil e militar tinha praticamente sumido da Cisjordânia nos últimos anos, conseguiu marcar um sucesso significativo".
Apenas 10% dos 477 libertados nesta terça são militantes do Fatah, a grande maioria é do Hamas. Um dos principais líderes do Fatah, Marwan Bargouti, considerado "o Nelson Mandela" palestino, não constava da lista dos libertados.
Bargouti, 52 anos, líder do Fatah na Cisjordânia, que é visto como o possível sucessor de Mahmoud Abbas na liderança do partido e da Autoridade Palestina, foi preso por Israel em 2002 e condenado a cinco penas de prisão perpétua, por acusação de planejar atentados que mataram civis israelenses.
De acordo com várias pesquisas de opinião realizadas nos territórios palestinos, Bargouti - que recusou-se a colaborar com o julgamento e afirmou ser um líder político e não militar - seria o único líder palestino capaz de obter um amplo apoio de todos os setores da sociedade palestina e vencer o Hamas nas próximas eleições.
Fadwa Bargouti, mulher de Marwan, protestou contra o fato de seu marido não constar da lista dos libertados. "Eles (Hamas) querem afastá-lo da arena política", disse.
ONU
A lista dos prisioneiros que foram soltos inclui palestinos da Cisjordânia, da Faixa de Gaza, de Jerusalém Oriental e até de dentro de Israel - seis prisioneiros árabes de cidadania israelense também foram libertados.
A inclusão de prisioneiros de todos os setores confere ao Hamas uma oportunidade de se apresentar como líder de todos os palestinos, assim desafiando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que firmou acordos de paz com Israel, e que é reconhecida internacionalmente como representante dos palestinos.
O acordo de troca de prisioneiros firmado entre Israel e o Hamas ocorre menos de um mês depois que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, apresentou um pedido à ONU para que reconheça o Estado Palestino nas fronteiras anteriores à da guerra de 1967.
Para líderes do Fatah, o momento escolhido por Israel e o Hamas para firmar o acordo tem relação com a ampla legitimidade internacional que Abbas obteve apresentando o pedido na ONU.
Mais de 80% dos palestinos apoiaram a atitude de Abbas, que foi criticada tanto pelo Hamas como por Israel. O Hamas criticou a iniciativa junto à ONU afirmando que um Estado Palestino nas fronteiras de 1967 estaria "abandonando os palestinos de 1948 (cidadãos árabes de Israel)". Já Israel declarou considerar a iniciativa de Abbas "unilateral".