Num claro desafio ao pedido de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, o governo israelense aprovou nesta terça-feira a construção de 1.100 novas casas em assentamentos em Jerusalém Oriental. A decisão, que contraria a condição palestina para retomar as conversas de paz, foi duramente condenada pelos EUA, União Europeia e pelas Nações Unidas.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, condenou a medida e disse que a decisão israelense é contraproducente para que as negociações --paralisadas há quase um ano-- sejam retomadas.
"(...) Pedimos que os dois lados evitassem qualquer ação que comprometesse a relação de confiança, incluindo, e talvez com mais ênfase, em Jerusalém, qualquer ação que pudesse ser vista como provocativa por ambos os lados", acrescentou.
Seth Wenig/Associated Press | ||
Decisão de Netanyahu (esq.) desafia uma das principais condições de Abbas para retomada das negociações |
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, deu a entender nesta terça-feira que não tinha a intenção de congelar novamente a colonização na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao declarar ao jornal "Jerusalem Post" tratar-se de um pretexto usado pelos palestinos para impedir a retomada das negociações.
Mais cedo, Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, já havia dito que o país estava "profundamente decepcionado" por conta do anúncio israelense quanto às novas casas em Jerusalém Oriental, numa região ocupada por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
De acordo com comunicado de Israel, o público tem 60 dias para apresentar objeções ao plano. O comitê de urbanização, ligado ao Ministério do Interior, examinará as eventuais objeções antes de anunciar uma licitação para a construção das casas.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também criticou os planos do governo israelense e pediu às autoridades do país que desistam da ideia. "Pedimos às duas partes que evitem medidas provocativas e, portanto, lamento enormemente que hoje se tenha decidido continuar com os assentamentos", afirmou.
Segundo ela, o plano deveria ser cancelado porque o aumento dos assentados "ameaça a viabilidade da solução de dois Estados".
ONU
O enviado da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Oriente Médio, Robert Serry, se uniu às vozes dos americanos e europeus contra a decisão e considerou a decisão "muito preocupante", além de ignorar, segundo ele, o pedido de que se evitem medidas provocativas. "Isso transmite um sinal errado em um momento delicado", disse.
Menahem Kahana/France Presse | ||
Imagem mostra obras no assentamento de Gilo, em Jerusalém Oriental, onde Israel construirá mais 1.100 casas |
Para Serry, as novas construções vão contra regras do direito internacional e minam as possibilidades de reavivar as negociações por um acordo de dois Estados e pelo fim do conflito na região.
A decisão de Israel vem depois de uma declaração do Quarteto, formado por Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU, que ajudam no diálogo, que pedia aos israelenses e palestinos que retomem as negociações e alcancem um acordo de paz em 2012, criando um Estado palestino no mesmo ano.
ESTADO PALESTINO
O anúncio das novas casas em assentamentos chega um dia após o Conselho de Segurança da ONU ter começado a discutir o pedido palestino de tornar-se Estado pleno das Nações Unidas, feito na última sexta-feira por Abbas em Nova York.
O pedido precisa do apoio de nove dos 15 membros do Conselho para ser aceito e não pode ser vetado por nenhum membro permanente do órgão. Os Estados Unidos, porém, já afirmaram que vão vetar a tentativa.
Diplomatas afirmam que pode levar semanas até que a requisição seja votada. O libanês Nawaf Salam, presidente do Conselho neste mês, disse que já circulou a carta de Abbas entre os 15 membros.
Abbas quer que o Conselho aceite a Palestina com as fronteiras de antes de 1967. "O Estado que queremos será caracterizado pelo direito, pela democracia e pela igualdade", afirmou. "Esse é o momento da verdade. Nosso povo espera ouvir a resposta do mundo. Ele deixará que a ocupação continue em nossa terra? Nós somos o último povo mundial sob política de ocupação".
Ao discursar pouco depois de Abbas, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou que Israel quer paz e quer negociar um acordo na região, o que, segundo ele, os palestinos se recusam a fazer.
"Estendo minha mão ao povo palestino, com quem buscamos uma paz duradoura e longa", disse. Ele ressaltou, porém, que um acordo não poderá ser alcançado por meio de resoluções das Nações Unidas, mas somente por meio das negociações, que os líderes palestinos, segundo ele, não estão dispostos a fazer.
Editoria de Arte/Folhapress | ||