A maioria das cidades israelenses decretou para hoje, segunda feira, uma greve de 24 horas em apoio às manifestações de sábado e acampamentos em curso para protestar contra o preço incomportável da habitação. A vaga de contestação tem reunido israelitas árabes e judeus e já originou uma primeira demissão no Governo de Benjamin Netayahu: o director-geral do Ministério das Finanças.
Segundo o diário israelense Haaretz, a greve dos municípios envolve quase todo o poder local, significando em termos práticos que hoje não haverá limpeza urbana, nem recolha de lixo, nem atendimento ao público. As manifestações de anteontem, sábado, tinham reunido cerca de 150.000 pessoas numa dezena de cidades israelitas, para protestar contra o aumento galopante dos alugueres de casas para habitação.
A crise deu lugar à demissão do director-geral do Ministério das Finanças, Haim Shani, que criticava o primeiro ministro Netanyahu e o ministro das Finanças, Yuval Steinitz, pela manifesta incapacidade, ou ausência de vontade política para tomar as medidas necessárias.
Netanyahu anunciou que ia criar uma equipa de ministros encarregados de dialogar com os manifestantes e um painel de ministros e economistas para apresentarem propostas e fazerem recomendações. Além disso, decidiu reduzir o imposto sobre o gás durante um mês e duplicar o subsídio de calefacção para os idosos que vivam em regiões consideradas frias.
Apesar das concessões e dos recuos, a posição de Netanyahu encontra-se comprometida. O primeiro ministro que, em aliança com a extrema-direita, tem resistido às suaves admoestações de Obama ou aos desesperados protestos dos palestinianos, é, desde a manifestação israelita de anteontem, rotulado como um cadáver adiado (tradução livre para o calão político lame duck).
Assim o rotula no Haaretz um dos mais influentes opinion makers israelitas, Gideon Levy, acrescentando: "Ontem (sábado) o 17º primeiro ministro de Israel recebeu a sua guia de marcha. Quando dezenas de milhares de israelitas pelo país fora gritaram 'Bibi, vai para casa', Bibi irá realmente para casa. Adeus, Bibi, adeus para sempre". E, seguidamente, chama às manifestações na Avenida Rothschild em Tel Aviv "o Woodstock de Rothschild".
Um outro cronista do Haaretz, Zvi Barel, vai bem mais longe e estabelece o vínculo entre o protesto israelita e as sublevações que derrubaram as ditaduras tunisina e egípcia, ou continuam a sacudir outros regimes medio-orientais: "A democracia directa também despertou na Avenida Rothschild em Tel Aviv, ou no bairro de Hatikva, em Be'er Sheva ou na estrada de Jerusalém. Ela não esper que os representantes eleitos pelo povo façam o trabalh (...) porque já ninguém acredita nas capacidades deles".
Para Zvi Barel, "o Knesset [parlamento israelita] é uma instituição vazia. É uma máquina legisladora insensível que produz leis e caprichos dos seus membros sem relação com as necessidades públicas. Tais leis nacionalistas, racistas e demagógicas gravarão os nomes dos seus autores no túmulo da democraci, mas não melhorarão a qualidade de vida do povo".