Na origem de mais um conflito entre Israel e o Líbano está desta feita uma faixa marítima onde existem importantes jazidas de gás natural com um rendimento previsível de muitos milhares de milhões de dólares.
A fronteira marítima entre o Líbano e Israel está dividida em duas zonas: há uma linha de 12 milhas da costa em cada lado do qual os respetivos países têm absoluta soberania, e existe uma zona de mais de 100 milhas designada “somente área econômica” ou “águas económicas”. Nesta segunda zona ambos os países têm direitos económicos e científicos.
Em estado de guerra, os dois países ainda não conseguiram chegar a um acordo que defina as suas fronteiras marítimas. O estado hebreu espera explorar importantes jazidas de gás natural que poderão assegurar a sua independência energética durante largos decénios, o que o levou a assinar um acordo com Chipre sobre essa matéria.
Beirute contesta a exploração desses recursos energéticos por Israel invocando “um ataque à sua soberania”.
Israel recusa em absoluto a hipótese de conversações por intermediários servindo nesse caso as Nações Unidas como ponte entre as duas nações desavindas. Em alternativa convida o Líbano para negociações sobre as suas fronteiras, não apenas as marítimas mas também as terrestres.
Telaviv reivindica acordos internacionais para justificar a sua posição
O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu declarou em pleno conselho de ministros no passado domingo que as linhas de fronteiras delineadas na proposta libanesa se encontravam significativamente a sul da demarcação reconhecida pelo estado hebraico.
“As linhas declaradas pelo Líbano contradizem tanto o acordo de fronteiras marítimas assinado por Israel e pelo Chipre, bem como o acordo assinado entre o Líbano e Chipre”, afirmou o líder do gabinete hebreu que garantiu estar o seu governo a trabalhar ativamente na clarificação das suas fronteiras baseadas na lei marítima internacional.
O governo de Israel planeia submeter às Nações Unidas um projeto de estabelecimento de linha de fronteira económica marítima com o Líbano.
Importantes jazidas de gás natural no Mediterrâneo são reivindicadas quer por Israel quer pelo Líbano. Na demarcação das fronteiras Israel acusa o Líbano de penetrar bastante para sul nas suas águas territoriais. O Líbano entregou nas Nações Unidas uma petição para que lhe seja reconhecida a sua zona económica exclusiva, no que recebeu já o importantíssimo apoio dos Estados Unidos, tradicional aliado de Israel nesta zona do globo.
Líbano adverte contra violações do direito internacional por parte de Israel
O Líbano por sua vez, já submeteu aquele organismo internacional no passado mês de agosto a sua versão de fronteira marítima económica – a sua zona económica exclusiva. Em Novembro submeteu a sua versão de fronteiras ocidentais com Chipre. Os Estados Unidos fizeram então saber que reconheciam as propostas libanesas.
Esta proposta não inclui as importantes jazidas de gás natural de Tamar e Leviathan concessionadas à Delek Energy e a companhia norte-americana Nobel Energy. O ministro das infraestruturas nacionais afirma que a proposta feita contém reservas com um valor potencial de muitos milhares de milhões de dólares.
Razão mais que suficiente para que o governo libanês não queira abrir mão dessa sua reivindicada zona económica exclusiva que lhe dará acesso a uma fonte de rendimento importante para o desenvolvimento do seu país.
O presidente da República libanesa, Michel Sleimane, ameaçou Israel contra atitudes unilaterais na demarcação das fronteiras marítimas mediterrânicas que separam as duas nações.
“O presidente Sleimane avisa Israel contra qualquer decisão unilateral que o estado hebreu poderia tomar na demarcação de fronteiras marítimas e que constituiriam uma violação do direito internacional como aliás, o estado hebreu está habituado”, lê-se num comunicado emitido pela presidência da República.
O novo governo libanês vai analisar a questão na sua primeira reunião depois de na passada semana ter conseguido no parlamento local a confiança da câmara.
O certo é que pela voz do ministro libanês da Energia Gebran Bassil, ficou-se já a saber que o Líbano não renunciará aos seus direitos marítimos.
Isarel acusa o Irã e o Hezbollah de estarem por detrás da posição libanesa.
Israel contra-ataca, acusando o Irão e o Hezbollah de estarem por detrás da petição libanesa entregue nas Nações Unidas visando criar um novo foco de instabilidade entre Israel e o Líbano.
“Assinámos um acordo com o Chipre que tem a concordância do Líbano”, afirmou o vice primeiro-ministro e ministro dos Assuntos Estratégicos israelita Moshe Ya´alon”, acrescentando que “quando anunciámos o nosso acordo sobre o gás. Os iranianos e o Hezbollah decidiram que seria uma boa desculpa para implementar um conflito entre nós”.