Aron Heller
Associated Press
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Jerusalém - Durante sua viagem a Washington nesta semana, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou repetidamente que as fronteiras do país anteriores a junho de 1967 são “indefensáveis”. Uma retirada completa da Cisjordânia, região montanhosa estratégica em relação ao centro de Israel, certamente deixaria o país mais vulnerável a ataques ou invasões. Mas alguns especialistas dizem que mísseis de longo alcance, armas de destruição em massa e guerra cibernética mostram que os riscos no mundo moderno estão em outro lugar - especialmente se a Palestina se desmilitarizar no futuro.
Charles Dharapak/AP/AE
Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu recusou proposta das fronteiras pré-1967, apresentada pelo presidente Obama
A questão das fronteiras agora está no cerne das últimas tensões nos esforços de paz no Oriente Médio. Na busca por desfazer um impasse de oito meses, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama propôs na semana passada que Israel se comprometa a estabelecer um Estado Palestino com base em suas fronteiras antes da guerra de 5 a 10 de junho de 1967, quando os israelenses tomaram a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza. Os palestinos reivindicam as três áreas para seu Estado. Israel retirou-se totalmente de Gaza em 2005. Mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a retirada das outras áreas, mesmo como parte de um acordo de paz, prejudicaria a segurança do seu país em alguma escala.Uma volta às fronteiras de 1967 deixaria Israel com apenas 15 quilômetros de território em seu ponto mais estreito, Jerusalém cercada por terras palestinas em três lados e o principal aeroporto do país a poucos quilômetros da fronteira. Se um conflito tiver início, as maiores cidades de Israel estariam vulneráveis a disparos de foguetes e outros ataques.
Entretanto, especialistas ressaltam que Israel começou a guerra de 1967 - a vitória militar mais decisiva de sua história - partindo dessas mesmas fronteiras. Hoje, a superioridade militar esmagadora do país o deixa em uma posição vantajosa para se defender de qualquer ameaça externa.
“A geografia tem um papel limitado na guerra. O que você realmente não deseja é que as pessoas o odeiem no outro lado”, afirmou Martin Van Creveld, um historiador militar da Universidade Hebraica, em Jerusalém. Ele disse que a insistência de Netanyahu para que Israel mantenha o controle do vale do Jordão, uma região estratégica na fronteira ocidental entre Cisjordânia e Jordânia, seria mais importante para a segurança do país, mas não é “absolutamente necessária”.
Até mesmo Obama não espera uma volta às fronteiras como eram exatamente em 1967. Em alguns discursos, ele disse que um tratado de paz deveria ser “baseado nas fronteiras de 1967 com trocas acordadas mutuamente”.
Os palestinos aceitaram essa posição. Mas eles visam apenas a pequenas modificações das fronteiras antigas, e esperam em troca uma quantidade igual de território dentro do que agora é Israel. Netanyahu sinalizou que isso seria inaceitável. No entanto, dois premiês israelenses anteriores - Ehud Barak and Ehud Olmert - ofereceram tratados de paz aos palestinos que incluiriam uma retirada próxima do que eram as fronteiras de 1967. Um terceiro, Ariel Sharon, considerou essas fronteiras “ponto de referência” segundo seu assessor Dov Weisglass.
O legislador israelense Isaac Ben-Israel, ex-general da Força Aérea, disse que a questão envolve muito menos considerações militares e mais política e relações entre vizinhos. Ele lembrou que Holanda e Bélgica tem “fronteiras indefensáveis” e que no passado estiveram suscetíveis à invasão. “Mas não significa que isso tenha deixado de ser questão agora porque eles esses países não têm inimigo externo”, disse.
Ele afirmou que o ponto de vista do primeiro-ministro sobre as fronteiras carrega uma perspectiva pessimista de que a paz necessariamente não vai significar o cessar de hostilidades.
Netanyahu ganha apoio de israelenses
A opinião pública parece concordar com Netanyahu. Segundo uma pesquisa publicada no dia 25 de maio, 61% dos israelenses se opõem à fórmula das fronteiras de 1967 com trocas de territórios como base para um acordo com os palestinos, enquanto apenas 27% são a favor. A pesquisa do Instituto Geocartografia entrevistou 500 judeus israelenses e tem uma margem de erro de 4 pontos porcentuais.
Giora Eiland, outro general aposentado, disse que os militares de Israel nunca assumiram que a paz traria a tranquilidade e que sob essas circunstâncias o controle de terras é importante.
Enquanto mísseis de longo alcance já conseguiriam atingir todo o país, ele disse que uma retirada da Cisjordânia colocaria o coração de Israel - Jerusalém, o aeroporto e a região de Tel Aviv - acessível a foguetes de curto alcance e morteiros iguais aos que tornaram sofrida a vida dos israelenses vivendo próximo a Gaza.
Ele acrescentou que um estado desmilitarizado, que os palestinos dizem aceitar, impediria a ameaça de tanques, artilharia e aviões de combate, mas não seria capaz de evitar o contrabando de armas e mísseis anti-tanque. Militantes do Hamas levaram essas armas a Gaza e usaram contra alvos israelenses. “É impossível inspecionar esses tipos de armas e não há maneira efetiva de pará-las”, afirmou Eiland, ex-conselheiro de segurança nacional de Israel. Ele disse que o país ficaria especialmente vulnerável uma vez que se espera que a maioria das trocas de terras seria empregada para anexar blocos de assentamentos existentes em vez de garantir pontos estratégicos importantes, como áreas fora de Jerusalém ou perto do aeroporto Ben-Gurion.
“O ponto de partida é que essas fronteiras são muito desconfortáveis para nós”, disse. Eiland, que saiu do cargo de conselheiro de segurança em 2006, disse que nas discussões internas naquela época, membros do governo israelense falaram em 12% da Cisjordânia como o mínimo que Israel deveria manter para garantir suas necessidades mais básicas de segurança.
Durante as negociações de paz de 2008, Olmert propôs manter cerca de 6%, enquanto os palestinos sugeriram dar a Israel apenas 1,9%.
Van Creveld, especialista militar, argumentou que alguns dos enclaves de assentamentos que Israel deseja manter já tornam as fronteiras ainda mais indefensáveis. “A Cisjordânia pareceria um queijo suíço e é impossível defender um queijo suíço”, disse Creveld. “A situação das fronteiras como eram antes de 1967 mostram que Israel pode perfeitamente se defender”.