Vaiakel
No início da parashá desta semana, Moisés reuniu (em hebraico, Vaiakel) o povo para transmitir-lhe as leis do Shabat. As proibições de realizar trabalho e acender fogo no sábado foram ensinadas. Em seguida, foram descritas as oferendas que o povo deveria trazer para o Santuário.
De fato, as pessoas começaram a trazer seus donativos para o Tabernáculo. Para a surpresa de quem lê a Torá, trouxeram mais do que o necessário. Moisés precisou pedir para o povo parar de fazer contribuições porque aquilo que já tinham dado não só era suficiente, como também sobrariam materiais.
Betsalel é apresentado ao povo como aquele que Deus elegeu e presenteou com ciência, inteligência e saber para a construção do Santuário. Porém, Betsalel não poderia realizar sozinho toda a obra, por isto Deus também o abençoou com a possibilidade de ensinar.
Sabemos que alguém pode simplesmente aprender uma lição ou, em um nível bem mais profundo, tornar-se capaz de passá-la a diante. Quando nos ensinam algo, normalmente conseguimos compreender, mas nem sempre podemos ensinar com propriedade aquilo que aprendemos.
Para ensinar, não bastar entender determinado assunto, é necessário ir além. Um bom professor precisa conhecer o tema com profundidade. Precisa estar preparado para as questões que lhe serão feitas.
Todos os dias, durante a oração da manhã (shacharit) dizemos a seguinte frase: ten belibenu vina lehavin...lilmod ulelamed. Pedimos a Deus que nos conceda a possibilidade de entender, estudar e também ensinar. Porque sabemos que aquele que é capaz de ensinar não apenas aprendeu, mas também interiorizou a lição.
Todo aquele que, de alguma forma, contribuiu para a construção do Mishkan é chamado pela Torá de chacham lév, sábio de coração. De acordo com alguns pesquisadores, antigamente acreditava-se que o coração era o órgão responsável pela inteligência. Por este motivo, quando os Faraós morriam, tinham o coração mumificado separadamente para que a inteligência do governante fosse preservada para sempre.
No entanto, eu gostaria de propor outra leitura. Existem certas atitudes que, se pensamos com a cabeça, não as tomamos. Alguém que decide doar do seu tempo e dos seus bens para o Santuário não pode basear sua decisão no raciocínio. Se seguirmos a lógica, facilmente nos convenceremos de que há coisas mais “inteligentes” a se fazer com nossos recursos.
Acredito que a Torá está tentando nos trazer uma importante lição. Precisamos aprender a deixar nosso racionalismo exacerbado de lado quando estamos cuidando de assuntos do espírito. Que possamos também nós ser incluídos na categoria de chacham lev.