O negociador-chefe palestino Saeb Erekat disse que teme ser "executado" devido à decisão da rede de TV árabe Al Jazeera de divulgar centenas de documentos secretos que dizem respeito às negociações de paz com Israel.
Os documentos vazados sugerem que os líderes palestinos estariam dispostos a fazer grandes concessões aos israelenses, incluindo permitir que Israel anexasse praticamente todos os assentamentos judaicos construídos em Jerusalém Oriental em troca de terras em outras regiões.
Erekat é citado como o mensageiro das propostas. Depois de inicialmente negar a veracidade dos documentos, ele admitiu, em entrevista à BBC, que ao menos parte deles é verdadeira, mas que eles não são "oficiais".
"Hoje, o que está sendo feito contra nós (a divulgação dos documentos pela Al-Jazeera) passa a mensagem de que nós somos culpados, nós devemos ser executados", disse Erekat em Ramallah.
O negociador disse que vai investigar a origem dos vazamentos e, caso fique provado que os documentos vazaram de seu escritório, assumirá "a responsabilidade".
Questionado se estava fazendo, em privado, concessões que iriam além do que o povo palestino estava preparado para ceder, Erekat disse que está mantendo a população a par do andamento das negociações.
REVELAÇÕES
A Autoridade Palestina foi duramente atingida pela revelação dos documentos, que mostram que, em reuniões privadas com negociadores israelenses, os líderes palestinos supostamente ofereceram a Israel, por exemplo, a anexação de assentamentos em Jerusalém Oriental (reivindicada pelos palestinos como a capital de seu futuro Estado) e limites ao direito de retorno dos refugiados palestinos aos territórios ocupados.
Erekat é citado em vários dos 1,6 mil documentos secretos publicados pela Al-Jazeera e pelo jornal britânico The Guardian.
Os documentos abrangem dez anos de negociações entre israelenses e palestinos intermediadas pelos Estados Unidos.
Na última terça-feira, uma penúltima leva de papéis divulgados sugeria que a Autoridade Palestina conspirou com forças de segurança de Israel para matar o militante palestino Hassan Al-Madhoun, morto posteriormente por um míssil israelense em Gaza.
Os documentos também indicam um envolvimento do serviço de inteligência britânico, o MI6, em tentativas de enfraquecer o grupo militante Hamas, antes que esse tomasse o controle de Gaza, quatro anos atrás.
Apesar das revelações, Erekat foi ovacionado por apoiadores na Cisjordânia, na última terça-feira.
Ainda assim, a avaliação de analistas é de que o vazamento deve enfraquecer a Autoridade Palestina e seu líder, Mahmoud Abbas.
Segundo o correspondente da BBC na Cisjordânia Jon Donnison, permanece no ar a sensação de que há um descompasso entre a liderança palestina e seu povo, já que os líderes parecem dispostos a fazer concessões em privado que não ousariam fazer em público.