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Para ver é preciso querer - Parashá Vaerá 5771 -31 de dezembro de 2010

“Certa vez o Rav Yechezkel Levenstein estava em um taxi em Israel e começou uma conversa com o taxista. Em certo momento a conversa caiu no assunto de milagres que D’us faz para nos despertar. Então os olhos do taxista brilharam e ele começou a contar para o rabino uma história fantástica que havia vivenciado muitos anos atrás.

O taxista contou que ele e alguns amigos, logo que terminaram o exército, decidiram fazer uma viagem para conhecer o mundo. Um dos passeios escolhidos foi um safári nas selvas africanas. Uma noite, quando estavam todos dormindo em uma cabana no meio da floresta, um dos seus amigos, um rapaz chamado Yigal, começou a gritar. Todos acordaram assustados e viram que havia uma jibóia enrolada no corpo de Yigal. A cobra apertava tão forte que ele não podia respirar, e apesar dos esforços, ninguém conseguiu arrancar a cobra. Ninguém sabia o que fazer, pois o rapaz começou a ficar azul, completamente sem ar, chegando perto de morrer.

Finalmente um dos amigos gritou: “Yigal, se você vai morrer, diga pelo menos o Shemá Israel!”. Yigal, com o pouco que havia lhe restado de forças, começou a recitar o Shemá Israel em voz alta. Mal havia terminado o primeiro versículo quando, de repente e sem nenhum motivo lógico, a cobra o soltou e rastejou para longe.

O taxista então contou que, por causa deste incidente, Yigal mudou a sua forma de ver a vida. Ele reconheceu que D’us havia feito um grande milagre para salvá-lo. Após algum tempo tornou-se um Baal Teshuvá (começou a cumprir as Mitzvót), casou-se com uma boa moça e tiveram muitos filhos Tzadikim (Justos).

O Rav Yechezkel Levenstein ficou pasmo com aquela história fantástica de Hashgachá Pratid (Supervisão Particular de D’us). Após alguns momentos de reflexão, de repente ele virou-se para o motorista e perguntou:

- E você, não mudou nada na sua vida após ter visto com seus próprios olhos tudo isto acontecendo?

- É claro que não - respondeu o taxista - esta história aconteceu com meu amigo, não comigo!”

Muitas vezes vemos no mundo acontecerem eventos fantásticos e milagrosos. Será que aproveitamos estes momentos para uma introspecção, ou seguimos nossas vidas como se nada tivesse acontecido? (História real)

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Na Parashá desta semana, Vaerá, D’us ordenou a Moshé que fosse ao Faraó pedir-lhe que libertasse o povo judeu, mas o Faraó recusou-se. D’us então começou Sua vingança contra os egípcios, castigando-os por todas as maldades que haviam cometido. O Egito foi completamente devastado por 10 terríveis pragas, e somente depois disso os judeus foram libertados.

Durante as pragas, o comportamento do Faraó seguiu um padrão interessante. Quando D’us mandava sofrimentos para o Faraó, ele se arrependia dos seus erros e decidia libertar os judeus. Mas logo que os sofrimentos passavam e a situação melhorava, ele voltava às suas maldades com força total. Será que ele não entendia que se não endireitasse seus caminhos os sofrimentos voltariam outra vez? O Faraó era um tonto?

Outro detalhe interessante ocorreu após a sétima praga, granizo, que matou todos os animais dos egípcios que permaneceram no campo. A situação no Egito tornou-se caótica, nos campos egípcios havia dezenas ou centenas de animais mortos. O Faraó então mandou emissários para saber qual era a situação em Goshen, onde viviam os judeus, como está escrito: “... e morreu todo o gado do Egito, mas do gado dos filhos de Israel não morreu nenhum. E enviou o Faraó, e eis que não havia morrido do gado de Israel nem mesmo um” (Shemot 9:6,7). Para o Faraó isto foi um grande choque, pois ele sempre tentava se apoiar na idéia de que as pragas eram fenômenos naturais que Moshé, como um bom observador da natureza, sabia com antecedência quando cada um deles aconteceria. Porém, quando o Faraó viu os animais egípcios todos mortos e descobriu que nem mesmo um animal dos judeus havia morrido, a teoria caiu. O que esperaríamos do Faraó após presenciar um milagre tão grande como este? Que ele enxergasse a mão de D’us em tudo o que estava acontecendo e deixasse o povo judeu sair. Mas a Torá descreve que nada mudou na cabeça do Faraó, ele continuou com seus maus atos, causando assim mais e mais sofrimentos para ele e para todo o povo egípcio, como está escrito em seguida: “E o Faraó endureceu seu coração e não deixou o povo sair” (Shemot 9:7). Por que o Faraó não conseguiu enxergar o milagre e mudar sua atitude?

A Torá descreve o Faraó como uma pessoa muito sábia. Por exemplo, ele conseguiu, com muita lábia e astúcia, enganar e escravizar os judeus. Mas por outro lado, alguns atos demonstram que o Faraó se comportava como um grande tolo. Não é contraditório? Não, o Faraó era muito sábio, mas em várias ocasiões deixava seu coração o enganar.

Enxergar as tolices do Faraó é fácil. O difícil é saber que caímos no mesmo erro. Segundo nossos sábios, o Faraó representa o nosso Yetzer Hará (má inclinação). Temos um Faraó dentro de cada um de nós, e deixamos milagres passarem e não prestamos atenção.

Existem dois motivos pelos quais não despertamos com os milagres que vemos. O primeiro motivo é a alienação. Vivemos a vida sem prestar atenção no que vemos e no que escutamos. Vemos milagres e tragédias como se fossem parte de um filme na televisão, e nada consegue nos tocar. Se refletíssemos, se fizéssemos apenas um pouco de introspecção, enxergaríamos os grandes atos de D’us.

O segundo motivo é a dificuldade de mudar. Vivemos como se nunca cometêssemos erros, pois aos nossos olhos estamos sempre certos. Portanto, quando nos confrontamos com algo que vai contra o que acreditamos, mesmo que seja uma prova contundente, mesmo que seja um milagre, continuamos lutando para não aceitar. Assim é possível uma pessoa viver uma mentira por toda a vida sem se incomodar.

Foi isto o que aconteceu com o Faraó. As provas de que era D’us quem estava fazendo os milagres se tornaram irrefutáveis. Mas e a vergonha de assumir o erro diante de todo o povo? E o medo de mudar suas crenças nas idolatrias? E o temor de deixar para trás uma vida de honra e prazeres sem limites? O ilógico venceu o lógico, e por isso o Faraó preferiu endurecer seu coração.

Muitas vezes nós passamos por problemas, dificuldades e sofrimentos na vida e decidimos nos conectar um pouco mais com D’us. Frequentamos um pouco mais a sinagoga, tentamos cumprir mais Mitzvót. Mas o que acontece quando a situação melhora? Desaparecemos, já não precisamos mais de D’us. A verdade é que D’us não gosta de nos enviar sofrimentos. Ensina o livro Tomer Dvora, do Rav Moshe Cordovero, que toda vez que D’us nos manda um sofrimento, Ele sofre junto conosco. Por isso, inicialmente Ele nos manda coisas boas, inclusive faz milagres, somente para nos despertar. Mas vemos os milagres, por alguns instantes passamos por momentos de claridade, mas como não paramos para refletir, em pouco tempo toda a claridade se vai e continuamos nossas vidas como se nada tivesse acontecido. E se não despertamos através das coisas boas que D’us nos manda, Ele precisa nos despertar de outras maneiras. Primeiro com sofrimentos que ocorrem longe nós. Se continuamos mesmo assim sem despertar, em algum momento os sofrimentos chegam até nós. D’us deu oportunidades para o Faraó se arrepender sem receber castigos. Ele desperdiçou todas elas.

Portanto, o problema não é que o Faraó não conseguiu ver o milagre. O Faraó não quis ver o milagre. Ele não queria aceitar que estava errado. Os sofrimentos o faziam momentaneamente baixar a cabeça, mas logo que a situação se normalizava ele voltava a agir de forma ilógica.

A palavra Egito, em hebraico, é “Mitzraim”, que vem da raiz “Metzarim”, que significa “limitações”. A saída do Egito representa a libertação espiritual, a possibilidade de vencer a nossa má-inclinação, que quer nos limitar. Nós temos um Faraó dentro de cada um de nós, mas podemos vencer esta má inclinação. Precisamos ter a coragem de assumir quando estamos errados. Precisamos vencer o comodismo e a alienação e prestar mais atenção a tudo o que ocorre à nossa volta. Somente assim poderemos estar seguros que, em nossas vidas particulares, também conseguiremos sair do Egito.

“O pior cego é aquele que não quer ver”

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
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