Judeus negros

Judeus negros

magal53
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O senhor, judeu? Como pode ser judeu? O senhor Ć© branco!

Ao chegarem em Israel, os mĆ©dicos diagnosticaram nos falashas casos fisiolĆ³gicos e de nutriĆ§Ć£o semelhantes aos encontrados nos sobreviventes dos campos de concentraĆ§Ć£o.

Chegaram magros, famintos, sem propriedades. Hoje eles sĆ£o parte integrante da sociedade israelense.

Nunca Ć© demais lembrar que Israel foi o Ćŗnico paĆ­s do mundo que retirou negros da Ɓfrica para lhes dar vida, conforto, estudo, trabalho e dignidade.

AlĆ©m da Ɓfrica, na ƍndia hĆ” duas comunidades de judeus negros. Os mais conhecidos sĆ£o os Bene Israel, de Bombaim. Sua cor Ć© escura e a lĆ­ngua cotidiana Ć© o marata. Sua vida diĆ”ria pouco difere da populaĆ§Ć£o indiana, exceto quanto Ć  religiĆ£o.

No Sul da ƍndia, em Cochin, hĆ” os judeus totalmente negros como os demais indianos do sul, cuja lĆ­ngua Ć© o malaiala, idioma falado antes das invasƵes indo-europĆ©ias. Remontam suas origens a uma da 10 tribos de Israel desaparecidas no exĆ­lio assĆ­rio, embora nĆ£o seja historicamente comprovado. Nos EUA hĆ” grupos de negros que praticam o judaĆ­smo e se chamam de "judeus etĆ­opes". Sua posiĆ§Ć£o Ć© um tanto radical em relaĆ§Ć£o aos judeus brancos. No Brasil, alĆ©m de negros, os quilombos reuniam 'bruxas', hereges, ciganos e judeus.

HĆ” registros da presenƧa permanente nas aldeias de mulatos, Ć­ndios e brancos. A perseguiĆ§Ć£o da Ć©poca a minorias Ć©tnicas, como judeus, mouros e outros, alĆ©m do combate Ć s bruxas, herĆ©ticos, ladrƵes e criminosos, explica brancos terem ido viver no quilombo de Palmares.

Zumbi foi o maior lĆ­der quilombola e sem dĆŗvida o mais enigmĆ”tico e mĆ­stico. Sob seu reinado viveu e lutou o maior quilombo da histĆ³ria; grande tambĆ©m pela sua face multiĆ©tnica, pois em suas fortificaƧƵes se refugiaram os escravos foragidos, os judeus perseguidos, os hereges e os Ć­ndios entre outros, segundo as Ćŗltimas descobertas de arqueĆ³logos e etnĆ³logos.

Por volta de 1590, os primeiros fugitivos africanos rompiam suas correntes e fugiam para se agrupar na floresta, nas matas e sertƵes do Nordeste do Brasil. Pouco numerosos, eles se organizavam em bandos de fugitivos. O nĆŗmero foi aumentando, eles se reagruparam em uma primeira comunidade, que ao longo de sua existĆŖncia chegou a contar com uma populaĆ§Ć£o de mais de trinta mil rebeldes, homens e mulheres de todas as origens. Eles constituĆ­ram o primeiro governo de um Estado livre no novo mundo. Inicialmente a populaĆ§Ć£o era de negros e poucos Ć­ndios.

"Zumbi dos Palmares abriu o quilombo nĆ£o apenas aos negros foragidos da escravidĆ£o, mas tambĆ©m aos judeus que estavam fugindo da inquisiĆ§Ć£o"

Com a chegada de numerosos judeus fugidos da inquisiĆ§Ć£o, a populaĆ§Ć£o abriu-se aos brancos e estes Ćŗltimos muito inspiraram a sua organizaĆ§Ć£o econĆ“mica e polĆ­tica a partir de entĆ£o. O quilombo era organizado como um pequeno Estado. Havia leis e normas que regulamentavam a vida dos seus habitantes, algumas atĆ© muito duras; roubo, deserĆ§Ć£o ou homicĆ­dio eram punidos com a morte.

As decisƵes eram tomadas em assemblĆ©ias, da qual participam todos os adultos, sendo aceitas, pois resultava da vontade coletiva. Zumbi tornou-se dirigente de Palmares ao questionar, em 1678, a lideranƧa de Ganga Zumba, que, seduzido por um ³acordo de paz², aceitou transferir os quilombolas para uma espĆ©cie de ³reserva², onde eles teriam que viver sob vigilĆ¢ncia.

A resistĆŖncia de Zumbi a esse engodo Ć© exemplar. Desde muito cedo, negros perceberam que, para se livrar da escravidĆ£o, nĆ£o seria preciso apenas se libertar das correntes; era necessĆ”rio, tambĆ©m, construir um novo tipo de sociedade. Palmares significava esse desafio nĆ£o sĆ³ por organizar-se como uma RepĆŗblica dentro de uma sociedade colonial, mas tambĆ©m por questionar as prĆ³prias bases do sistema.

Ɖ o que fica evidente no relato do portuguĆŖs Manuel Inojosa, em 1677: ³Entre eles tudo Ć© de todos e nada Ć© de ninguĆ©m, pois os frutos do que plantam e colhem ou fabricam nas suas tendas sĆ£o obrigados a depositar Ć s mĆ£os de um conselho, que reparte a cada um quando requer seu sustento².

Foi isso que motivou as dezenas de investidas militares contra o quilombo ­ que tambĆ©m abrigava judeus, Ć­ndios, brancos pobres e gente perseguida pelos colonizadores ­ atĆ© sua completa destruiĆ§Ć£o, pelo sanguinĆ”rio bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694.

Palmares, contudo, em vez de representar a histĆ³ria de uma derrota, Ć©, atĆ© hoje, um exemplo da importĆ¢ncia da luta. Zumbi dos Palmares abriu o quilombo para os judeus. Ele nĆ£o abriu apenas aos negros foragidos da escravidĆ£o, mas tambĆ©m aos judeus que estavam fugindo da inquisiĆ§Ć£o.

Quando homenageamos no dia 20 de novembro a ³ConsciĆŖncia Negra², Ć© preciso relembrar os horrores e a suprema vergonha do passado escravagista, da mesma forma que devemos relembrar os horrores do Holocausto dos judeus e outras minorias da II Guerra Mundial.

Escrito por Jane Bichmacher de Glasman, escritora e doutora em LĆ­ngua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica da USP

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  1. Gostei muito de saber eesa histĆ³ria, a prima de minha falecida avĆ³ era descendente de judeus e moradora em portugal, gostaria muito que minha familia no Brasil desse importĆ¢nci a isso tenho profundo respeito a raƧa eleita pois nĆ£o foi homens que a escolheu e sim D'us.Mas de cor parda pois minha mĆ£e Ć© negra e meu pai branco, mais falar no brasil que tenho sangue hebreu e ser da cor que eu sou. NinguĆ©m acredita.Na verdade o mundo tĆ” mergulhado em tanta ignorĆ¢ncia que tudo que se refere a coisas divinas Ć© perseguido, discriminado e o pior nĆ£o aceito.

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