Após o pecado do bezerro de ouro, Moshê (Moisés) rezou e, no dia dez do mês hebraico de Tishrei, D'us concedeu pleno perdão ao povo judeu.
Yom Kippur é o Dia da Expiação, sobre o qual declara a Torá: "No décimo dia do sétimo mês afligirás tua alma e não trabalharás, pois neste dia, a expiação será feita para te purificar; perante D'us serás purificado de todos teus pecados."
Esclarecendo a natureza de Yom Kippur, o Rambam escreve: "É o dia de arrependimento para todos, para o indivÃduo e para a comunidade; é o tempo do perdão para Israel. Por isso todos são obrigados a se arrepender e a confessar os erros em Yom Kipur."
A expiação obtida através de Yom Kippur é muito mais elevada que aquela conseguida através do arrependimento, pois neste dia os judeus e D'us são apenas um. O judeu une-se com D'us para revelar um vÃnculo intocável pelo pecado, sem obstáculos.
Teshuvá, o retorno do judeu ao bom caminho, não está restrito apenas a Yom Kippur. Há muitas outras épocas que são propÃcias para que isto ocorra, e na verdade, um judeu pode, e deve, ficar em estado de reflexão, alerta e arrependimento todos os dias do ano.
A obtenção do perdão
Os Rabis afirmam que a pessoa deve primeiro arrepender-se, e então obterá a expiação especial de Yom Kippur (que é infinitamente mais elevada que aquela conseguida apenas pela teshuvá).
Mas como Yom Kippur consegue isto? A expiação não é meramente a remissão da punição pelo pecado; significa também que a alma de um judeu é purificada das máculas causadas pelo pecado. Além disso, não apenas nenhuma impressão das transgressões permanece, como as transgressões são transformadas em méritos.
Que isto possa ser atingido através de teshuvá é compreensÃvel; um judeu sente genuÃno remorso pelas falhas cometidas erradicando o prazer que extraiu dos pecados.
Sua alma é então purificada. O próprio pecado deve ser visualizado como uma contribuição ao processo de teshuvá.
Uma transgressão separa a pessoa de D'us. O sentimento de ser afastado de D'us age como um lembrete para o retorno, para estabelecer um vÃnculo mais intenso com o Criador.
O que é a expiação obtida através de Yom Kippur? Se a expiação significa apenas a remissão da punição, seria compreensÃvel que "o próprio dia" pudesse abolir a punição que de outra forma seria devida pelos pecados de alguém através do ano.
Mas a expiação, como dizemos, significa também a purificação das manchas da alma. Como pode "o próprio dia," sem a força transformadora de teshuvá, atingir este ponto?
Três nÃveis no vÃnculo de um judeu com D'us
O pecado afeta o vÃnculo de um judeu com D'us, e há três diferentes nÃveis neste vÃnculo:
1 – O relacionamento estabelecido por um judeu através do cumprimento das mitsvot: a aceitação do jugo celestial por parte do judeu e sua prontidão em seguir as diretivas de D'us estabelecem um vÃnculo entre ele próprio e D'us.
2 – Uma conexão Ãntima, mais profunda que a primeira. Como este vÃnculo transcende aquele forjado pela aquiescência com a vontade de D'us, permanece válido mesmo quando alguém transgride aquela vontade e por causa disso prejudica o primeiro nÃvel do relacionamento, que a teshuvá tem o poder de purificar as manchas na alma, causadas pelo pecado – o que enfraqueceu o nÃvel inferior da conexão.
3 – O vÃnculo unindo a essência de um judeu com a Essência de D'us. Isto não é restrito a nenhum vÃnculo, e transcende toda a expressão humana. Ao contrário dos dois anteriores, este relacionamento não pode ser produzido pelo serviço do homem a D'us, mesmo o serviço de teshuvá, pois as ações do homem, não importa quão elevadas, são inerentemente limitadas. Pelo contrário, este é um vÃnculo intrÃnseco à alma judaica, que é "uma parte do D'us acima" – e neste nÃvel, o judeu e D'us são completamente um só.
Como este vÃnculo transcende todos os limites, não pode ser afetado pelas ações do homem. Assim como não pode ser produzido pelo serviço do homem a D'us, da mesma forma não pode ser prejudicado pela omissão do serviço ou através do pecado. Pecados e máculas não podem tocar este nÃvel.
A unidade entre o judeu e D'us
Em Yom Kippur, este vÃnculo entre a essência de um judeu e a Essência de D'us revela-se em cada judeu – e por isso todas as manchas em sua alma causadas pelos pecados são automaticamente removidas.
Esta é a diferença entre a expiação de Yom Kippur e aquela de qualquer outra época. Na última, o pecado causa manchas na alma, e por isso a pessoa deve trabalhar ativamente para conseguir a expiação – arrependendo-se, o que produz um relacionamento mais profundo entre o homem e D'us. A maior expiação de Yom Kipur, entretanto, vem com a revelação de um vÃnculo tão elevado que, em primeiro lugar, nenhuma mancha pode ocorrer.
Este conceito é expresso no serviço de Yom Kipur do Cohen gadol, o Sumo Sacerdote, que representava todo o judaÃsmo. Um dos momentos mais importantes daquele serviço era sua entrada no Santo dos Santos, sobre o qual a Torá diz: "Nenhum homem deve estar no Ohel Moed quando ele entra para fazer expiação." O Talmud comenta que isto se refere até mesmo aos anjos. Ninguém, homem ou anjo, poderia ficar no Santo dos Santos naquela hora, pois o serviço de Yom Kippur é a revelação da unidade essencial entre os judeus e seu Criador. Apenas o judeu e D'us estão lá – sozinhos.
Revelação da essência do judeu
Tal revelação é possÃvel não apenas no Templo Sagrado, através do Cohen Gadol, mas para todo judeu em suas preces de Yom Kippur. Este é o único dia do ano que tem cinco serviços de prece, correspondendo aos cinco nÃveis da alma.
Na última prece do serviço, Ne'ilah, o quinto e mais elevado nÃvel da alma é revelado, um nÃvel que é a quintessência da alma. "Ne'ilah" significa "trancar", indicando que naquela hora os judeus estão trancados sozinhos com D'us. A essência de um judeu é mesclada e unida à essência de D'us.
Yom Kippur, então, é um dia no qual não existem fatores externos, quando apenas a essência do judeu espalha seu brilho.
Teshuvá pode erradicar o pecado e as manchas na alma; Yom Kipur transcende inteiramente o conceito de pecado e arrependimento – e por isso traz uma expiação mais elevada que em qualquer outra época.