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Qual a diferença entre a natureza e o milagre?


Rabino Avi Shafran

O Rabino E. E. Dessler (1892-1953), um célebre pensador judeu, pede para refletirmos com relação a um estranho e confuso panorama: um mundo apático onde plantamos uma semente, porém nenhum grão ou vegetação cresce.

O pensamento continua com a aparição súbita de um homem que obtém uma semente, algo nunca visto antes neste mundo estranho, e a planta no solo. Os habitantes consideram o ato como nada mais nada menos do que enterrar uma pedra, e ficam espantadas quando, alguns dias depois, um broto atravessa o solo onde a semente tinha sido colocada, e uma planta desenvolvida surge, produzindo, algo mais surpreendente ainda, suas próprias sementes!

Segundo Rabino Dessler, não existe diferença inerente entre natureza e o que chamamos de milagre.Simplesmente usamos a palavra “natureza” para os milagres a que estamos acostumados, e “milagre” para aqueles que ainda não conhecemos. Afinal, tudo é a vontade de D´us.

Este é um pensamento poeticamente atribuído por Emerson, que escreveu: "Se as estrelas aparecessem uma noite em mil anos, como os homens iriam acreditar e estimar..."

Um pensamento, de fato, que um famoso físico chamado Paul Davies fala sutilmente no jornal The New York Times: "o conceito da lei física é teológico”.

E também é um pensamento pertinente a Chanuká.

A natureza do milagre está no coração da resposta de uma das mais famosas questões dos princípios fundamentais das leis da religião judaica, atribuída nos anos de 1500 pelo autor do Código de Lei Judaica, o Shulchan Aruch, Rabino Yosef Karo: “se o óleo descoberto no Templo Sagrado, quando os macabeus o recuperaram do Império Selêucida, era suficiente para um dia, porque então Chanuká dura oito dias?” Na verdade, este é o tempo em que as velas arderam, permitindo que os sacerdotes preparassem óleo novo e puro. Mas, se o óleo encontrado num momento daqueles oito dias foi suficiente, será que é apropriado comemorar Chanuká como um dia merecedor de milagre?

O Rabino Dovid Feinstein, da Mesivta Tifereth em Jerusalém sugere: sete dos dias de Chanuká comemoram o milagre de que, no tempo do Maccabeus, as chamas do candelabro queimavam sem óleo. O oitavo dia celebra o milagre do óleo queimar, apesar de tudo.

A sugestão repercute num tratado do Talmud (Ta 'anit, 25a), em que a filha do sábio Rabino talmúdico Chanina Ben Dosa percebe, logo antes do Shabat, que acidentalmente despejou vinagre em vez de óleo nas velas de Shabat e entra em pânico. O Rabino Chanina, um homem que compreendia e percebia a mão de D´us em tudo o que acontecia, algo que a maioria das pessoas chamaria de milagre, assegurou a sua filha: "Aquele que manda o óleo queimar," ele disse, "pode muito bem fazer com que o vinagre também queime."

Porém, de fato, há um dia entre os oito de Chanuká que recebe um nome especial. O último dia do feriado é conhecido como "Zot Chanuká," relacionado a passagem da Torá que começa assim "Zot chanukat hamizbe 'ach" ("Esta é a consagração do altar") que se costuma ler na sinagoga neste dia.

Fontes místicas judaicas consideram este dia como o último dia de reflexão durante os Dias de Temor que marcaram as semanas anteriores. Embora Rosh Hashaná seja o dia do julgamento e Iom Kippur a culminação dos nossos dias de arrependimento, há também outros períodos de julgamento de D´us com relação a nossas ações, como em Hoshana Rabá, o último dia de Sucot. E o derradeiro, de acordo com as fontes, é "Zot Chanuká".

Realmente este seria um dia apropriado para pensar e refletir com relação ao “sobrenatural” na natureza, aos milagres aparentemente mundanos. Então, por que chamaríamos de milagre se não fosse uma clara manifestação habitual de D´us? E do que se tratam os Dias de Temor senão um período em que Ele está fechado, quando Sua consciência está centralizada?

Então, talvez o último dia de Chanuká nos traga uma oportunidade excepcional para refletir sobre como, da mesma maneira que a onipresença e o que acontece na natureza pode nos enganar fazendo com que nos esqueçamos que tudo, na verdade, é a vontade Dele, as semanas decorridas após os Dias de Temor nos acalmam, e nos deixam num estado de descuido com relação a importância de nossas ações.

Neste caso, a última noite de Chanuká poderia ser um tempo particularmente apto para olhar as oito chamas queimando, trazendo luz e esclarecimentos ao mundo e conforme nos preparamos para voltar a escuridão, o que alguns consideram como um abandono de D´us, sabemos, mesmo assim, que, como sempre: "Sua glória preenche o mundo".

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