Corre pela internet a esdrúxula e fantástica notícia de que o famigerado ditador alemão Hitler "pode ter sido descendente de judeus e africanos". Trata-se de uma nota especulativa sobre um provável fato abordado por não poucos biógrafos dele. Até aí, nada de novo. A originalidade da teoria moderna é o estudo feito através do DNA, onde um determinado cromossomo encontrado em amostras de saliva de 39 parentes daquela patética figura é igual ao encontrado entre judeus.
Trata-se de um verdadeiro onanismo intelectual buscar esse tipo de conexão que, se levado a sério, nos levaria a identificar-nos, a todos, como primos genéticos daquele monstro. E meter os africanos nesta história tem ranços de racismo.
Um dileto amigo de ascendência sefaradi autorizou-me a publicar alguns de seus pensamentos, solicitando, ao mesmo tempo, que me abstivesse de citar seu nome. Para todos os efeitos, como é costumeiro, declaro que o nome do informante encontra-se devidamente arquivado na redação...
Escreve-me ele o seguinte: "Pois é, se for verdadeira a descoberta, que horror! Um Hitler com genética sefardi, mesmo um mamzer (bastardo), é algo de arrepiar os cabelos de qualquer ser humano com um pouco de suspeita sobre a existência de demônios... E armaram esse tipo de conspiração do Destino".
Não sou perito em assuntos médicos mentais, mas não posso deixar de expressar meu sentimento, e, permitam-me usar uma palavra técnica, de que me parece ser esquizofrênica a tendência que aflora em não poucos círculos judaicos, de busca e divulgação de aspectos escatológicos da História da Humanidade vinculados com o Judaísmo.
Por outro lado – e em contraposição –, a História Judaica é plena de relatos de judeus que se destacaram ostentando orgulhosamente a sua ascendência em relação a outros, e que foram aos maiores extremos, chegando ao ponto de realmente se transformarem em traidores e atuarem violentamente contra os próprios judeus, mesmo aqueles que tenham recebido "tecnicamente" a condição de judeus por procederem de uma mãe biológica judia.
Meu anônimo amigo de origem sefardi escreve-me, entre outras coisas, algo que faço questão de divulgar, no contexto do acima referido:
"Não sei se foi o caso de Tomás de Torquemada, que possivelmente era filho apenas de pai judeu, mas na Espanha tivemos figuras notórias de indisputável pertinência à coletividade israelita. Uma foi o Rabino Salomon HaLevi que, depois de convertido ao catolicismo na Catedral de Burgos em 1390, virou Pablo de Santa Maria, sendo guindado aos cargos de arcebispo e lorde chanceler dos Reinos de Castela e León. Em conjunto com outro converso, Gerônimo de Santa Fé (Joshua HaLorki), ele foi pelo menos omisso quando dos massacres de 1391, que afetaram quase todas as comunidades sefarditas, com particular intensidade as de Toledo e Sevilha.
"E o que dizer do próprio Rei Fernando II de Aragão, cossignatário do Édito de Expulsão em 1492 com sua consorte Isabel I, Rainha de Castela? Ele era bisneto, pelo lado materno, de Paloma de Toledo, uma judia que se convertera ao catolicismo e, então, pelos próprios critérios da Inquisição, cujo poder ajudou a reforçar na Espanha, se não estivesse protegido pelo cargo, ele poderia ser condenado por ter 'sangue impuro'..."
Acho que chegou o momento de colocarmos os pingos nos is sobre o que ocorre na época em que vivemos, onde judeus contemporâneos resolveram assumir posições violentas contra o Estado de Israel, mantendo opiniões que, afinal, como não poderia deixar de ser, acabam se transformando em verdadeiros ricochetes, atingindo seus irmãos onde estiverem, em Israel ou no exterior.
É claro e evidente que Israel e suas políticas podem estar sujeitos a críticas, como sói acontecer com relação a qualquer governo de qualquer país do mundo. A diferença está entre a crítica legítima e aquela que, rompendo os limites da lógica e da inteligência, passa a defender a tese da ilegitimidade da existência do Estado de Israel.
Simplesmente ignoram o direito, considerado universal, do Povo Judeu de delinear sua autodeterminação política, a qual resultou no Estado de Israel.
Chegou a hora de desmascararmos os Noam Chomsky, os Norman Finkelstein, os Max Blumenthal e outros congêneres que podem ser encontrados em cada esquina, nos lugares mais incríveis que se possa imaginar.
Vai uma grande distância entre a crítica legítima, repito, e juntar-se a grupos antissemitas, como o fizeram não poucos, e digamo-lo com todas as letras, inclusive alguns dos mais extremistas religiosos ortodoxos de Mea Shearim.
O gênio e a loucura judaicos caminham de braços dados desde longa data.
Marcos Wasserman é advogado em Israel, Brasil e Portugal, e é presidente do Centro Cultural Israel-Brasil em Tel Aviv. E-mail: mlwadvog@netvision.net.il
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Tel.: + (972)(3) 5226091 - Fax.: + (972) (3) 5241553
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