Autor: Iehuda Halevi
Páginas: 440
Um tributo de amor ao Deus de Abrahão e a Tsión, a Terra de Israel, O Cuzarí, obra-prima da literatura clássica judaica, é fruto do coração sensível e da mente privilegiada do Rabino Iehuda Halevi, erudito da Torá que viveu na conturbada Espanha do século XI. Suas palavras, como se escritas a ferro e fogo, desafiaram o tempo e atravessaram incólumes séculos de perseguições, opressão e violência.
O Cuzarí é um livro que reúne intelecto e emoção, moral e história. Mas, acima de tudo, é um livro sobre a essência da Emuna, a Fé em seu sentido mais amplo. Ele nos ensina que não basta entender ou sentir o judaísmo.
Fundamental é vivê-lo gloriosamente, em toda sua plenitude.
Nova edição, ampliada com quadros que sintetizam alguns dos tópicos mais importantes da obra. Formato 12x17 cm. Capa dura e fita marcadora.
Prólogo: O Sábio-Amigo
Já se passaram novecentos anos desde que esta maravilhosa obra, o
Sêfer Hacuzarí, foi escrita, e ela continua a ser um livro básico para o
estudo dos fundamentos da fé judaica e da Torá de Israel.
O Chidá (Rabino Chaim David Azulay), em seu livro “O Nome dos Grandes
(Sábios) de Israel”, descreve o Rabino Iehudá Halevi como “um poeta
magnânimo, que proclamava a sua poesia com total fervor frente a Deus…
com expressão cândida e prosa doce como o mel, fala cristalina e
aconchegante”. Muitas de suas poesias foram copiadas para o livro
judaico de orações. Sua maravilhosa poesia Tsión Halo Tishalí, um
cântico de saudades profundas pela Terra de Israel, encerra as
lamentações de Tishá be Av. Não conheço em toda a nossa literatura uma
poesia tão marcante de saudades por nossa terra.
No livro “O Cuzarí”, ele protesta contra o desleixo dos judeus da
Diáspora em tentar ascender à Terra de Israel, povoá-la e reerguê-la dos
escombros, tanto no passado, durante o período do Segundo Templo,
quanto em sua época (e mesmo agora, na nossa). A lenda popular descreve
as circunstâncias de sua trágica morte logo ao chegar na sua amada
pátria ancestral. Conta a tradição, que o rabino Iehudá Halevi pôs-se de
pé no convés do navio que o trazia de volta a Israel, enquanto este se
aproximava do porto de Jaffa, esperando com grande ansiedade o momento
de descer à terra. Logo ao chegar ao solo santo, pulou do navio e
deitou-se no chão, beijando e abraçando sua areia e e suas pedras. Assim
fizeram também os grandes sábios de Israel que o precederam, como o
Rabi Abahu e o Rabi Chia bar Gamada (Talmud, Ketubót 112). Um árabe que
passava por ali, montado em seu cavalo e sem compreender a cena, pensou
que o rabino estava louco. Com muita raiva, subiu sobre ele com o seu
cavalo, pisoteando-o até à morte.
O Gaon de Vilna despertou e estimulou seus discípulos a estudarem “O
Cuzarí”, “um livro santo e puro, cujos princípios de fé de Israel e da
Torá dependem de seu estudo” (Tosséfet Maassê Rav, parágrafo 15).
Um detalhe curioso e peculiar do livro é a forma como o rabino é
designado. Ele não chamado de “rabino” e nem mesmo de “sábio” ou “Gaon”,
e sim por um termo cujo significado é especial em hebraico e árabe e
que não pode ser plenamente traduzido para outros idiomas. Quem lês esta
obra em idioma estrangeiro perde muito de seu significado, devido às
nuances da linguagem do autor.
Neste livro, o judeu é chamado de Chaver, “amigo”, cujo significado
em hebraico é duplo. Na linguagem falada em nossos dias, quer dizer
“colega”, “companheiro”. O mesmo se dá no Pirkê Avot (1:6): “Adquire um
amigo.” Não obstante, esta palavra tem um significado adicional no
hebraico original: na época dos sábios da Mishná, os grandes eruditos em
Torá e minuciosos no cumprimento das mitsvót eram chamados de Chaverím
(Mishná, Demai 2,3). O Chaver (“amigo”) é um mestre, conselheiro e
orientador (ver o Rashi em Gênesis 45:8, com referencia a José, quando o
Faraó o nomeou chefe de governo). Chéver é um dos nomes de Moisés, pois
ele conectava o povo de Israel com seu Pai Celestial (Talmud, Meguilá
13).
Esta duplicidade idiomática foi bem empregue no livro “O Cuzarí”. As
respostas ao rei não foram dadas por um erudito ou académico,
enclausurado em sua torre do saber, ou por um génio totalmente
distanciado da compreensão das pessoas simples. O sábio judeu, mesmo
extremamente versado nos assuntos da Torá, soube falar ao seu
interlocutor de modo amistoso e caridoso. As respostas foram dadas “ao
nível dos olhos”, podendo ser compreendidas por qualquer um de nós.
Deste modo, é mais fácil “amigar-se” com o texto, entendê-lo e
aceitá-lo. Não se trata de uma palestra ou aula, mas, sim, de um
colóquio ameno e objectivo entre duas pessoas muito próximas
espiritualmente uma da outra.
Na tradução do texto ao português, não há como manter o significado
mais amplo da palavra Chaver, daí a opção pelo termo “Sábio”. Não
obstante, a lembrança do Rabino Iehudá Halevi nos lábio de todos aqueles
que estudarem e abraçarem seus ensinamentos, será sempre a do
“amigo-sábio”.
Rabino Moshe I. Bergman – Soc. Beneficiente Cultural Bnei Akiva de São Paulo