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As mulheres e o poder dos rabinos ortodoxos em Israel


O alto tribunal de Israel proibiu as mulheres, em 2003, de lerem a Torá na praça do muro ocidental. Hoje, a batalha das integrantes do grupo Mulheres do Muro reflete a forma como os judeus ortodoxos rechaçam o desafio que representam as organizações reformistas.

Por Jerrold Kessel e Pierre Klochendler

Jerusalém é uma cidade santa, mas amaldiçoada por essa mesma condição. A zona da esplanada das mesquitas, para os muçulmanos, ou o Monte do Templo, para os judeus, mostra as diferenças entre, e dentro de, cada religião. O muro ocidental, último pedaço do antigo templo judeu, tornou-se um símbolo de unidade quando, em 1967, Israel assumiu o controle da Cidade Velha, após a guerra árabe-israelense. O Monte do Templo deixa a descoberto as diferenças entre os próprios judeus israelenses e expõe as diferenças entre Israel e organizações judias liberais dos Estados Unidos.

O muro foi palco, em julho, de um enfrentamento entre polícia, judeus ortodoxos e uma organização de judias israelenses e norte-americanas por um lugar para praticarem sua religião. No judaísmo ortodoxo, as mulheres não têm espaço para orar. O incidente começou quando integrantes das Mulheres do Muro tentaram orar ali com a Torá, o livro sagrado do judaísmo, e a polícia deteve sua presidente, Anat Hoffman.

“Não fizemos nada de mau”, gritava, enquanto a polícia a arrastava para uma caminhonete. “Nos ajustamos à determinação do Supremo Tribunal. Não há motivos para me levarem presa”, continuou. Pressionado por rabinos ortodoxos, o alto tribunal de Israel proibiu as mulheres, em 2003, de lerem a Torá na praça do muro ocidental. Contudo, para evitar os contínuos protestos, o Tribunal determinou que poderiam se reunir em um local afastado. A parte conhecida como Arco de Robinson, que não está à vista dos fieis ortodoxos.

As mulheres travam uma luta política “fanática”, protestou o rabino responsável pelo muro, Shmuel Rabinowitz. “Pessoas de todas as confissões e de diferentes correntes judias são bem-vindas, mas devem respeitar os hábitos dos que costumam rezar aqui e se comportar como deve ser”, afirmou. “Apenas cantávamos e rezávamos com a Torá rumo ao Arco de Robinson para terminar nosso serviço”, disse Anat.

Não foi a primeira detenção dela e de outras integrantes da organização. Em janeiro, foi interrogada, tomaram suas impressões digitais e a ameaçaram com a acusação de ter cometido um crime grave. “Não são permitidas mulheres aqui”, diz um cartaz na entrada da seção reservada aos homens. Elas podem ouvir, mas não ver aos homens. Uma barreira da altura da cabeça cobre a visão. Trata-se de uma batalha de gênero entre judeus. Os ortodoxos exortam as mulheres que questionam a predominância masculina na religião a respeitar seu lugar.

“Hoje, as mulheres não podem carregar a Torá”, afirmou Anat. “Amanhã não poderemos olhá-lo e depois nem nos aproximarmos do muro. Quando acordarmos, Jerusalém estará segregada. Caminhamos para isso”, alertou. “Este é um lugar de unidade, não de discórdia ou polarização. Não nos esqueçamos que há dois mil anos o Templo de Jerusalém foi destruído por conflitos e ódios internos”, respondeu o rabino Rabinowitz. “Nossos inimigos se esforçam para deslegitimar o Estado judeu, e a mensagem das autoridades é deslegitimar o liberalismo dentro do judaísmo”, lamentou Anat.

A batalha das Mulheres do Muro reflete a forma como os judeus ortodoxos rechaçam o desafio que representam as organizações reformistas. As práticas liberais de Anat, líder do movimento judeu reformista em Israel, nunca criaram raízes neste país. As cerimônias são feitas por judeus ortodoxos, embora a maioria dos israelenses leve uma vida quase laica e recorra aos rabinos só em ocasiões importantes, como nascimento, morte, casamento, divórcio.

O incidente no muro ocidental coincide com o mal-estar dos judeus norte-americanos, por um projeto de lei apresentado ao parlamento israelense que dará aos rabinos ortodoxos o poder de controlar todas as conversões para o judaísmo em Israel. Na última hora, foi evitada mais uma discrepância, a última na cada vez mais tensa relação entre judeus norte-americanos e de Israel. As duas partes concordaram em esperar seis meses para uma “avaliação” da situação. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, evitou a crise ao declarar que o projeto de lei “poderia dividir os judeus”. Além disso, para buscar um acordo, encarregou Natan Sharansky, presidente da Agência Judia, responsável por estender pontes entre a diáspora no estrangeiro e Israel.

“Os judeus devem se unir quando a legitimidade de Israel está sob fogo”, afirmou Natan, uma frase comumente usada quando este país está com problemas. “Porém, Netanyahu reconhece que o “problema” vai além das diferenças religiosas dentro do judaísmo e que o verdadeiro desafio é lidar com o crescente mal-estar dos judeus norte-americanos com as políticas de seu governo, quando realmente precisa deste apoio.

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