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A balança digital e Rosh haShaná



© JANE BICHMACHER DE GLASMAN*

Na verdade, na Antigüidade, Rosh haShaná era época de Ano Novo não só judaico, mas para todo o hemisfério norte, quando se encerrava o ciclo anual agrícola, se fazia o balanço do ano, como fazem as empresas hoje, publicando balanços em jornais, etc

Isto explica, em parte, a simbologia do signo zodiacal - Balança - associado ao período (que nos indica que as ações do homem são "pesadas" na "balança" do julgamento durante este mês).

A partir do acréscimo de rituais, preceitos e símbolos judaicos e, principalmente, devido aos judeus terem continuado a comemorar a data até hoje, independente de localização espacial, Rosh haShaná ficou definido para todos como “O” Ano Novo judaico.

Rosh haShaná significa, literalmente, “cabeça do ano” remetendo à simbologia que o homem também deve usar a cabeça para organizar sua vida, suas ações.

A essência do ano novo judaico não é uma ocasião para o excesso e o júbilo incontrolado. Entra-se num período de reflexão e de auto-exame. A tradição judaica pede que se faça um balanço do ano que passou, uma reflexão sobre nossas atitudes e nosso comportamento. Tishrei, o mês de Rosh haShaná, em Aramaico significa correção. A reparação do passado permite que recomecemos a vida de forma nova e revigorada.

O período de tempo antes e durante Rosh haShaná pede uma auto-avaliação sobre o ano que termina, e, à luz deste exame de consciência, tomar as resoluções necessárias para o ano vindouro. Este período é não somente uma ocasião que exige um balanço espiritual, mas também uma profunda avaliação interior das capacidades que a pessoa tem, como ser humano - a coroa da Criação, pois Rosh Hashaná é o dia no qual o homem foi criado.

Este balanço é válido se a avaliação da plena extensão dos poderes e oportunidades da pessoa for correta. Somente então a pessoa pode realmente se arrepender, num grau mensurável, e resolver utilizar plenamente as próprias capacidades dali em diante.

A simbologia do balanço do ano é baseada na metáfora da balança.

As balanças são equipamentos desenvolvidos pelo homem desde as antigas civilizações egípcias, por volta de 5.000 aec , com a finalidade de medir o peso ou a massa dos corpos. A palavra balança é do latim bilanx (composto de bi - duas vezes, e lanx - pires).

Embora atualmente utilizemos modernas balanças digitais, que indicam o peso com maior precisão, a representação mais usada e primeira que nos ocorre, é a da balança de dois pratos – a “verdadeira”, etimologicamente falando. E que é a mais adequada ao simbolismo de Rosh haShaná. Por quê?

Devido a um motivo essencial: a balança digital começa a marcar do zero. Mas quando fazemos o balanço espiritual, seja de nossas vidas ou do ano que passou, por mais que tenhamos nos comprometido com um plano de ação no ano anterior, nunca começamos do “zero”.

Busca-se neste período, um balanço de vida, um acerto de contas, uma reflexão sobre o uso que estamos fazendo do tempo de nossa existência, de nossa potencialidade. Paramos para refletir quanto de nossa vida usufruímos e quanto deixamos de viver neste período que passou. Somos responsáveis por nossas prioridades e pelas oportunidades que a vida nos oferece. Confrontamos com nossas dificuldades e fraquezas. Avaliamos se as metas, os ideais, as intenções foram atingidas e realizadas. Se as promessas feitas a nós mesmos foram cumpridas, ou se as oportunidades de realizações e crescimento foram perdidas por medo, inseguranças, indecisões, etc.

O que fizemos com este ano? Foi um período de crescimento e interesse pelos demais? Fizemos bom uso de nosso tempo ou o esbanjamos, jogamos fora? Foi realmente um ano de vida ou um ‘passar de tempo’? Agora é a hora de nos avaliarmos e reordenarmos nossas vidas. Este processo é chamado Teshuvá, voltar para casa – reconhecendo nossos erros entre nós e D’us, bem como entre nós e nossos semelhantes. E corrigi-los.

O indivíduo que realmente consegue fazer um balanço da sua alma e distingue os processos internos que geram a distância entre intenção e a atitude, inicia uma Teshuvá, um “retorno”. Teshuvá é uma correção dos desvios de percurso, o retorno a um caminho de vida.

Em Rosh HaShaná rezamos pedindo para sermos inscritos no Livro da Vida, pedimos por saúde, por sustento. É o Dia do Julgamento. Mesmo assim, nós o celebramos com refeições festivas, na companhia de familiares e amigos. Como podemos celebrar quando nossas vidas estão penduradas numa balança? Definitivamente, confiamos na bondade e na misericórdia divina. Sabemos que D’us conhece nossos corações e nossas intenções, e com amor e sabedoria decidirá o que é melhor para nós, assim confirmando Seu decreto para cada um de nós, para este ano que se inicia.

Publicado em Visão Judaica nº 60, setembro de 2007

* Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica, Professor Adjunto, Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos –UERJ, escritora,em época de balanço.

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